Veridiana Zocoler de Mendonça – Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia – veridianazm@yahoo.com.br
Aline Mendes de Sousa Gouveia – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO), Ourinhos/SP – aline.gouveia@unifio.edu.br
O pimentão (Capsicum annuum L.) pertence à família
das solanáceas e destaca-se entre as hortaliças pelo grande volume
comercializado e por apresentar diversidade de cores, formas e sabores,
permitindo seu consumo “in natura” ou processado em forma de
conservas, molhos ou condimentos.
Atualmente, há grande diversidade de tipos de pimentões,
seja em relação ao formato, cor ou tamanho. Em relação à coloração, podem
variar dos tons creme ao quase preto, passando pelo amarelo, laranja, vermelho
e roxo. Em geral, esses materiais são de alta qualidade, com cotação de mercado
mais alta, garantindo, desta forma, maior retorno financeiro ao produtor.
Verde, amarelo ou vermelho?
Os tipos de pimentão mais conhecidos são o amarelo, verde e
o vermelho. Porém, o que nem todo mundo sabe é que esses três tipos são o mesmo
pimentão em fases diferentes de amadurecimento.
O pimentão verde é um fruto imaturo, por isso é totalmente
verde e tem um sabor mais acentuado. Deste modo, por ficar menos tempo em
cultivo, colhido antes do amadurecimento, geralmente é o mais barato.
O pimentão amarelo é um estádio intermediário no grau de
amadurecimento que sucede o verde e antecede o vermelho. Logo, o pimentão
vermelho é a fase mais madura, e por isso seu sabor é mais suave. Entretanto,
há cultivares com frutos maduros ou imaturos de várias outras cores, incluindo
laranja, amarelo, marrom-chocolate, roxo e branco.
Por exemplo, o fruto da cultivar “Purple Beauty” é verde,
passa pela coloração roxa e então, quando amadurece, torna-se vermelho. Há
também frutos que mesmo após o amadurecimento permanecem verdes, como é o caso
da cultivar ‘Permagreen’.
O pimentão roxo tem um sabor menos ácido que os demais,
sobressaindo seu sabor mais adocicado. São mais facilmente cultivados em climas
quentes e pouco úmidos. Em regiões com temperaturas médias entre 21°C e 30°C
podem ser cultivados durante todo o ano.
Em lugares mais frios com boa luminosidade e irrigação, o
cultivo em estufa torna-se uma opção viável. Vale ressaltar que dentre os
pimentões coloridos, o amarelo e, principalmente, o creme, como por exemplo cv.
Ivory, só podem ser cultivados em ambiente protegido em virtude da
suscetibilidade à queima dos frutos pelo sol.
Cultivo em estufas
O cultivo de hortaliças em estufas tem crescido e sido muito
utilizado para determinados nichos, como para produtos com valor de venda mais
elevado, a exemplo dos pimentões coloridos.
O ambiente protegido proporciona maior controle sobre as
intempéries climáticas. É uma alternativa muito interessante, pois há o
controle da entrada de chuva – quando até o dano mecânico pode afetar a
qualidade do produto que, além de diminuir a incidência de doenças e pragas,
facilita o manejo.
Pela possibilidade de manejar os nutrientes com mais eficiência,
a produtividade pode ser maior. É importante fazer uma análise do local de
implantação da estufa, incluindo as características do solo e fins de uso, pois
a estrutura é um dos principais custos envolvidos neste tipo de cultivo.
Oportunidade
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A possibilidade de se produzir o ano todo em uma estufa,
independente das condições climáticas, oferece a oportunidade de comercializar
em uma época onde os frutos de campo não estarão disponíveis no mercado,
proporcionando maior lucro.
Dessa forma, os picos se diluem ao longo do ano, fazendo com
que os preços praticados sejam mais previsíveis em função da demanda constante.
Atrelado a este fator, frutos diferenciados, como pimentões de coloração creme
e roxa, são atrativos de um novo perfil de consumidores que emerge,
potencializando o mercado de tais produtos vegetais.
Embora no Brasil utilizemos o que há de mais moderno em
tecnologia, nos Estados Unidos, Holanda e Israel, eles controlam desde a
temperatura até a concentração de CO2 na atmosfera dentro do cultivo
protegido.
No Brasil, o total controle encareceria demais a produção, e
os produtores ainda lutam para aumentar o consumo de pimentão colorido. Há o
controle da entrada de chuva, impedindo os danos mecânicos e o excesso de
umidade no ambiente, e diante disso a incidência de doenças tende a ser menor,
pois muitas bactérias incidem nessas condições, atrelado às temperaturas altas.
Pela utilização das telas anti-afídeo há, ainda, menor
ataque de pragas e, como muitos insetos são vetores de viroses, há menor
incidência de vírus.
