Critérios para um cultivo bem-sucedido de maracujá

Critérios para um cultivo bem-sucedido de maracujá

A qualidade da muda é fator primordial para a obtenção de
altas produtividades. O maracujazeiro pode ser propagado por sementes, estaquia
e enxertia. A produção comercial no Brasil é feita basicamente com mudas
propagadas por sementes. São utilizados dois processos: em sacolas plásticas ou
em tubetes. Atualmente temos disponíveis no mercado cultivares desenvolvidas
pelo Instituto Agronômico, Embrapa e Viveiro Flora Brasil.

Considerando que os dois principais problemas da cultura do
maracujá, a fusariose e o vírus do endurecimento dos frutos podem ser
propagados pelas mudas, é fundamental que na produção destas sejam tomadas as
medidas necessárias para evitar a infecção por fungos ou vírus.

Assim, as mudas de maracujá a serem adquiridas devem ser
produzidas em estufas fechadas com tela antiafídeo e de viveiristas registrados
no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

A
escolha

Deve-se dar preferência para mudas bem desenvolvidas, com
emissão de gavinhas, formadas em sacolas plásticas, com uso de substrato
industrializado, à base de casca de madeira e vermiculita, para reduzir os
problemas com doenças de solo e nematoides.

As mudas devem ser adquiridas de viveiros credenciados pelo
MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e inscritas no
Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). O uso de telados antiafídeos é
fundamental para evitar a infecção pelo vírus do endurecimento dos frutos.

Novidades

Nos últimos anos, diversas tecnologias estão sendo
incorporadas ao cultivo do maracujá como forma de contornar alguns problemas
fitossanitários. Entre elas, pode-se destacar o plantio de mudas altas e o uso
de enxertia.

No sistema tradicional, as mudas vão para o campo com cerca
de 30 cm nos meses de março/abril. No modelo de produção de mudas de porte alto
(mudão), as mudas podem ser levadas com mais de 1,5 m de altura nos meses de
julho-agosto e tem por objetivo retardar a entrada do vírus do endurecimento
dos frutos na lavoura. Nos dois sistemas as mudas devem ser produzidas em
telado antiafídeo, protegendo-as do pulgão, hospedeiro do vírus.

A enxertia é uma prática relativamente recente na cultura do
maracujazeiro, que aos poucos vem sendo adotada nos plantios comerciais.
Trata-se de uma técnica recomendada para áreas que apresentam problemas de
patógenos de solo, principalmente o Fusarium
sp. O método mais utilizado é o de garfagem por fenda cheia, pela facilidade de
realização.

Detalhes

Quando o produtor optar por produzir suas mudas na
propriedade, deverá adotar uma série de medidas para evitar o comprometimento
das mesmas. As sementes poderão ser obtidas junto aos órgãos produtores como
IAC, Embrapa, Epagri, Viveiro Flora Brasil.

O produtor deverá utilizar substrato industrializado, para
reduzir os problemas com doenças e utilizar viveiro protegido com telado
antiafídeo, para proteger do pulgão, hospedeiro do vírus do endurecimento dos
frutos. As mudas deverão ficar suspensas, evitando contato com o solo, para
evitar contaminação por patógenos.

Manejo

As mudas de maracujá advindas de sementes são formadas por
dois processos – o tradicional ou o sistema de “mudão”. No sistema tradicional,
as mudas produzidas em sacolas plásticas ou tubetes vão para o campo com cerca
de 30 cm nos meses de março/abril, coincidindo com o período de produção da
safra anterior, ou seja, a infecção precoce da planta resulta em queda de
produtividade e qualidade do fruto.

No sistema de “mudão” são produzidas mudas de porte alto, em
sacolas plásticas e em viveiros protegidos com telado antiafídeo. As mudas
podem ser levadas para o campo com mais de 1,5 m de altura até o mês de agosto,
após a colheita e a eliminação da cultura anterior. O objetivo é quebrar o
ciclo da doença e produzir o maracujá nos meses de dezembro a março, que é o
período de maior demanda de suco.

