Glaucio da Cruz Genuncio
glaucio.genuncio@ufmt.br
Nilton Takagi
nilton@ic.ufmt.br
Doutores em Agronomia e professores – Universidade Federal de Mato Grosso
Roberto Perillo Barbosa da Silva
Doutor em Engenharia Elétrica e Pró-Reitor de Planejamento – UFMT
perillo@ufmt.br
Blueberry ou mirtilo é uma frutífera arbustiva que vem se destacando pela saúde e prosperidade, ou ainda como a fonte de longevidade humana, em função das suas características antioxidantes, as quais são importantes na prevenção de diversos tipos de enfermidades.
Destaca-se sua ação na prevenção contra diversos tipos de doenças, em função da alta concentração de antocianina, caracterizada pela sua cor azul-púrpura, além da presença de flavonoides e de resveratrol (dentre outros polifenóis), que atuam na redução de radicais livres e, consequentemente, na prevenção da síndrome metabólica, hipertensão, dislipidemia, catarata, glaucoma, diabetes, infecção urinária, mialgia, fadiga e determinadas doenças reumáticas, além de prevenir alguns tipos de câncer.
Diversificação da produção
O mirtilo (Vaccinium myrtillus) foi introduzido no Brasil na década 80, cujos primeiros cultivos foram observados na região sul do Brasil, em função da adaptabilidade das variedades a climas mesotérmicos ou a regiões subtropicais.
Segundo a Embrapa Clima Temperado, os primeiros experimentos conduzidos com o mirtilo foram em Pelotas (RS), a partir do cultivo de variedades oriundas da Flórida e pertencentes ao grupo Rabbiteye. É importante destacar que o mirtilo tem como origem a Europa e a América do Norte, ambas com clima temperado.
Por outro lado, após a adaptação do cultivo no Brasil, possibilitou-se a implantação de cultivos comerciais no sul, fato este que tornou esta região a principal produtora da fruta no território brasileiro.
Entretanto, no decorrer dos anos novas variedades foram desenvolvidas na Flórida, tais como a Emerald e Biloxi. Especificamente, a variedade Biloxi tem se expandido em regiões brasileiras cujas temperaturas são mais elevadas.
Expansão do cultivo
Atualmente, o mirtilo vem ganhando destaque em função de sua expansão nas regiões sudeste, nordeste e centro-oeste, devido à adaptabilidade da variedade Biloxi, que não é exigente ao frio hibernal, este definido pela necessidade de exposição do mirtilo a temperaturas menores que 7,5ºC, por 300 a 400 horas de cultivo.
Em função disso, a Biloxi é considerada uma variedade importante para a expansão do cultivo do Blueberry em regiões classificadas anteriormente com baixo potencial produtivo.
Por outro lado, a escolha da variedade adaptada às condições microclimáticas de uma dada região é um pilar no sistema produtivo. A construção de uma estrutura produtiva deve considerar outras variáveis agronômicas importantes, tais como: condições edáficas; topografia do terreno; disponibilidade hídrica; incidência de pragas; estrutura para aclimatação e rustificação das mudas adquiridas; principalmente se forem micropropagadas, e disponibilidade de mão de obra em função das diversas etapas do projeto, tais como: implantação, produção e colheita; pós-colheita e transporte.
Desafios técnicos
Um dos grandes desafios é a aquisição de mudas de boa qualidade. Porém, a oferta de mudas micropropagadas está aumentando, em função da expansão da cultura em diversas regiões do Brasil.
Por outro lado, a aquisição de mudas de raízes nuas gera a necessidade da construção de uma infraestrutura de recepção, aclimatação e rustificação. Assim, o produtor fará o plantio destas mudas em substrato. Para isso, existe a necessidade da projeção de ambientes capazes de fazer a aclimatação delas.
Para a construção destes ambientes, é necessário a aquisição de estufas de cultivo, com gradientes de radiação conseguidos com uso de diferentes sombreamentos e tipos de controle de irrigação.
Cabe ressaltar que, nesta etapa, a muda será formada, assim, o conhecimento técnico em relação à demanda nutricional e os diferentes tipos de poda são manejos necessários para que se obtenha uma muda de qualidade.
Paralelamente, existe a necessidade da implantação de um projeto que seja em uma área sistematizada, com pouca declividade e drenável, pois o mirtilo não tolera encharcamento.
Detalhes do cultivo
Apesar de o mirtilo ser adaptável ao cultivo a campo, a maioria dos projetos têm utilizado a hidroponia em substrato como sistema de produção. Em função disto, a escolha do tipo de recipiente e do substrato é um ponto importante para a implantação do cultivo.
De modo geral, o volume do recipiente tem variado entre 15 a 30 L e o substrato de maior aceitação é a fibra de coco com diferentes granulometrias.