Manejo e tratos culturais
O solo indicado para o cultivo de pimentão deve ser bem
drenado (livre de encharcamento), profundo, fértil, com pH entre 5,5 a 7,0. O
sistema de tutoramento é um dos principais pontos a ser decidido no cultivo do
pimentão em estufa.
Os mais comuns são o tutoramento em ‘V’ e espaldeira
simples. O tutoramento em “V” consiste em um par de mourões fincado nas
extremidades de cada leira e outro par no centro, de maneira a formar um “V”.
Já em espaldeira simples, um mourão é colocado nas
extremidades de cada leira e um outro no meio, de forma a estarem alinhados com
a fileira de plantas. À medida que as plantas crescem, em ambos sistemas,
fitilhos de plástico ou fios de arame devem ser colocados como suporte para as
plantas, cujas hastes devem ser periodicamente presas.
Os fitilhos ou fios utilizados na amarração das plantas
devem ser presos a varas de bambu e estas, por sua vez, presas ao arame
superior. Outros pontos a serem observados no manejo em estufas é o espaçamento
entre plantas, que pode variar de 25 a 50 cm, e o sistema de condução, que no
cultivo em estufas é recomendado a eliminação das brotações laterais abaixo da
primeira bifurcação e selecionar as hastes para condução, normalmente quatro.
Esta prática tem por objetivo reduzir o desenvolvimento
exagerado das plantas e facilitar o manejo na estufa.
Nutrição
No caso da nutrição de plantas, que é outro fator que tende
a aumentar a produtividade, por haver pouca ou nenhuma entrada de chuva e a água
que entra no sistema ser toda por irrigação, quase não há lavagem dos
nutrientes. Assim, os nutrientes permanecem ali disponíveis para as plantas.
Os fertilizantes utilizados em cultivo protegido geralmente
são um pouco mais caros. Porém, como as quantidades utilizadas são menores e
mais eficientemente utilizadas, há diminuição de custo.
Eficiência
O grande custo do cultivo protegido é a instalação da estufa
e do sistema de irrigação, que geralmente utiliza o gotejo, que nessa situação
é mais eficiente, embora seja mais caro. Assim, mesmo quando é preciso usar
defensivos, não há a lavagem tão rápida dos produtos, tornando a operação mais
eficiente, com menos aplicações e menor quantidade de produtos, resultando no
controle eficaz da praga ou doença.
A colheita, em cultivo protegido, inicia-se por volta dos
110 dias após o transplante das mudas. Os pimentões coloridos são colhidos por
cerca de seis meses e por ficarem mais tempo na planta acarretam redução de
produtividade.
No entanto, o contraponto é a procura significativa por
pimentões coloridos, que atingem preços maiores no mercado. Como são
comercializados maduros, a colheita deve ser próxima ao amadurecimento total do
fruto na planta.
Potencial de mercado dos híbridos
Existe hoje, no mercado, o predomínio de híbridos, que se
caracterizam pela resistência múltipla a doenças, alto vigor, produtividade,
precocidade de produção e uniformidade. Além de cultivares tradicionais de
frutos verdes (quadrados ou cônicos) e vermelhos quando maduros, há também um
grande número de híbridos de pimentão coloridos, em cores que variam do marfim
à púrpura, passando pelo creme, amarelo e laranja, e podem também apresentar
resistência a diferentes doenças.
A área cultivada com estes híbridos ainda é pequena, e as
sementes importadas correspondem a 1% do volume total de sementes de pimentão
comercializado no Brasil, sendo cultivados em estufas. Em média, o preço de
venda destas sementes é R$ 15 mil/kg.
Mais produtividade
O cultivo protegido traz vários benefícios, desde que seja
bem conduzido, com acompanhamento técnico. É bom lembrar que o uso excessivo de
fertilizantes e/ou defensivos é um grande vilão. O manejo inadequado da cultura
pode inviabilizar o cultivo protegido de pimentão em três anos, mas, se bem
conduzido, alcança produtividade de duas a três vezes maior do que o sistema a
céu aberto.
Cuidados
O principal cuidado com a irrigação deve ser a utilização de
água de boa qualidade e quantidade adequada da lâmina de irrigação, de acordo
com as necessidades da cultura. No caso especial da fertirrigação, é bom ter
cuidado quanto às doses de adubo utilizadas.
A utilização de água de baixa salinidade e a limpeza
periódica dos gotejadores (pois, invariavelmente há precipitações de sais, do
contrário pode haver entupimento e distribuição desigual de água pela estufa)
são cuidados fundamentais no cultivo protegido. É bom saber que as plantas bem
nutridas são mais resistentes ao ataque de pragas e doenças.