Opções
de cultivares

Existem diversas cultivares disponíveis no mercado, como aquelas
desenvolvidas pelo IAC, (IAC 273, IAC 275 E IAC 277). Suas sementes são
comercializadas pelo próprio IAC. São híbridos selecionados para qualidade de
fruto e produtividade.

As cultivares IAC 273 e IAC 277 são destinadas ao mercado de
frutas frescas, enquanto o ‘IAC 275’ é mais indicada para a agroindústria, por
produzir frutos de casca muito fina, coloração interna alaranjado-intensa e
teor de sólidos solúveis totais superior, entre 14 e 16ºBrix. 

A Embrapa disponibiliza as cultivares BRS Gigante Amarelo,
BRS Ouro Vermelho, BRS Sol de Cerrado e BRS Rubi do Cerrado. Elas apresentam
algumas características comuns, tais como: maior quantidade de vitamina C, bom
rendimento de polpa e frutos de dupla finalidade (indústria e mesa), além de
maior “durabilidade de prateleira”, por possuírem casca espessa.

As sementes das cultivares ‘FB-200 Yellow Master’ e ‘FB 300
Araguari’ são produzidas e comercializadas pelo Viveiro Flora Brasil, localizado em Araguari (MG).
O FB-200 destina-se ao mercado de frutas frescas.

A cultivar AFRUVEC-Sul Brasil foi selecionada para produzir
frutos grandes, direcionados ao mercado in
natura
e com polpa de coloração mais atraente, características também
encontradas na cultivar Catarina, registrada pela Epagri.

Cuidados

Recomenda-se retirar sementes de frutos maduros de diversas
plantas, a fim de evitar problemas de incompatibilidade, selecionar frutos de
plantas sadias, vigorosas e produtivas, que tenham frutos grandes, com alto
teor de sólidos solúveis e coloração alaranjada intensa. Após a retirada das
sementes, remove-se a polpa, efetuando-se a lavagem e secagem à sombra.

Outros métodos são recomendados, como a fermentação das
sementes por dois a seis dias, realizando-se em seguida a sua lavagem e secagem
à sombra ou utilizar o liquidificador, tomando-se o cuidado para não danificar
as sementes.

A semeadura poderá ser feita em tubetes ou sacolas
plásticas, utilizando-se substrato comercial à base de casca de madeira e
vermiculita. As mudas estarão prontas para o plantio no campo, após,
aproximadamente, 60 a 80 dias da semeadura.

Se optar por mudas enxertadas, esta deverá ser realizada 25
dias após a emergência das plantas, quando os porta-enxertos e enxertos
atingiram cerca de 06 a 08 cm de altura e uma a duas folhas definitivas,
utilizando-se do método de  garfagem tipo
fenda cheia. Como porta-enxerto (cavalo), tem-se recomendado a espécie P. gibertii, conhecido como maracujá de
veado.

Na execução da enxertia decepam-se os porta-enxertos abaixo
dos cotilédones, abrindo-se uma fenda longitudinal com cerca de 1,0 cm.
Procede-se, então, a retirada dos garfos, decepando-se as plântulas doadoras
abaixo dos cotilédones, fazendo-se uma cunha em bisel duplo de forma a expor os
tecidos do câmbio, utilizando-se para isso de uma lâmina de platina bem afiada
do tipo lâmina de barbear.

Na sequência, juntam-se enxertos e porta-enxertos, com
cuidado para coincidirem os tecidos cambiais e utiliza-se da fita plástica para
envolver a região da enxertia, protegendo-os, evitando-se o seu ressecamento
assim como o excesso de umidade.

Depois de enxertadas, as mudas deverão ser colocadas na
estufa com tela antiafídeo, colocando-se uma cobertura com tela de
sombreamento. Aos 25 dias retira-se a tela de sombreamento e aos 30 dias
retira-se a fita dos enxertos. O sistema de irrigação a ser adotado é o de
nebulização.