É importante ressaltar que, para a escolha do substrato, deve-se levar em consideração a disponibilidade local e regional e o custo de frete, pois a aquisição é um fator que impacta o investimento inicial do projeto.
O projeto de fertirrigação é um ponto crucial na produção do mirtilo, pois sendo uma cultura técnica e de elevada exigência nutricional, o investimento em automação tem elevado custo-benefício.
Outro fator de extrema relevância a ser considerado é a necessidade de se construir um telado na área, cuja função é a proteção contra ataques de pássaros. Há relatos de perdas superiores a 70% em função disto, fazendo com que alguns produtores optem pela construção do telado posteriormente à implantação do cultivo assim que as plantas entram no estágio reprodutivo de floração.
A planta possui shelf life de até 72 hors no ponto de comercialização, após o armazenamento de 30 dias em câmara fria, a 1°C e a 90% de umidade relativa.
Estratégias de mercado
Expandir o cultivo de blueberries no Brasil pode ser impulsionado por várias estratégias de mercado, como por exemplo:
- Educação e conscientização do consumidor a partir do investimento no marketing do produto, objetivando a difusão dos benefícios nutricionais quanto ao consumo de blueberries;
- Desenvolvimento de produtos, em função da agregação de valor a partir da fabricação de derivados de blueberries, tais como: sucos, geleias, iogurtes e sorvetes, prática esta que possibilita a ampliação do mercado consumidor e aumentar o shelf life do produto;
- Formalização de parcerias com supermercados, feiras de produtores locais, mercados de agricultores, lojas de alimentos saudáveis e por plataformas de comércio eletrônico, com enfoque na permeabilidade de distribuição e aumento da acessibilidade aos consumidores.
Técnicas para manter a oferta
Além da busca da produção fora da sazonalidade, em função do desenvolvimento de técnicas de cultivo que permitam a produção de blueberries durante todo o ano ou aumentem a disponibilidade durante a entressafra de outras regiões do mundo, algumas iniciativas podem ajudar a manter a oferta constante e atender à demanda do mercado, tais como poda de frutificação e manejo nutricional da produção.
Também é importante a geração de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a partir da seleção contínua de variedades de blueberries adaptadas às condições edafoclimáticas tropicais, visando a melhoria de calibre e de características organolépticas do mirtilo.
A partir da obtenção de frutos de características que atendem às exigências mercadológicas, buscar a promoção dos agentes da cadeia produtiva (produtores, processadores, distribuidores e varejistas).
Outro ponto interessante é a busca da certificação visando não somente o público interno, mas a exportação, explorando oportunidades de exportação para países onde os blueberries são valorizados e têm uma demanda crescente, aumentando assim a base de clientes e a rentabilidade.
Custo de implantação
O custo de implantação de um projeto de mirtilo pode variar, dependendo de muitos fatores, como o tamanho da área a ser cultivada e quantidade de mudas, custos de infraestrutura, tipo do sistema de irrigação e a disponibilidade de mão de obra.
Em geral, os principais custos envolvidos em um projeto de mirtilo incluem:
1. Aquisição de mudas: os custos das mudas podem mudar, dependendo da variedade escolhida e da quantidade necessária em função área de plantio (densidade de plantas). A forma de plantio também impacta no custo, podendo ser feita em, por exemplo, recipientes com volume entre 10 e 40 L. Considerando o uso de substrato, vasos, rafia de solo e mudas, estima-se que esse conjunto fique em torno de R$ 45,00 a R$ 55,00 por planta.
2. Infraestrutura de fertirrigação: a instalação de sistemas de irrigação é essencial para o cultivo de mirtilos, especialmente em regiões com verões secos. Isso inclui custos com tubos, gotejadores, bombas e sistemas de controle;
3. Proteção contra pássaros: isso pode incluir a instalação de telas de sombreamento;
4. Manejo fitossanitário: o uso de produtos fitossanitários e a implementação de práticas de manejo integrado de pragas;
5. Pós-colheita: embalagem, rotulagem e transporte;
6. Custos operacionais: inclui mão de obra para plantio, poda, colheita e outras atividades culturais, bem como custos com energia, manutenção de equipamentos e outras despesas operacionais.
Planejamento é essencial
É importante realizar um plano de negócios detalhado e consultar especialistas em mirtilo e agronegócio para determinar os custos específicos do projeto, com base nas condições locais e nos objetivos do produtor.
Por exemplo, ao se considerar uma área de um hectare, existe a necessidade da aquisição de ao menos 6 mil mudas, cujo espaçamento é o de 2,5 m entre linhas e 0,6 m entre plantas, com valor de implantação estimado em torno de R$ 300 a 350 mil.
Assim, trata-se de um investimento relativamente elevado, mas que apresenta boas perspectivas de retorno, sendo que em torno de três a quatro anos já é possível obter o retorno do investimento.