A Embrapa Florestas e a Fundação Solidaridad estão
desenvolvendo o projeto “Análise de sensibilidade de sistemas de produção de
erva-mate com ênfase para o balanço de carbono, produtividade e renda”, para
estimar o balanço de carbono de dois sistemas produtivos de erva-mate: adensado
e a pleno sol. Esse tipo de estudo é inédito para a cultura da erva-mate.
O objetivo é projetar cenários e identificar quais variáveis
agronômicas exercem maior influência na mitigação das emissões de gases de
efeito estufa (GEE) com os sistemas estudados, contribuindo para a adaptação e
aumento da resiliência climática dos sistemas produtivos mais usuais para o
cultivo da erva-mate, frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Os estoques de carbono dos ervais avaliados também serão
correlacionados às performances produtivas e de geração de renda por meio de
uma análise de viabilidade econômica.
Iniciado em outubro de 2021, o projeto abrange propriedades
rurais localizadas nos municípios de Cruz Machado e Bituruna, no Paraná. Todas
as propriedades são de pequeno ou médio porte e implantaram o erval há mais de
dez anos. Os demais critérios técnicos de seleção das propriedades
estabelecidos foram o tipo climático, solo, posição da paisagem, declividade e
sistemas de cultivo e manejo dos ervais.
Características próprias
Como explica Marcos Rachwal, pesquisador da Embrapa
Florestas responsável pelo projeto, “cada sistema de produção tem
características próprias que certamente influenciarão a emissão de gases de
efeito estufa e o sequestro de carbono. Assim, será possível avaliar as fontes
de emissão ou captura de carbono, considerando variáveis como a produção de
biomassa; altura média das plantas de erva-mate; percentual de sombra;
densidade de plantio; sistema de poda e destinação do resíduo; práticas de
manejo do solo e utilização de insumos”.
Com isso, será possível quantificar o balanço de carbono do
cultivo de erva-mate e entender como estes sistemas de produção podem
contribuir no cenário das mudanças climáticas.
Segundo Josileia Zanatta, também pesquisadora da Embrapa
Florestas, “existe demanda por um maior entendimento sobre a relação da
produção da erva-mate com a mitigação de emissões de gases de efeito estufa,
por meio do armazenamento de carbono, podendo ser também importante informação
para gerar estratégias de agregação de valor a erva-mate num futuro breve”.
O engenheiro agrônomo Gabriel Dedini, coordenador de
projetos da Solidaridad, complementa que “demonstrar o potencial agroclimático
da erva-mate proporciona ao setor a possibilidade do desenvolvimento de
estratégias e ações para atrair investimentos e projetos, dentro de
perspectivas globais de atuação. Porém, ainda mais importante é a contribuição
do estudo para demonstrar a viabilidade de modelagens agronômicas
climaticamente mais eficientes, na mesma proporção que rentáveis, com o intuito
de preservar o futuro, de uma dentre as mais importantes cadeias da nossa
sociobiodiversidade”.
Produtividade e renda
A erva-mate é o principal produto florestal não madeireiro
da região sul do Brasil. Segundo dados do IBGE, o Estado do Paraná, onde
acontece o projeto, em 2019 foi responsável por praticamente 60% da produção de
erva-mate do País. Do total de 939.580 toneladas, 559.408 foram produzidas no
Estado.
Os sistemas com erva-mate também serão analisados
financeiramente, com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e financeira
de cada sistema de produção ao longo de 20 anos. Além de conhecer os principais
indicadores financeiros, como valor presente líquido, tempo de retorno do
investimento, relação benefício-custo, entre outros, o agricultor precisará
organizar suas atividades de campo e planejar suas atividades de manejo e a
melhor forma de comercialização.
Segundo o pesquisador Marcelo Arco Verde, da Embrapa
Florestas, “após a realização das análises financeiras, os sistemas com
erva-mate passarão por simulações de cenários onde o agricultor verá o
comportamento da erva-mate diante de variações nos custos de mão de obra e
insumos, variações nos preços de venda e variações na produtividade e perdas
nas podas de colheitas. Após analisar as várias opções apresentadas, o
agricultor poderá escolher como cultivar a erva-mate de acordo com seu perfil
de trabalho”.