Couve – Produção de no sistema orgânico

Couve  –  Produção de no sistema orgânico

Ainda que predomine o sistema convencional de produção no
setor hortifrúti, o cultivo em sistemas alternativos, como o orgânico, cresce a
cada ano devido a uma maior preocupação, por parte dos consumidores, com a
qualidade dos alimentos e com a preservação do ambiente.

Assim, vem crescendo a utilização de técnicas e processos
agrícolas que buscam integrar saúde, produção, preservação e lucro com o
intuito de diminuir o uso de materiais sintéticos e de alto valor energético,
os quais causam impactos ambientais, econômicos e sociais.

Aliado às necessidades de mudança, a sociedade, cada vez
mais preocupada com as questões ambientais, vem pressionando o sistema de
produção e conseguindo gerar alterações positivas no cenário agrícola do País.
O agricultor, que é impulsionado pelas exigências do mercado, volta a dar
atenção a valores antigamente utilizados e que vieram sendo deixados de lado
com a introdução dos pacotes tecnológicos.

A
couve

Destaca-se que, em média, os produtos orgânicos são
comercializados por um preço superior aos convencionais e que há menor
oscilação de preços ao longo do ano dos produtos orgânicos, permitindo maiores
lucros ao produtor. Apesar de não haver consenso, estima-se que o preço médio
da couve orgânica seja cerca de 30 a 50% superior ao da convencional.

Dentre as hortaliças produzidas no sistema orgânico,
destacam-se as brássicas como o grupo mais numeroso, sendo a couve-de-folhas
uma importante representante neste grupo.

Muito cultivada pela agricultura familiar, esta brássica sai
à frente por ser uma hortaliça muito consumida no Estado de São Paulo, no
Brasil e em todo mundo. Estatísticas mundiais estimam que a China seja o maior
produtor mundial de couves e outras brássicas, seguida por Índia, Rússia,
Coreia do Sul, Ucrânia e Japão.

No Estado de São Paulo, calcula-se uma área de produção de
1.788 ha, distribuídos praticamente em todo o território, com destaque para as
regiões de Sorocaba, Mogi das Cruzes, São Paulo e Campinas. Juntas, elas
representam em torno de 80% da área de produção paulista de couve-de-folha
(IEA, 2016).

Clima
e solo

A couve é uma espécie adaptada ao outono/inverno, tolerando
temperaturas baixas. Em regiões de grande altitude (acima de 800 m) pode ser
cultivada o ano todo. As temperaturas médias ideais são de 18 a 22ºC.

O manejo do solo no sistema orgânico de cultivo contribui
para sua qualidade na medida em que prioriza seu uso sustentável. Na
agricultura orgânica o solo é fundamental. Solo equilibrado, rico em matéria
orgânica e microrganismos benéficos é meio caminho para o sucesso da produção.

O revolvimento mínimo e a adição/reposição da matéria
orgânica, priorizados pelo sistema orgânico, contribuem grandemente para a
manutenção e melhoria das características químicas, físicas e biológicas do
solo, e consequentemente para sua qualidade. Além disso, como o manejo
“orgânico” preconiza o preparo conservacionista, as possibilidades de
compactação e erosão são reduzidas.

Não apenas na agricultura orgânica, mas também na
convencional, a adubação orgânica é muito importante, pois a utilização de
resíduos orgânicos, além de ser fonte de nutrientes, está diretamente ligada à
qualidade físico-química e microbiológica de um solo.

Seus efeitos podem ser sentidos já no primeiro ano de
aplicação, entretanto, é em longo prazo e associada a técnicas de conservação
do solo que a adubação orgânica vem apresentado excelentes resultados como, em
alguns casos, a produção de hortaliças sem ou com pouca necessidade de adubação
de cobertura, principalmente em culturas de ciclo mais curto, reduzindo o custo
com mão de obra, já que se elimina a necessidade desta adubação complementar em
cobertura. No entanto, isto só é possível em sistemas já equilibrados, em que o
solo já pode ser considerado rico em matéria orgânica.

Estes resultados só são possíveis porque a matéria orgânica
é capaz de fornecer “alimento” aos microrganismos presentes no solo, os quais
são os grandes responsáveis pela liberação de compostos e disponibilização de
minerais, os quais serão absorvidos pelas plantas.

Nutrição
natural

As plantas não se alimentam de matéria orgânica, e sim dos
minerais disponibilizados por ela. Há a necessidade destes microrganismos
benéficos que transformam o adubo orgânico em nutrientes que as plantas
absorvem para seu pleno desenvolvimento.

