Solução para aquecimento global
Novos
mapas de estoque de carbono orgânico do solo do Brasil vão contribuir para a
descarbonização da agricultura brasileira.
Os solos têm um papel crucial na produção de alimentos,
fibras e energia, bem como na mitigação das mudanças climáticas, e os mapas
ilustram o conhecimento do País nessa área. De acordo com dados apresentados
pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o
Brasil ocupa o primeiro lugar entre os 15 países que detêm o maior potencial
para estocar carbono no mundo, e investir em estudos do solo é fundamental para
as políticas de descarbonização da agricultura brasileira.
“Os novos mapas são uma linha de base para saber o que temos
de carbono estocado nos solos do País, contribuindo, dessa forma, para diversos
estudos, como o Programa ABC+, onde já são usados, e em outras políticas
públicas. Permitem identificar áreas degradadas, quando a matéria orgânica não
está mais presente, áreas com grandes estoques de carbono, mas com alta
vulnerabilidade às mudanças climáticas, como as de mangue e solos orgânicos,
além de potencial para gerar mapas de potencial de sequestro de carbono, entre
outros usos”, diz a chefe geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça
Santos Brefin.
A importância dos solos agrícolas para a mitigação das
mudanças climáticas se deve ao fato de que funcionam, ao mesmo tempo, como
fonte e sumidouro de carbono. Quando mal manejados, emitem CO2 para
a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, por ser um dos Gases de
Efeito Estufa (GEEs).
Mas o seu papel mais importante, como sumidouro, é
sequestrar o carbono da atmosfera e estabilizá-lo na matéria orgânica do solo.
Com os novos mapas, é possível diferenciar áreas com maiores e menores estoques
de carbono, auxiliando o Brasil a cumprir os compromissos que assumiu na agenda
global de redução de emissões de GEEs.
Com o avanço do PronaSolos, espera-se obter mais dados sobre
o carbono orgânico dos solos brasileiros e gerar novos mapas em escalas mais
detalhadas que permitam o planejamento e ações em municípios e bacias
hidrográficas.
Ecossistema
O solo é um dos cinco reservatórios de carbono orgânico do ecossistema terrestre e é responsável por cerca de dois terços de todo o reservatório global. Assim, a preocupação com o planeta – em termos de segurança alimentar, geração de renda e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas – deve começar pelo solo, sobretudo porque um terço dos solos do mundo encontra-se em processo de degradação, segundo dados da FAO.
Cabe aos gestores e tomadores de decisão gerar políticas
públicas que possam manter e aumentar a matéria orgânica contida nos solos.
“Esse é um passo muito importante para a descarbonização da agricultura do
País”, enfatiza Maria de Lourdes. “No Brasil, estabelecer uma governança
corporativa e trazer o solo para a agenda global são resultados de um esforço
de mais de duas décadas”, acrescenta.
Mapas trazem informações inéditas
“A partir dos anos 2000, o mapeamento digital de solos –
abordagem utilizada para produzir os mapas de carbono do solo – ganhou destaque
no mundo. E até 2018, quando foi decretado o PronaSolos como programa de
governo, foi um longo caminho”, revela Gustavo de Mattos Vasques, chefe de
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos e líder da equipe que elaborou os
mapas.
“Vale lembrar que em 2017 foi lançado um mapa global de
estoque de carbono orgânico do solo com participação brasileira. Naquele ano,
tínhamos um mapa de estoque de carbono orgânico do solo de 0 a 30 centímetros
de profundidade. Agora esses mapas estão sendo lançados com um quilômetro de
resolução espacial com profundidade de até um metro”, compara Vasques.
De acordo com ele. esses mapas estão numa escala que varia
de 1:100.000 até 1:250.000, destrinchados em seis camadas: 0 – 5 cm, 5 – 15, 15
– 30, 30 – 60, 60 – 100 e 100 – 200 cm.
O carbono estocado de 0 a 30 cm tem muito a ver com manejo e
uso agrícola do solo, de 30 cm até um metro está muito ligado ao alcance das
raízes, que aportam matéria orgânica e carbono ao longo do tempo nessa
profundidade, de acordo com o uso e manejo do solo e com as condições
ambientais do local.
