Rafael Campagnol
Professor de Olericultura ” Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Giovani de Oliveira Arieira
Professor de Fitopatologia/Nematologia – UFMT
Elisamara Caldeira do Nascimento
Talita de Santana Matos
Doutoras em Agronomia ” Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Glaucio da Cruz Genuncio
Professor de Fruticultura ” UFMT
glauciogenuncio@gmail.com
Hidroponia ou cultivo hidropônico é toda forma de produção vegetal realizada fora do solo e onde a nutrição das plantas é feita, total ou majoritariamente, via solução nutritiva. No Brasil, o sistema hidropônico mais utilizado para produção de hortaliças folhosas é o NFT (NutrientFilmTechnique), enquanto que para hortaliças de fruto é o sistema em substrato (ou semi-hidroponia).
A produção de hortaliças hidropônicas está em amplo crescimento em todo território brasileiro, principalmente nos Estados do Sudeste, onde se localizam as maiores áreas de produção. Muitos dos entraves desse sistema de produção já foram pesquisados e solucionados. Contudo, ainda há muitos desafios a serem superados, muito deles relacionados a problemas fitossanitários.
A incidência de pragas e doenças em cultivos hidropônicos geralmente é menor em relação ao cultivo a campo, principalmente quando a hidroponia localiza-se dentro de uma estufa agrícola. Isso se deve ao maior controle das condições climáticas (principalmente à ausência de chuvas), à redução da entrada de insetos-praga (devido às telas laterais) e à ausência de solo no cultivo das plantas.
Além disso, as estruturas desse sistema de cultivo podem ser higienizadas e esterilizadas, reduzindo ou eliminando possÃveis fontes de contaminação. A facilidade no manejo nutricional que é proporcionado pelo cultivo hidropônico permite a obtenção de plantas bem nutridas e mais resistentes às pragas e doenças.
Porém, apesar dessas vantagens, falhas no projeto, na implantação ou no manejo do ambiente, erros na elaboração e manejo da solução nutritiva e falta de fiscalização e controle da entrada de materiais e pessoas no interior da estufa podem favorecer a incidência de pragas e doenças e, consequentemente, comprometer economicamente o cultivo.
Cuidadosfitossanitários
Muitos dos cuidados que os produtores hidropônicos têm que ter para evitar a incidência de pragas e doenças são os mesmos dos produtores que cultivam no solo em campo aberto, como por exemplo: uso sementes e mudas de qualidade, boa nutrição das plantas, uso de materiais genéticos resistentes, retirada de plantas atÃpicas ou com sintomas de doenças (rouguing), eliminação de plantas daninhas, dentre outras.
Como grande parte dos cultivos hidropônicos é realizada em estufas agrícolas, a incidência de muitas doenças é menor devido ao não molhamento das folhas pela água da chuva. Isso se deve, pois muitas doenças fúngicas e bacterianas se desenvolvem e causam problemas econômicos aos cultivos quando há água livre na folha. Além disso, os defensivos podem apresentar uma melhor eficiência devido à maior permanência na planta, pois não são removidos pelas chuvas.
Vale ressaltar que as bactérias patogênicas não conseguem infectar a planta diretamente e sua infecção está diretamente ligada à ocorrência de ferimentos, que são diminuÃdos em condições de cultivo protegido, principalmente por um menor efeito dos ventos, além de menor ocorrência de ferimentos por insetos.
Ainda, os patógenos radiculares e vasculares, principalmente fungos, têm no solo sua principal forma de sobrevivência, muitas vezes formando estruturas de resistência. Assim, em cultivo hidropônico esses patógenos têm uma redução considerável da fonte de inóculo inicial, ou seja, a quantidade de estruturas que podem dar origem ao ciclo inicial da doença.
Nutrição hidropônica
Como mencionado, em cultivos hidropônicos a nutrição das plantas é feita por meio de uma solução nutritiva. Por isso, falhas na sua elaboração (quantidade e proporção entre nutrientes) e no fornecimento (frequência de aplicação muito longa, problemas de energia, entupimento de tubulações, dentre outros) podem favorecer a incidência de pragas e doenças.
Além disso, esses problemas podem afetar o desenvolvimento regular das plantas e induzir o aparecimento de sintomas de estresse abióticos, como murcha, lesões foliares, deficiências nutricionais, cloroses, dentre outros sintomas que frequentemente são confundidos com problemas fitossanitários.
Esse fato pode induzir o produtor (o que frequentemente ocorre) a utilizar métodos de controle errados, como o uso de defensivos agrícolas, e não obter o resultado esperado.
Para se definir exatamente o problema ou se chegar o mais próximo das suas causas, o produtor experiente ou um profissional capacitado (engenheiro agrônomo, por exemplo) deve fazer uma análise criteriosa do sistema de produção, levando em consideração o máximo de fatores possÃveis, como características do material genético cultivado (susceptibilidade à doenças e distúrbios fisiológicos), a distribuição das plantas afetadas e sintomas, as características da solução nutritiva (fonte e dose de fertilizante, pH, condutividade elétrica), temperatura do ar e da solução, umidade relativa do ar, declividade e comprimento das canaletas, condição de limpeza do sistema, qualidade da água, etc.
É recomendado, em algumas situações, que amostras de plantas, solução nutritiva e água sejam enviados para análise a empresas especializadas para identificação de agentes bióticos que estão afetando o cultivo e, assim, permitir a correta recomendação de controle.
Vale ressaltar que a indicação de produto químicos (defensivos agrícolas) deve ser feita por um engenheiro agrônomo capacitado e com registro no CREA.
Alerta
Os principais problemas fitossanitários que ocorrem em cultivos hidropônicos afetam principalmente as raízes (contaminação da fonte de água) e, uma vez introduzidos são altamente favorecidos pelo sistema, pois o cultivo geralmente é mais adensado (a proximidade entre as plantas permite o contato das sadias com as contaminadas), a temperatura e umidade são mais favoráveis ao desenvolvimento do patógeno (a temperatura da solução nutritiva aquece com facilidade, principalmente no verão, beneficiando o desenvolvimento dos patógenos) e a solução nutritiva recircula, o que favorece a disseminação do patógeno em todo o sistema.
Essa matéria completa você encontra na edição de julho de 2018 da Revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira o seu exemplar para leitura completa.
Ou assine