Além de fornecer nutrientes às plantas, via microrganismos,
a adubação orgânica pode reduzir a perda de nutrientes, como o nitrogênio e o
potássio, que, se aplicados apenas com adubos solúveis, podem ser rapidamente
perdidos por lixiviação, contaminando o lençol freático, principalmente em
períodos de chuvas mais intensas.

A matéria orgânica também ajuda a aumentar a capacidade de
troca de cátions, ou seja, aumenta a capacidade do solo em manter nutrientes
disponíveis às plantas, mostrando-se uma “poupança” de nutrientes para as
plantas. Deste modo, ao longo das incorporações estará sendo criado um
reservatório de benefícios físico-químicos e biológicos para o solo.

Solos ricos ou enriquecidos com matéria orgânica também
conseguem reter mais água, reduzindo os custos com irrigação e, no caso de
produtores que não tenham irrigação, reduzem as perdas por falta de água em
períodos de falta de chuva. No caso de falta de sistema de irrigação,
recomenda-se a utilização de cobertura morta sobre o solo. A matéria orgânica
também melhora a estrutura, o arejamento e a porosidade do solo.

Existem alguns adubos orgânicos que, além de serem uma
excelente fonte de nutrientes, também favorecem o manejo de doenças e/ou
pragas, como a torta de mamona, que apresenta propriedades inseticidas e
nematicida. Alguns adubos verdes podem reduzir a população de patógenos do
solo, como a Crotalaria spectabilis
no manejo de nematoides causadores das galhas.

Propagação

A couve pode ser cultivada praticamente durante todo o ano
em grande parte das regiões. Porém, nas regiões mais quentes o melhor
desempenho se dá no outono-inverno.

Sua propagação pode ser feita por sementes ou de forma
vegetativa (utilizando estacas/brotos). No segundo caso, as mudas são obtidas a
partir de brotos laterais de plantas sadias e enraizadas em canteiros, antes de
serem transplantadas para o local definitivo. As desvantagens deste sistema
são:

Ì Maior necessidade de mão de
obra, aumentando o custo de produção;

Ì Maior possibilidade de
transmissão de doenças, pois se a planta matriz (da qual se retiram as estacas)
estiver doente, todas as estacas poderão iniciar a produção com doença;

Ì Dificuldade de obtenção,
de uma única vez, de número suficiente de estacas com boa qualidade para
iniciar um novo plantio. Desta maneira, tem-se observado aumento na produção de
couve via sementes.

Escolha
das sementes

O primeiro passo para a produção de mudas por meio de
sementes é a escolha de cultivares adaptadas à região em que se deseja
produzir. Deve-se dar prioridade para aquelas que apresentem características
desejáveis, como alta precocidade e produção de maços, além de boas
características da folha (tamanho, coloração, textura), e conservação
pós-colheita.

Pela “lei de orgânicos” o produtor somente poderia adquirir
e utilizar sementes produzidas no sistema orgânico. No entanto, na falta desta,
as certificadoras permitem a utilização de sementes produzidas no sistema
convencional.

Semeadura

A semeadura deve ser feita em bandejas, devidamente
sanitizadas e preenchidas com substrato de boa procedência, isento de
propágulos de plantas daninhas e de fitopatógenos. Pode ser feito pelo próprio
produtor orgânico ou adquirido pronto, pois já existem substratos comerciais
certificados para produção orgânica.

Após o preenchimento das células da bandeja com substrato,
deve ser feito um pequeno orifício de 0,5 a 1,0 cm de profundidade no centro de
cada célula com auxílio de marcadores ou material perfurante, sendo, em
seguida, colocadas de uma a três sementes em cada uma.

Ao final, os orifícios são cobertos com substrato peneirado.
A colocação de mais de uma semente por célula vai exigir o desbaste, ou seja, a
retirada das mudas em excesso, deixando apenas uma assim que ocorrer a
emergência.

A emergência ocorre, normalmente, de três a cinco dias após
a semeadura. Viveiristas profissionais costumam utilizar somente lotes de
excelente qualidade, colocando apenas uma semente por célula para não
necessitar realizar o desbaste, economizando mão de obra e sementes. Desta maneira,
uma semente de boa qualidade, mesmo mais cara, pode sair mais barata.

O transplante ocorre quando as mudas estiverem com três a quatro
folhas (sem considerar as cotiledonares) no espaçamento que varia de 0,8 a 1,2 m
x 0,4 a 0,8 m.

Bandejas

Usualmente são utilizadas bandejas de 128, 162, 200 e 288
células, dentre outras, a depender dos critérios do produtor ou viveirista. As
bandejas com menor número de células requerem mais espaço dentro da estufa e
maior gasto com substrato para seu enchimento.

No entanto, seu uso pode ser interessante em algumas
situações devido ao favorecimento do sistema radicular das mudas, o que
beneficia o “pegamento” e desenvolvimento inicial das plantas no campo,
principalmente em situações de estresses e adversidades climáticas nessas
fases.