“Até dois metros, informação inédita no Brasil, tem a ver
com o carbono estocado há muito tempo, que desceu até essa profundidade, além
de raízes profundas e outros fatores que constantemente modificam esse carbono.
Como o País tem solos muito profundos, conhecer esse estoque é muito
importante”, revela o pesquisador.
Observando os mapas é possível ver que o Sul e a Amazônia
possuem maior quantidade de carbono. No Sul existe um grande bolsão com altos
estoques de carbono nas serras, com solos formados com materiais mais ricos,
como o basalto, em locais planos de altitude. Esse ambiente propicia o acúmulo
porque a degradação é mais lenta por causa do frio, ao mesmo tempo existe uma
boa produção de massa vegetal.
Já na Amazônia, a produção de massa vegetal e a
produtividade primária são muito grandes. Apesar do clima quente e do excesso
de chuva, que promovem a degradação, a ciclagem de nutrientes é intensa,
promovendo o acúmulo de carbono no solo.
Como contraste, temos o Pantanal, com solos mais arenosos.
Apesar da grande quantidade de solo alagado, esses solos acumulam muito pouco
porque não têm material argiloso onde o carbono pode ficar retido, então ele é
perdido nas chuvas.
Os cientistas mediram esses estoques de carbono usando
informação geoespacial de relevo e clima, como elevação, formato de fundo de
vale, rugosidade do terreno, precipitação média anual, temperatura e radiação
solar, bem como informação do próprio solo contida em mais de 10 mil pontos
amostrais.
“Os mapas de 2017 e 2021 mostram que o estoque total de 36
bilhões de toneladas de carbono, 5% do estoque global, é bastante similar entre
as duas versões do mapa, o que nos traz uma confiança que estamos acertando no
alvo. O Brasil é nação de destaque, pelo seu tamanho, contribuindo para o
estoque global”, afirma o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos.
Maior patrimônio do produtor
rural
Para o secretário adjunto da Secretaria de Inovação,
Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (SDI/Mapa), Cleber Oliveira Soares, precisamos conhecer melhor o
maior patrimônio do produtor rural: o solo. “Esse é um momento oportuno para a
divulgação desses mapas, já que o mundo debate e clama por uma agenda de
sustentabilidade. Os solos estão entre os maiores reservatórios de carbono da
natureza. Esse é um momento também no qual o Brasil se posiciona na vanguarda
do conhecimento, em função da COP 26. Anunciamos um grande programa de
descarbonização da agricultura, o ABC+. É a agricultura contribuindo com uma
agenda de segurança climática e alimentar”, pontua Cleber.
Para Ricardo Arioli, engenheiro agrônomo, produtor rural e
membro do CESB, o Brasil e o agro saíram fortalecidos da COP 26. “O Brasil pelo
protagonismo que exerceu nas negociações, e o agro pela clara demonstração que
será parte da solução, e não mais acusado de ser o causador dos problemas. Com
a volta da valorização do carbono como instrumento de medição e redução de
emissões de gases de efeito estufa, muitas oportunidades se abrem para o Brasil
e seu agro”, diz.
Ainda segundo ele, o Brasil precisa definir metodologias de
cálculo de emissões, em parceria com o agro. “Agindo assim, vamos conseguir
medir e apresentar os sistemas de agropecuária de baixo carbono que temos
adotado e desenvolvido nos últimos anos. Se não fizermos isso logo, teremos que
aceitar padrões desenvolvidos longe daqui, que certamente não levarão em conta
nossos interesses. Outra lição de casa será definirmos formas e ações para
levar os sistemas de produção agropecuária de baixo carbono para mais e mais
produtores brasileiros”.
Mais do que diminuir emissões de gases de efeito estufa,
esses sistemas integrados trazem maior lucratividades para quem os adota. Outra
oportunidade brasileira é apresentar ao mundo as reservas legais e áreas de
preservação permanente como ativos ambientais dos produtores rurais.
Isso poderia ser feito por meio do CAR, que poderia ter uma
janela mostrando o carbono “sequestrado” e garantido nas RLs das propriedades.
Ricardo Arioli é enfático ao pontuar que as oportunidades estão aí. “Temos que
desenvolvê-las logo, assumindo o protagonismo de um país líder mundial em
produção agropecuária com preservação ambiental dentro das propriedades”.