Outro manejo para diminuir a incidência de pragas e doenças
é evitar a monocultura espacial e temporal. No primeiro caso, é quase
inevitável, pois geralmente se planta uma cultura apenas. O problema é a
monocultura temporal, quando toda a vida útil da estufa acontece com o plantio
de apenas uma cultura e, inevitavelmente, há o aumento de incidência de
doenças, principalmente de solo, sejam elas fúngicas ou bacterianas.
Para evitar o problema, recomendamos a rotação de culturas,
a utilização de matéria orgânica de qualidade no solo, fazer o controle racional
de pragas e doenças, não aplicar inseticidas antes que apareça o problema,
fazer o acompanhamento do nível populacional de insetos, e só aplicar o
inseticida quando for atingido determinado nível de controle. É importante o
monitoramento da cultura quanto à incidência de doenças.
Existe outra possibilidade quanto às doenças de solo, que é
migrar do plantio em solo para o cultivo em substratos ou hidroponia. Pesquisas
realizadas com produtores de pimentão mostraram o surgimento de muitos
problemas associados ao uso excessivo de fertilizantes.
Observou-se, há pouco tempo, no Estado Goiás, um
empreendimento de 48 estufas com a maior parte produzindo pimentão, que a
utilização de muito adubo salinizou o solo, causou uma série de desequilíbrios
e inviabilizou a produção. O produtor tem que evitar esse problema, pois
solucioná-lo é muito difícil e oneroso.
Por isso, a adubação deve ser baseada na análise do solo e
na utilização do que a planta realmente necessita. É preciso cuidado para não
haver também temperatura e umidade excessivas, que podem facilitar a entrada de
doenças, como a murcha bacteriana.
Custo
Na implantação da técnica, os maiores gastos envolvem a
construção da estrutura da estufa e o sistema de irrigação. Entretanto,
inicialmente, havia um diferencial de preço do pimentão produzido em estufa
devido à valorização da qualidade do fruto.
A valorização do produto devido a sua forma de cultivo não
acontece mais, pois o mercado não diferencia o pimentão verde produzido no
campo ou na estufa, o que talvez seja explicado pelo alto nível tecnológico dos
cultivos e pelos híbridos utilizados que permitem obter produtos de excelente
qualidade nos dois ambientes.
O diferencial de preço é verificado para os pimentões
coloridos, atingindo 60-100% de incremento no preço de atacado, em plantios em
estufas, parte devido ao alto custo da semente e à necessidade de condução sob
condições ambientais adequadas. É necessário reduzir o ciclo da cultura a fim
de garantir frutos pesados de polpa espessa, conforme exigência do mercado.
Outro fator que altera o valor da produção é a embalagem de
comercialização. Os híbridos coloridos são comercializados preferencialmente em
caixas de papelão ou bandejas de isopor com 3,0 – 4,0 frutos embalados com
filme plástico, enquanto que para pimentões verdes são utilizadas as antigas
caixas tipo K, de madeira, resultando em menor custo de embalagem e também
menor preço no mercado.
Contudo, o produtor pode realizar a comercialização do
pimentão colorido em diferentes canais, podendo vender seu produto na porteira
a intermediários, feiras livres, associações e cooperativas de produtores,
Ceasa, no atacado e no varejo, em sacolões e supermercados.
No Brasil existem empresas, associações e cooperativas de
produtores que acondicionam o pimentão em caixas de plásticos e em bandejas de dois
a três frutos, em diferentes combinações de cores, a fim de criar uma
identidade visual do produto, o que confere maior valor agregado.
Custo-benefício
O cenário atual exige de técnicos e produtores cada vez mais
informações para a tomada de decisão. É preciso reciclar nossos conhecimentos,
agregando novidades importantes que contribuam para melhorar a rentabilidade
das atividades agrícolas.
Para auxiliar na tomada de decisão do plantio do pimentão
colorido, estudos de variação estacional, de margem bruta e de preços,
elaborados pelos serviços de pesquisa e extensão rural, nas diferentes regiões
do Brasil, têm mostrado comportamentos de preços altos, nos meses quentes e
úmidos (chuvosos).
Condições climáticas menos favoráveis vêm diminuindo a
produtividade e a oferta do produto no mercado. Por outro lado, preços baixos
praticados nos meses secos e frios, em virtude das condições climáticas serem
excelentes para a cultura do pimentão, vêm propiciando ótimas colheitas e
oferta do produto no mercado.
Há, também, os estudos de calendários de comercialização
elaborados pelas Ceasas existentes no Brasil, que têm como objetivo apontar as
flutuações da oferta e dos preços ao longo do ano, constituindo-se em um
importante instrumento de orientação às decisões dos produtores rurais,
profissionais da agricultura, pesquisadores, compradores e consumidores finais.