Manejo
de pragas e doenças

Dentre as pragas mais importantes da cultura da couve, a
traça-da-couve (ou das crucíferas) e os afídeos (pulgões) são as principais.
Outras pragas incluem vários tipos de lagartas, como a mede-palmo e a curuquerê.

As lagartas da traça-da-couve alimentam-se das folhas,
causando danos em forma de rede ou pequenos furos. Os afídeos sugam a seiva das
plantas causando o enrolamento das folhas, descoloração, crescimento deficiente
e até a morte das plantas. Os afídeos são importantes vetores de doenças
virais.

A podridão negra é a principal doença. Outras doenças
incluem a podridão mole e uma diversidade de manchas foliares, como
alternariose. A podridão negra causa lesões amarelas em forma de “V” nas margens
das folhas que se tornam castanhas ou pretas com o tempo. Pecíolos, caules e
tecidos radiculares das plantas doentes apresentam manchas pretas.

Dentre o manejo de pragas e doenças no sistema orgânico,
destacam-se as caldas alternativas (calda bordalesa, sulfocálcica, viçosa),
extratos vegetais, preparados biodinâmicos e homeopáticos, controle biológico,
entre outros.

_ Bordalesa: colocar 200 g de sulfato de cobre granulado em um saco
de tecido de algodão mergulhado em cinco litros de água fria ou morna ou deixar
o sulfato de cobre dissolvendo de um dia para o outro. Dissolver 200 g de cal
virgem ou hidratada em um balde com dois litros de água e completar o volume
para cinco litros. Despejar a solução de sulfato de cobre sobre a solução de
cal (nunca o contrário), e mexer bem para que a cal não se decante. Depois,
coar a solução e completar o volume para 20 litros.

_ Calda sulfocálcica: utilizar vasilha de ferro-lata sobre fornalha.
Diluir nesta vasilha 25 kg de enxofre em um pouco de água quente até formar-se
uma pasta. Depois, levar ao fogo completando o volume para 80 litros de água.
Quando iniciar a fervura, adicionar lentamente 12,5 kg de cal virgem na solução
e mexer sempre, deixando ferver por 50 a 60 minutos. Adicionar água à medida
que a mistura evapora durante a fervura e manter o nível final da solução em
100 litros. Quando atingir a coloração pardo-avermelhada, a calda estará
pronta. Depois que a calda esfriar, coar em tecido de algodão e medir a
concentração com aerômetro de Baumé para uma densidade de 32ºBaumé.

*Observações
importantes
: esta calda é altamente corrosiva, danifica recipientes de
metal, roupas e pele. Após a aplicação, todo o equipamento deve ser lavado com
uma solução de 1:10 de ácido acético (vinagre). Em cultivos protegidos, deve-se
utilizar 50% da dosagem recomendada para cultivos em campo. Não deve ser
utilizada nas culturas de abóbora, melão, pepino e melancia, e também sobre
qualquer florada.

_ Calda Viçosa: são necessários dois tambores de plástico de boca
larga (um com capacidade de 120 litros e outro de 50 litros). No tambor de 50
litros dissolvem-se, em 40 litros de água, 200 g de ácido bórico, 1.000 g de
sulfato de cobre, 200 g de sulfato de zinco e 600 g de sulfato de magnésio;
agita-se a solução até completa dissolução desses sais.

No tambor de 120 litros dissolvem-se 520 g de cal hidratada
em 60 litros de água, mexendo-se sempre com uma pá de madeira. Após obter as
duas soluções, verter a solução de sais sobre a solução de cal, agitando
continuamente até a completa homogeneização. Essa calda está pronta para ser
aplicada nas plantas (não é necessário o uso de espalhante-adesivo).

*Observações
importantes:
não se deve misturar outros produtos nesta calda; não deve ser
feita a aplicação em plantas da família das Cucurbitáceas; a aplicação deve ser
feita no mesmo dia do preparo da mesma.

Extratos
vegetais

As plantas vêm sendo largamente utilizadas para o combate de
todos os tipos de pragas e doenças, uma vez que produzem metabólitos
secundários que atuam na defesa das plantas, atração ou repulsão de insetos e
adaptação a diferentes ambiente.

A facilidade da elaboração de preparados faz com que a cada
dia surjam novas receitas e aplicabilidade. Entretanto, algumas plantas que se
destacaram passaram a ser comercializadas e mais comumente utilizadas, como é o
caso do extrato de neem (muito utilizado para diversas pragas), manipueira
(extrato de mandioca) (nematoides, ácaros, insetos,), cravo-de-defunto (insetos
e nematoides), o extrato de alho e cavalinha (míldio, pulgão, lagarta, etc.),
extrato de pimenta e extrato de primavera.

