Emanuel Bonfim de Abreu Franca – Engenheiro agrônomo – emanuel.agro@outlook.com
Thiago Feliph Silva Fernandes – Engenheiro agrônomo e mestrando em Produção Vegetal – Universidade Estadual Paulista (UNESP) – thiagofeliph@hotmail.com
A hidroponia é uma técnica que apresenta várias vantagens em
comparação aos sistemas de produção convencionais, mas não é um sistema isento
de danos econômicos decorrentes do ataque de insetos-pragas, sendo este um dos
principais problemas recorrentes dos produtores.
É possível que esse problema seja um dos maiores desafios no
cultivo protegido, principalmente pelo fato de o ambiente proporcionar as
melhores condições para desenvolvimento e reprodução de espécies-pragas e,
consequentemente, a redução da produtividade.
Em destaque
Entre os principais artrópodes/pragas encontrados no sistema
de cultivo hidropônico, os tripes são insetos pequenos e de ocorrência
nacional, que têm causado danos significativos, principalmente na fase juvenil
da planta.
De acordo com Cortez e Teixeira (2005), perdas maiores que
50% na produção ocorrem em baixas pluviosidades e em decorrência da negligência
no controle do inseto. Corroborando com esse entendimento, têm sido registrados
danos econômicos de 40% na cultura da alface (Lactuca sativa L.) em
outros países. Entretanto, estudos que estimam as perdas ocasionadas por tripes
para a alface brasileira são escassos (Colariccio, 2017).
O que é o tripes
O tripes (Thysanoptero: Thripidae), de acordo com
Medeiros e Villas Bôas (2012), é um pequeno inseto filófago, mas há também
espécies que se alimentam de fungos ou outros insetos e são de menor
importância agrícola.
Como são insetos pequenos (1,0 a 3,0 mm de comprimento), se
observa, primeiramente, os sintomas visuais ocasionados na planta. Como os
tripes se alimentam da seiva da região das folhas em desenvolvimento, no ápice
das plantas podemos observar aspectos prateados ou com queimas e, além de
pontuações escuras, é sinal de que há o vetor presente (Lima et al., 2016).
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O inseto pode ser observado a olho nu, mas dificilmente será
possível a distinção de qualquer parte anatômica específica, dadas as dimensões
do mesmo. Para essa distinção, pode ser usada uma lupa conta fios (aumento 10x)
em nível de campo e rapidez.
Entretanto, a forma mais indicada para identificação do
tripes é por meio da observação dos sintomas visuais ocasionados no vegetal,
pois o inseto poderá não estar presente in loco.
Os sintomas podem ser divididos em diretos e indiretos,
sendo o primeiro de menor importância agrícola. Os maiores danos são causados,
na verdade, por um vírus e é neste ponto que muitos produtores ficam confusos.
Ocorre que o tripes é vetor de uma série de vírus do tipo Tospovírus,
que é conhecido por causar a doença denominada popularmente de vira-cabeça.
(Lima et al., 2016). São os sintomas desta doença que podem ser usados na
identificação do ataque do inseto.
Identificando
Segundo Lima e colaboradores (2016), os sintomas diretos
podem incluir áreas de coloração esbranquiçada a prateada e zonas necróticas,
especialmente na parte interna das folhas, presença de pontuações escuras, os
dejetos do inseto; folhas jovens podem ficar deformadas, além de coloração
amarelo-esverdeada em situação de alta infestação.
Os sintomas indiretos
variam muito entre culturas, porém, podemos tomar como exemplo as duas
principais culturas hidropônicas produzidas no Brasil: a alface e o tomate,
ambas suscetíveis ao vira-cabeça.
Na alface, em estudos desenvolvidos por Lopes, Duval e Reis
(2010), observou-se que os sintomas se manifestam, primeiramente, no pecíolo e
no limbo das folhas jovens pela parte interna, onde aparecem pequenas lesões de
coloração marrom-clara, de bordas bem definidas, que escurecem com o tempo,
dando um aspecto rendilhado -à folha.
A doença pode ocasionar má formação na cabeça da alface e,
em casos de infecção precoce, causar a necrose generalizada das folhas, levando
a planta ao colapso, resultando na redução da produtividade.