Plataforma GeoInfo disponibiliza
dados espaciais
Além da plataforma do PronaSolos, os mapas de carbono e
respectivos metadados também estão disponíveis para consulta pública na
Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (GeoInfo), que disponibiliza à
sociedade dados espaciais para aprimorar a pesquisa, desenvolvimento e inovação
da agropecuária brasileira.
Lançada em 2018, a plataforma GeoInfo funciona como um
repositório de dados geoespaciais gerados pela Embrapa e faz a sua integração à
Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE). A disponibilização da
geoinformação da Embrapa na INDE possibilita a consulta pública dos
mapeamentos, tornando-os acessíveis para pesquisa no portal nacional que reúne
e compatibiliza geoinformação de diversas instituições.
São oito os temas dos trabalhos cadastrados no GeoInfo da
Embrapa Solos: mapeamento de solos; mapeamento de atributos de solos;
zoneamentos agroecológicos; aptidão agrícola das terras; uso e cobertura das
terras; mapeamento de terras para irrigação; mapeamento de serviços
ecossistêmicos; e vulnerabilidade das terras. Os conteúdos são divididos em
três seções:
– Camadas: dados geoespaciais em formato vetorial ou
matricial (raster) publicados pela Embrapa. Disponibiliza para o público 530
camadas em diferentes escalas e recortes territoriais;
– Mapas: é o ambiente de mapas interativos (SIG web),
onde são publicados mapas a partir de camadas disponíveis no GeoInfo. Até o
momento, existem oito mapas publicados;
– Documentos: publicação de arquivos compactados, cartas (layouts) para impressão, dados tabulares e de texto associados aos dados geoespaciais gerados pela Embrapa. Atualmente, são 541 os documentos disponíveis.
Manejo assertivo
do solo
Amplia
potencial produtivo
Práticas agrícolas já consagradas, aplicadas de forma mais
precisa e direcionada, têm colaborado com a redução de emissões de gases de
efeito estufa (GEEs) na agricultura. É o caso do engenheiro agrônomo e gerente
técnico do Grupo Aurora, Maurício De Bortoli, que tem conseguido resultados
positivos a partir da adoção de plantio direto, do uso preciso de corretivos de
solo e de culturas de cobertura.
As fazendas do Grupo Aurora, que cultivam 9.000 hectares de
grãos em Cruz Alta (RS), fazem parte do programa PRO Carbono da Bayer, que
oferece vantagens aos produtores dispostos a ampliar seu potencial produtivo e
aumentar o sequestro de carbono no solo a partir da adoção de práticas
agronômicas sustentáveis.
Para Maurício, uma maior produtividade na lavoura está
associada ao investimento em processos produtivos de menor impacto ambiental no
campo. “Cada região tem seus desafios, e o nosso é a retenção de água e
nutrientes no solo. Nós fazemos irrigação e fertilização nos talhões, mas o
essencial para conseguir uma área de alto potencial produtivo é o investimento
em boas práticas agrícolas e fazer plantio direto”, afirma o produtor. “Com a
palhada do ciclo anterior, eu consigo aumentar a matéria orgânica e melhorar as
condições biológicas do solo, que também são essenciais para a retenção de
carbono durante a safra.”
Vencedor do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de
Soja, realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), com o recorde de
123,88 sacas de soja por hectare na safra 2018/19, o Grupo Aurora tem
conseguido mitigar os impactos dos veranicos e o estresse dos períodos de
estiagem, que foram comuns no Rio Grande do Sul na última safra.
A adubação verde, que auxilia na melhor infiltração da água
da chuva no solo, também é adotada pelo grupo. “”Esta prática traz vários
benefícios à lavoura, como efeitos culturais contra a incidência de plantas
daninhas, proteção contra erosões e, agora, entendemos que é também um dos
caminhos para o sequestro de carbono na lavoura”, ressalta De Bortoli.
A fertilização nas fazendas do Grupo Aurora tem início no
inverno. Na safrinha, o grupo cultiva um mix de plantas de cobertura em
30% da área. Em outros 30% gramíneas, e no restante, trigo, cevada e aveia. “Este
processo é rotativo a cada ciclo, o que proporciona a fertilidade e
descompactação do solo”, diz Maurício.