É importante ressaltar que a utilização do neem deve ser
feita de maneira controlada, uma vez que seu espectro de atuação é muito
grande, podendo também afetar a população de inimigos naturais.

Os principais compostos presentes nestes extratos,
responsáveis pela eficiência no controle de pragas, são os compostos fenólicos,
terpenos e compostos nitrogenados. Estas substâncias são antimicrobianas,
inseticidas, repelentes ou anti-helmínticas, podendo estar em formas de óleos
essenciais, resinas, alcaloides, flavonoides ou taninos.

Controle
biológico

Também tem sido muito utilizado em couve o controle
biológico de pragas com Trichoderma,
Trichograma
e Bacillus, existindo
produtos comerciais destes inimigos naturais.

Tratos
culturais

Recomenda-se a eliminação das brotações laterais, pois estas
competem com as folhas, reduzindo a produtividade. Atualmente, existem alguns
híbridos que quase não emitem estas brotações, o que reduz a necessidade de mão
de obra.

Se o produtor for fazer a multiplicação por estaquia, deve
deixar estes brotos crescerem. No entanto, a propagação via sementes é a mais
recomendada, conforme discutido anteriormente.

Cultivo
protegido

Atualmente, tem aumentado o cultivo de couve em ambiente
protegido. Neste ambiente, as folhas não são molhadas pela chuva, reduzindo a
incidência de manchas foliares, principalmente da podridão negra das
crucíferas, principal doença da couve e que deprecia as folhas para
comercialização.

Em regiões de clima ameno é possível produzir couve o ano
todo sob ambiente protegido, mesmo nas épocas das chuvas em que, normalmente,
os preços são maiores. Além disso, este sistema permite o abastecimento do
mercado de forma mais constante, pois reduz os riscos de perdas de produção.

Irrigação

A couve é muito exigente em água. O sistema mais comum é o
por aspersão. No entanto, este favorece o molhamento das folhas e a incidência
de manchas foliares, principalmente a podridão negra das crucíferas. O ideal
seria a utilização da irrigação localizada (gotejamento), o que é mais comum
nos produtores em estufa (cultivo protegido). Com este sistema localizado
pode-se realizar a fertirrigação (adubação + água), com a utilização de
biofertilizantes feitos na própria propriedade.

Cobertura
do solo

Principalmente em ambiente protegido, é comum a utilização
de plástico sobre o solo, o que favorece o manejo de plantas espontâneas e a
redução na necessidade de água. Em campo aberto também pode ser utilizada
cobertura morta com restos vegetais.

Consorciação
e rotação de culturas

Pequenos produtores orgânicos costumam realizar a
consorciação de culturas. Com isto, há melhor aproveitamento do solo e o
produtor colhe duas culturas na mesma área.

Sempre que for escolher uma área para instalar o plantio de
couve, deve-se evitar aquelas onde anteriormente foram cultivadas outras
espécies da mesma família, tais como couve-flor, brócolis, repolho, couve de
Bruxelas, rabanete, couve chinesa, dentre outras.

Colheita
e comercialização

Devem ser colhidas as folhas com tamanho comercial (geralmente
acima de 20 cm), sem defeitos aparentes. Pode ser feita a cada 07-10 dias,
podendo-se prolongar por vários meses, principalmente em regiões de clima mais
ameno e com bom manejo de pragas e doenças, além de adubação adequada.

A colheita é realizada retirando-se cada folha
individualmente, o que demanda grande mão de obra.

Em regiões muito frias, dependendo da cultivar, as plantas
podem florescer, perdendo o valor comercial. O produtor deve evitar tirar a
própria semente destas plantas, pois estará favorecendo a seleção de plantas
com florescimento mais fácil na próxima safra, além de não ter garantias da
sanidade destas sementes.

A comercialização normalmente é feita em maços. No entanto,
já existem produtores que vendem as folhas de couve já processadas em bandejas
de isopor cobertas com filme plástico, o que agrega valor ao produto.

Em média, o preço da couve orgânica é 30 a 50% maior que o
da convencional, podendo, em alguns mercados, passar de 50%, o que torna a
couve uma das espécies folhosas mais rentáveis ao pequeno produtor orgânico.

A couve pode ser consumida em diferentes formas, tais como
refogada (acompanhando a feijoada), na forma de farofa, sopas (caldo verde) e,
nos últimos tempos, tem aumentado o consumo na forma de suco.

“Tem sido muito
utilizado em couve o controle biológico de pragas com Trichoderma, Trichograma e Bacillus,
existindo produtos comerciais destes inimigos naturais”

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br