Sintomas
No tomateiro, os sintomas visuais são plantas com folhas de
coloração bronzeada e, posteriormente, estrias negras no caule, além de frutos
de coloração verde, apresentando manchas amareladas e o broto principal curvado
(Madeiros e Vilas Bôas, 2012).
Em ambos os casos, as manchas causadas pela manifestação do
vírus podem facilmente ser confundidas com manchas de fungos, o que pode
induzir falsos diagnósticos. Logo, sempre é interessante ter cautela e analisar
o ambiente para se chegar a um diagnóstico assertivo.
É importante ressaltar que o fator clima pode ser utilizado
para identificação do organismo em uma tomada de medidas preventivas, com base
no histórico de ataques.
Períodos de ocorrência
A incidência do tripes é registrada em certas épocas do ano
em função do clima, em condições de baixas temperaturas associadas com estiagem
(Madeiros e Vilas Bôas, 2012). No entanto, para Lopes e colaboradores (2010), a
ocorrência está relacionada às estações mais quentes e com o índice de umidade
relativa elevado.
Já em outras culturas, como a uva, o comportamento do tripes
está associado ao ciclo da planta, e não ao ambiente.
Em cultivo em hidroponia da região nordeste paraense,
Emanuel Bonfim descreve que os ataques ocorrem mais nos meses chuvosos, que
coincidem com o verão no hemisfério sul, mas que na sua região é popularmente
chamada de inverno amazônico.
Por este motivo, é importante e aconselhável os registros
dos ataques, afim de ter um banco de dados com o histórico de ocorrência, para
melhor diagnóstico futuro, levando em consideração que os ataques e severidade
não são semelhantes entre as regiões.
Prevenção e controle
Em cultivos hidropônicos, é preciso seguir uma regra de ouro,
que é manter sua estufa limpa, de preferência desinfestando tubulações,
descontaminando substratos e evitando matéria orgânica no chão, o que evitará
maiores dores de cabeça não somente com as pragas (no caso o tripes), mas
também com doenças.
Da mesma forma, também deve-se fazer a limpeza das plantas
(remoção de folhas mortas). É uma tarefa cansativa, mas é importante e aliada da
procura por sintomas e insetos. Um único tripes não pode ser considerado uma
praga, mas sinaliza que ele está presente e é um potencial risco para sua
produção. Logo, a vigília constante de seus canteiros ou bancadas em busca de
sintomas ou insetos também é muito importante.
Constatada a presença desses organismos, é recomendado fazer
aplicações de produtos químicos e/ou alternativos, o que fica a critério do
produtor.
As medidas de combate são feitas atacando o inseto, e não o
vírus, pois é importante esclarecer que, segundo Lima et al. (2016), não
existem medidas curativas para o vira-cabeça. Logo, o produtor não encontrará
produtos químicos e/ou alternativos ao Tospovírus.
Em relação ao uso de produtos químicos utilizados pelos
produtores, é recomendada a utilização do grupo químico neonicotinoide.
Entretanto, é imprescindível a consulta de um profissional especializado na
área e/ou os engenheiros agrônomos, que direcionarão melhor o produtor.
Erros fatais
Sistemas hidropônicos recém-implantados, ou mesmo lavouras
convencionais, geralmente dispõem de um breve período onde as plantas crescem
livres de pragas. Isso pode causar uma falsa sensação de segurança para os
produtores.
Os tripes é uma praga de difícil constatação nas lavouras
recém-plantadas, mas que podem se instalar rapidamente se o manejo preventivo
não for aplicado (Medeiros e Vilas Bôas, 2012).
Provavelmente o tripes um dia aparecerá em seu plantio de
alface, e você deve estar preparado para pôr fim ao ataque logo nos estágios
iniciais. Neste contexto, o principal problema é a demora na ação dos
produtores, que por desinformação deixam a praga se consolidar.
Danos à produção
Os prejuízos causados pelos ataques de tripes vão da redução
do rendimento do sistema até a perda de bancadas inteiras, com o colapso das
plantas. Mesmo quando os danos são menores, dificilmente, as injúrias
ocasionadas nas folhas e/ou frutos serão bem aceitas no mercado consumidor.