“Há dez anos, quando não implementávamos todas estas boas
práticas no campo, nossa média era de 55 sacas de soja por hectare. Hoje, com a
evolução da genética e da pesquisa no manejo mais sustentável da lavoura,
conseguimos aumentar até 30% do potencial produtivo dos nossos solos, atingindo
uma média de até 80 sacas por hectare”, conclui.
Já no Grupo Sementes Vitória, que cultiva soja em 3.378
hectares em Rio Verde (GO) e que também faz parte do programa PRO Carbono, o
grande diferencial foi a rotação de culturas. Patrícia Dias, agrônoma e
responsável técnica, destaca que realiza o plantio da oleaginosa em rotação com
a braquiária, em 900 hectares, na entressafra. “Usamos esta prática há quatro
anos, não só pensando no solo, mas para a pastagem do gado. Por meio das
análises de dados da fazenda por talhão, vimos que este manejo, junto com a
correção de solo, representou uma diferença, em média, de quatro a cinco sacas
a mais por hectare”, reforça Dias.
Segundo a engenheira agrônoma, o uso de vegetação de
cobertura também foi um aliado para mitigar perdas causadas pela instabilidade
do clima na região. “Em situações adversas, o manejo adequado do solo ganha
ainda mais importância, já que auxilia no desenvolvimento radicular da soja,
explorando mais o solo em seu perfil. Ano passado, tivemos um período de seca
de 22 dias, entre novembro e dezembro, e a soja plantada pós-braquiária foi
menos impactada”, comenta Patrícia.
“Nossos solos são bem cuidados, produzimos sementes de soja há muitos anos, por isso, nossa maior preocupação é a correção para manter o potencial produtivo na lavoura, como o uso de calcário para aumentar os níveis de nutrientes importantes, como cálcio e magnésio, e o uso de gesso para ajustes de enxofre no perfil do solo, por exemplo”, ressalta a especialista.
Medição de
balanço de carbono
Minerva
Foods e Imaflora anunciam parceria
A Minerva Foods, líder em exportação de carne bovina na
América do Sul e uma das maiores empresas na produção e comercialização de
carne in natura e seus derivados na região, em conjunto com o Instituto
de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), organização não
governamental brasileira, que trabalha para promover transformações
socioambientais nos setores florestal e agropecuário, anunciam a parceria no
Carbon On Track, o novo programa do Imaflora para a medição de balanço de
carbono em fazendas na América do Sul.
Como parceira pioneira no setor pecuário, a Minerva Foods
selecionou 25 fazendas fornecedoras no Brasil, Argentina, Colômbia, Paraguai e
Uruguai para participarem do projeto-piloto, totalizando mais de 232 mil
cabeças de gado e 185 mil hectares de pastagem computados, que cobriram cinco
biomas diferentes: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Pampas e Chaco.
Os resultados iniciais constataram que fazendas parceiras da
Companhia já emitem 44% menos gases de efeito estufa (GEE) em comparação com a
taxa média mundial para emissões na produção de carne bovina, estimada em 19,9
tCO2e/ por tonelada de carne produzida (obtida a partir da
comparação de 30 artigos). Os primeiros relatórios sobre o estudo foram
divulgados na Conferência Mundial do Clima (COP 26), no dia 06 de novembro,
realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Glasgow, na Escócia.
Fazenda Corumbiara – baixo carbono: localizada em Rondônia, conta com mais de 20 mil cabeças de gado, além de 16,8 mil hectares de área. A propriedade contabilizou emissões 42% abaixo da média mundial, graças à intensificação do ciclo de produção e por possuir cerca de 30% da área aberta destinada à agricultura, que produz insumos para o confinamento, gerando mais qualidade para a carne.
Após a colheita, a área agrícola é liberada para integração
lavoura-pecuária que, em conjunto com o confinamento abastecido com grãos
produzidos na fazenda, gera eficiência de custo, sustentabilidade e menos
emissões de carbono, já que os animais nascem na fazenda e completam o ciclo na
mesma propriedade, garantindo a rastreabilidade completa do rebanho.