Técnica

As sementes de maracujá-amarelo apresentam uma dormência
temporária que tem sido superada com o armazenamento controlado por 30 a 40 dias.
O período ótimo de armazenamento das sementes, em geral, possibilita a obtenção
de índices de germinação superiores a 95%, valor que decresce cerca de 8% ao
mês. Como consequência, depois de seis meses de colhidas, as sementes normalmente
são descartadas.

Experimentos realizados pelo IAC demonstraram que sementes
de maracujá submetidas a tratamentos térmicos por imersão durante 15 minutos em
água aquecida a 35°C por 15 minutos promoveram 83% de germinação. Trata-se de
uma operação de fácil aplicação e baixo custo.

Enraizamento
de miniestacas

A técnica estudada pelo IAC é realizada com o objetivo de
melhorar o aproveitamento de plantas matrizes. Utilizar estacas menores
significa economizar material selecionado, quer seja de matrizes de elite de
lotes experimentais e de plantações comerciais, como até de espécies silvestres
em fase de extinção.

 São utilizadas
estacas mais curtas, com uma ou duas gemas e apenas uma meia folha, com cerca
de 05 – 08 cm de comprimento. São colocadas para enraizar no centro dos cubos
de espuma fenólica de aproximadamente 20 mm de aresta, previamente umedecidas
com água. 

Este sistema apresenta os seguintes componentes: bancada ou
suporte dos canteiros; canais de cultivo apoiados na bancada; reservatório para
solução nutritiva; conjunto moto-bomba e encanamentos (rede hidráulica) e
temporizador.

As miniestacas são mantidas em canaletas plásticas feitas a
partir de tubos de PVC, perfurados na parte superior a espaços regulares de 05
em 05 cm, pelos quais circula a solução nutritiva a partir de um reservatório,
acionada por bomba, em média, durante 10 minutos a cada meia hora, no período
diurno. No período noturno, o fluxo é desligado, para permitir a respiração das
raízes.

Viabilidade

A hidroponia constitui uma opção muito interessante para
enraizar estacas de maracujazeiro-amarelo, diminuindo quase um mês no período
necessário para esta finalidade, em comparação ao sistema tradicional. Outra
vantagem é o menor tempo que a muda fica exposta a condições de alta umidade,
muito propícia à contaminação por patógenos.

A hidroponia pode ser adotada com vantagens na estaquia de
matrizes comerciais de campos com escassez de plantas superiores, economizando
material propagativo, sem perda de qualidade e com bons índices de
aproveitamento.

Poderá vir a ser, também, uma efetiva contribuição à
multiplicação de passifloras nativas, em processo de extinção pelo
desmatamento, desde que se repita com elas o comportamento obtido com o
maracujazeiro-amarelo. Em programas de melhoramento genético, pode ser uma
ferramenta muito útil na multiplicação de plantas estratégicas, resultantes de
cruzamentos controlados.

Custo

Com exceção do tratamento térmico por imersão de água, as
outras técnicas acabam onerando a produção de mudas, por serem mais complexas
do que a produção da muda convencional.

São poucos viveiros que produzem e comercializam mudas de
maracujá enxertadas ou por estaquia, por tratar-se de uma prática ainda pouco
disseminada. Para a obtenção das mesmas, o produtor deve encomendar as mudas
com antecedência junto a um viveiro cadastrado no MAPA (Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Na região produtora da Alta Paulista, encontramos mudas
produzidas em tubetes sem enxerto a partir de R$ 0,50 e mudas enxertadas por R$
1,20.

Viabilidade

O benefício da adoção da técnica é a viabilização de áreas
com histórico da doença, o que com mudas normais não é possível, pois estas
morrem na fase produtiva do maracujá.

É importante observar que a enxertia não promove o aumento
de produtividade no maracujazeiro-amarelo em condições normais, ou seja, nas
áreas em que não tenham a ocorrência dos fungos de solo. Os ganhos de
produtividade só poderão ser observados em áreas com histórico da doença. Por
isso, atualmente o uso de mudas enxertadas só é recomendado para estas áreas. Entretanto,
o plantio de mudas de qualidade propicia lavouras mais produtivas, frutos mais
sadios e maior longevidade da cultura.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br