O Brasil apresenta uma matriz energética diversificada,
ganhando vantagem na produção de energias limpas das mais variadas formas em
decorrência das condições climáticas favoráveis, associadas à vasta extensão
territorial, e por sua ampla e diversificada produção agropecuária. Estas
condições, em conjunto com o desenvolvimento de políticas públicas,
financiamentos e de investimentos em pesquisas de novas tecnologias, tem
posicionado o Brasil em uma posição de destaque a nível mundial.
Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar
Fotovoltaica (ABSOLAR), o investimento no segmento de produção de energias
limpas é crescente, apesar de representar apenas uma pequena fração da matriz
energética brasileira. Ainda de acordo com a ABSOLAR, a micro e minigeração de
energia distribuídas em residências, comércios, indústrias e propriedades
rurais nos últimos seis anos passou de 0,4 MW de potência instalada para 464,5
MW. Neste período, a produção desse tipo de energia no campo passou de zero
para 32,4 MW de potência instalada, com tendência de crescimento contínuo e
boas perspectivas.
Formas
de produção de energia renovável
As principais formas de produção de energias renováveis são
por meio da energia eólica, produzida pelo movimento de grandes hélices
impulsionadas pelo vento (aerogeradores); energia hidrelétrica, gerada pela
força da água que impulsiona turbinas; energia solar, produzida pela radiação
solar; e energia gerada pela biomassa, obtida da matéria orgânica de origem
vegetal e animal.
Dentre estas opções para a produção de energias renováveis,
a energia solar é promissora no País devido às altas taxas de radiação
recebidas praticamente durante o ano inteiro. A forma mais comum de
aproveitamento da energia solar é a “térmica”, na qual coletores solares captam
a energia do sol que pode ser utilizada em sistema de aquecimento de água na
propriedade.
Outra forma de aproveitamento é a energia “fotovoltaica”, em
que a radiação solar é captada por meio de painéis compostos por células
fotovoltaicas confeccionadas de material semicondutor, como o silício, que
convertem a energia solar diretamente em eletricidade.
Benefícios
A utilização de energias renováveis, como a fotovoltaica, é
uma alternativa sustentável para pequenas, médias e grandes propriedades
rurais, e apresenta grande potencial de economia, visto que o custo da energia
convencional vem aumentando acima da inflação.
Em propriedades que utilizam quantidades elevadas de energia
elétrica, a economia resultante da adoção desses sistemas geralmente
corresponde à parcela do financiamento de implantação. Se bem dimensionado, o
sistema gerador de energia na propriedade rural pode levar à redução da conta
em até 95%.
Além da autossustentabilidade e economia financeira do
produtor de energia limpa, benefícios socioambientais também são proporcionados
pela redução do acionamento de fontes geradoras de energia à base de combustíveis
fósseis, como as termelétricas, auxiliando na redução dos impactos ambientais,
como a emissão de gases do efeito estufa.
Os sistemas geradores
de energia distribuída localizados próximos aos polos de consumo (cidades
vizinhas) possibilitam, ainda, benefícios como a melhoria do nível de tensão da
rede no período de carga pesada, evitando a interrupção do fornecimento de
energia.
Em propriedades rurais localizadas no interior do País, onde
o fornecimento ininterrupto de energia seja necessário em sistemas produtivos,
a instalação de painéis solares fotovoltaicos passa a ser uma estratégia
promissora para que não ocorra interrupção no fornecimento de energia.
Em
campo
Os painéis fotovoltaicos podem ser distribuídos nos telhados
das casas e demais estruturas da propriedade rural sem causar perda de área
produtiva para sua instalação. Em sistemas agrícolas produtivos, a instalação
de placas solares fotovoltaicas para a geração de energia passa a ser útil para
uma infinidade de atividades, desde a captação de água em poços artesianos,
represas ou lagos reservatórios, até a irrigação, seja ela por meio
semiautomatizado ou automatizado, como pivô central.
Podem ser utilizados para iluminação de estradas e galpões
de armazenamento, secadores de grãos, desidratadores de alimentos como frutas,
carnes e peixes, bombeamento de água, cercas elétricas, ordenhadeiras,
ensiladeiras, além das residências rurais.
Casos de sucesso também ocorrem na utilização de energia
solar fotovoltaica para a produção e beneficiamento de cereais como arroz,
milho, cevada, aveia, dentre outros, além de outras atividades, como produções
hidropônicas, que utilizam motores e bombas elétricas constantemente para a
circulação e aeração da solução nutritiva.
