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É sabido por todos que os produtos hidropônicos, além de mais saborosos, por não terem contato com o solo se mostram também mais saudáveis, livres de patógenos e agrotóxicos. Imagine o resultado ao se tratar das flores comestíveis
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Nutrição Mineral de Plantas ” UFRRJ
glauciogenuncio@gmail.com
Everaldo Zonta
Doutor em Agronomia – UFRRJ
Elisamara Caldeira do Nascimento
MSc em Fitotecnia – UFRRJ
A necessidade de diversificação da produção em hidroponia é constante, dada a profissionalização do setor e a garantia de preços mÃnimos dos produtos comercializados. Associado a este fator, o crescimento do consumo de flores comestíveis abre um mercado importante no setor de produtos hidropônicos.
Segundo a Epamig, a produção flores comestíveis no estado de Minas Gerais ocupa o segundo lugar no Brasil (São Paulo encontra-se no primeiro lugar) e esse mercado apresenta um potencial de expansão de cerca de 12% por ano.
O volume comercializado de uma única produtora, empresária que se especializou na produção de flores comestíveis, é de aproximadamente 12 mil molhos anuais, com a média de 20 unidades de flores comestíveis por molho. Esta produção é escoada para mercados específicos localizados em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Para estudo quanto ao escoamento de produção, valores comercializados e espécies mais requeridas, é altamente recomendável que se faça um estudo mercadológico baseado em um plano de negócios.
Espécies comestíveis
Visando a produção de flores comestíveis em sistema hidropônico e baseando-se em artigos cientÃficos publicados sobre este tema, pode-se verificar que a principal flor comestível pesquisada é a Capuchinha ou Nastúrcio (Tropaeo lummajus).
A capuchinha é uma planta que tem como centro de origem o Peru. Destaca-se pelo seu uso como planta ornamental desde o século XVI, quando foi levada, pelos espanhóis, ao continente Europeu.
Tanto a flor como os brotos da capuchinha destacam-se pelo crescente uso no preparo de saladas, principalmente associadas às saladas que utilizam alface e rúcula como base. Já em relação às suas características organolépticas, tais flores e brotos apresentam-se com gosto levemente apimentado, sendo rica em vitamina C, vitamina A e carotenoides. Os frutos ainda verdes também podem ser consumidos na forma de conserva, sendo as suas partes comestíveis de sabor picante e aroma suave.
Outra flor bastante apreciada é a flor de jambu, tipicamente brasileira, que destaca-se por ser muito consumida na região norte e nordeste (Acmella oleracea L.). Possui sabor intenso e diferenciado, que anestesia levemente a boca. É da flor que se obtém o princÃpio ativo que causa dormência na lÃngua e boca, ao se consumir o tacacá, prato típico da região Norte.
Outra flor comestível que merece destaque é a lavanda (Lavandula angustifólia). Devido à sua diversidade quanto aos usos culinários, é utilizada no preparo de biscoitos, bolos, cheesecakes, geleias, tortas e chá, dentre outros.
Já as violetas (Viola odorata) são, no Brasil, amplamente utilizadas para fins ornamentais, porém, podem ser usadas na confecção de saladas e geleias, via de regra.
Dentre outras flores, pode-se destacar a flor da aboborinha, utilizada na gastronomia para a decoração de pratos e no preparo de saladas e risotos. Destaca-se por ser rica em vitamina C, minerais, flavonoides e ácido salicílico. Por outro lado, as flores de amor-perfeito (Viola tricolor), hemerocallis (Hemerocallis sp), cravina (Dianthus chinensis), girassol (Helianthus sp), crisântemo (Dendranthema grandiflorum), tagetes (Tagetes patula), petúnia (Petunia sp), camomila (Matricaria recutita), dente-de-leão (Taraxacum officinalis), cebolinha (Allium fistolosum), trevo (Oxalis deppei), manjericão (Ocimum basilicum), alecrim (Rosmarinus officinalis), mostarda (Sinapsis alba), pepino (Cucumis sativus), rabanete (Raphanus sativus), cebola (Allium cepa) e de almeirão (Cichorium intybus) podem ter diversas utilidades, tais como: preparo de saladas, gelatinas, patês, sopas, sucos, chá, bolos, aromatizante, além do efeito da ornamentação do prato.
Fique atento
É importante ressaltar que as flores utilizadas na alimentação não são as mesmas comercializadas em floriculturas. As flores comestíveis devem ser produzidas de forma especializada e não se pode utilizar qualquer tipo de agrotóxico ou outro tratamento químico no seu cultivo, pois o tempo entre a produção e a comercialização é muito curto.
Além disso, é fundamental saber que não são todas as espécies que podem ser ingeridas. Existem flores que apresentam princípios tóxicos e não devem ser usadas na alimentação de forma alguma. Exemplos são a violeta africana (Saintpaulia ionantha), o copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica), a azálea (Rhododendron indicum), o bico de papagaio (Euphorbia pulcherrima) e o lÃrio (Euphorbia pulcherrima). Assim, é imprescindÃvel que se pesquise sobre o produto a ser produzido antes de iniciar qualquer trabalho.
Hidroponia para flores comestíveis
O custo de produção das flores comestíveis é alto. Tal fato deve-se à alta exigência por qualidade com o mÃnimo defeito apresentável. Assim, no processo produtivo aproveita-se, em média, apenas 30% da produção.
Foi daà que surgiu a ideia de se plantar em hidroponia, justamente visando reduzir as perdas e otimizar a qualidade dessas flores. O investimento em novas tecnologias relacionadas a estufas, telas, sistemas de irrigação e produção de mudas é um fator determinante para ampliação da renda do produtor.
Como o uso de agroquímicos deve ser nulo, os tratos culturais estão ligados à poda, limpeza da área, tutoramento das plantas, quando necessário, manejo da irrigação, temperatura e adubação, além da aquisição de sementes de qualidade. Neste aspecto, as sementes podem ser adquiridas dos mais diversos locais e produtores, incluindo produção própria.
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