A implantação de sistemas geradores de energia fotovoltaica
tem proporcionado uma redução considerável nos custos de produção, além da
garantia de que não ocorrerá falta de energia durante o processo.
Erros
mais frequentes
Por se tratar de projetos personalizados às necessidades de
cada propriedade rural, esses sistemas geralmente exigem estudos e conhecimento
técnico específico para que possam ser dimensionados corretamente.
Falhas em qualquer etapa do projeto afetam a produção de
energia e, consequentemente, a atividade agrícola, principalmente em regiões
onde a geração depende única e exclusivamente da energia gerada na propriedade.
Em âmbito nacional, algumas barreiras, como a agilidade na aprovação de
crédito, acesso à informação sobre financiamentos e a dificuldade na escolha de
linhas de crédito ainda são desafios que necessitam ser superados.
A escolha de empresas especializadas e certificadas e com
profissionais qualificados no assunto é o primeiro passo a ser tomado quando se
deseja instalar um sistema de geração distribuída. A partir de então, um
planejamento pensando a curto, médio e longo prazos é fundamental para o
sucesso da atividade.
Cuidados especiais devem ser tomados com relação ao custo x
benefício do sistema gerador mais adequado às características específicas da
propriedade, finalidade do sistema gerador, seja para produção de energia para
o próprio consumo ou única e exclusivamente para a comercialização, tipo e
tecnologia dos equipamentos necessários, valor da tarifa à qual a unidade
geradora estará submetida, assim como as condições de financiamento do projeto.
A análise de tais características reduz as possibilidades de
insucesso, garantindo a estabilidade e aproveitamento em plenitude dos
benefícios dessa atividade.
Versatilidade
Quando o sistema gerador de energia renovável está
interligado às redes distribuidoras das concessionárias, geralmente ocorre o
sistema de compensação, no qual a energia ativa injetada pela unidade geradora
distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e,
posteriormente, compensada com o consumo de energia elétrica ativa.
Isto é, quando a quantidade de energia gerada for superior à
necessidade consumida durante o mês, o produtor ficará com créditos denominados
de “autoconsumo remoto” que podem ser utilizados em épocas de menor geração e
maior consumo na propriedade rural, ou ainda serem revertidos em dinheiro.
Os créditos de “autoconsumo remoto” são válidos por um período
de 60 meses, podendo ser utilizados no abatimento do consumo de outras unidades
consumidoras do mesmo proprietário. No entanto, é necessário que as unidades
consumidoras distintas estejam dentro da área de atendimento da mesma
concessionária distribuidora.
Outra opção de uso de energia limpa é denominada de “geração
compartilhada”, onde cooperativas ou consórcios que possuam unidades de geração
de energia distribuída possam utilizar a energia gerada no abatimento de
faturas dos cooperados ou consorciados.
Custo
x benefício
Programas com diferentes linhas de crédito oferecem taxas de
financiamento acessíveis aos produtores rurais, com longos períodos para a
quitação. Segundo a ABSOLAR, no ano de 2018 os projetos voltados à geração de
energia solar fotovoltaica movimentaram R$5,1 bilhões em financiamentos pelos
principais bancos de desenvolvimento do País, sendo a maioria das linhas de
financiamento voltadas a projetos de até 5 MW.
Em média, um projeto de geração de energia fotovoltaica que contemple
o consumo de energia de uma casa com quatro pessoas (sistema de 3,3 kWp) custa
aproximadamente R$ 20.000, já inclusos todos os equipamentos necessários,
homologação e instalação. Supondo que o consumo nesta residência seja de 700
kWh e que o valor de cada kWh na área rural custe R$ 0,75 e adicional tarifário
de consumo de R$ 1,00 a cada 100 kWh, a conta de energia mensal seria de R$ 531,00.
A economia a partir do primeiro mês da instalação do sistema
fotovoltaico seria de R$ 491,00; sendo o único valor pago de R$ 40,00
correspondente à taxa de disponibilidade mínima, que varia de acordo com o Estado.
Com uma economia de R$ 491,00 por mês, anualmente ocorreria a economia de R$
5.892,00, em que, em um período três a quatro anos, o capital investido na
instalação (R$ 20.000,00) seria recuperado.
Com um tempo de vida
útil das placas fotovoltaicas acima de 35 anos, seria possível economizar
pagando apenas a tarifa básica por aproximadamente 31 anos, visto que o custo
com a manutenção de um sistema de boa qualidade é irrisório, demonstrando ser
extremamente viável a utilização dessas tecnologias para a geração de energia
no campo.