• Balanço Total de Carbono: 33.609,2 tonCO2e
• Intensidade de Emissão: 11,53 ton. CO2e /
tonelada de carne produzida
• Emissões 42% abaixo da média mundial
SLC
Agrícola investe em ILP para reduzir carbono
A SLC Agrícola, uma das maiores produtoras mundiais de grãos
e fibras, está em constante desenvolvimento para aumentar a produção de grãos e
fibras de forma sustentável. Nessa direção, a empresa atua com a Integração
Lavoura-Pecuária (ILP), em uma combinação de iniciativas e estratégias, de
forma a contribuir para aumentar a produtividade das lavouras, além de ampliar
os impactos ambientais positivos com o aumento da absorção de carbono pelo
solo, via aumento dos teores de matéria orgânica.
O investimento realizado pela SLC Agrícola em Integração
Lavoura-Pecuária de 2017 a 2021 soma cerca de R$ 3,7 milhões. Atualmente, a
companhia conta com o sistema ILP em 10 fazendas, distribuídas nos Estados de
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhão. “O projeto atualmente conta
com um montante de 35 mil animais somando todas as unidades, em uma área de
cerca de 9,7 mil hectares (ha). A ILP ocupa uma superfície ainda inferior a 1%
em relação a toda a área cultivada da empresa, que será de 660 mil ha na safra
21/22″, explica Gustavo Lunardi, Diretor de Operações da SLC Agrícola.
“A primeira unidade a contar com a ILP foi a Fazenda
Planorte, em Sapezal (MT). O intuito era viabilizar áreas arenosas, obtendo
maiores produtividades após um ano de braquiária com pastejo, já que esta
gramínea recicla nutrientes no perfil do solo, aporta matéria orgânica no
sistema, além de ser alimento para o gado. Outro ponto importante era otimizar
o uso da estrutura das fazendas, diversificar as atividades e fontes de
receita”, detalha Lunardi.
A estratégia para introdução da ILP foi priorizar as
fazendas que atuam com milho na segunda safra, através o Sistema Santa Fé,
tecnologia de plantio direto em que se realiza o consórcio do milho com a
braquiária. Após a colheita do milho, o gado faz o pastejo da forragem
remanescente. “Com a iniciativa, promovemos um ciclo virtuoso para
potencializar a utilização dos ativos. A pecuária desempenha um papel de
‘terceira safra’, permitindo a engorda dos animais e aumentando a fertilidade
das terras, por conta da deposição de nutrientes orgânicos. Após o período de
engorda nas fazendas, os animais são vendidos e seguem o fluxo da cadeia
produtiva de produção de proteína”, comenta.
Adaptações
Para implementar a prática, a SLC Agrícola fez pequenos
ajustes em suas propriedades. Entre elas, houve a construção de cercas formando
os piquetes para rodízio, confecção de coxos de alimentação, bebedouros e
aquisição ou aluguel de alguns equipamentos para mistura e fornecimento da
ração. Um veterinário coordena a atividade na empresa e foram realizados
treinamentos para os colaboradores, visando esta nova atividade.
Resultados positivos
A Integração Lavoura-Pecuária está trazendo retorno positivo
para a SLC Agrícola. No faturamento total da empresa em 2020, a prática foi
responsável por mais de R$ 32 milhões. “O resultado financeiro destes projetos
é importante para a companhia, uma vez que se trata de uma receita adicional
aos nossos principais produtos que são as commodities agrícolas, ou seja, representa
a otimização do uso dos nossos ativos e um sistema de produção mais
sustentável. Conseguimos melhorar as condições físicas, químicas e biológicas
do nosso solo. Por meio da palhada e excrementos dos animais, há uma excelente
ciclagem de nutrientes, com incremento de carbono orgânico ao solo, trazendo
maior sustentabilidade, com ambiente mais estável e maior potencial produtivo
nas culturas da soja, milho e algodão”, exemplifica Lunardi.
“Aliada a outras ações da SLC Agrícola, o sistema ILP
possibilitou à empresa alcançar patamares de produção acima da média do
agronegócio no Brasil e no mundo na safra 2020/21. Na soja, atingimos pelo
terceiro ano consecutivo recorde de produtividade da empresa, ficando 8,1%
superior ao orçamento inicial e 15,4% acima da média nacional. O milho segunda
safra, em relação à média nacional, ficou 34,4% superior e o algodão atingiu
1.779 kg por hectare, 5,4% superior a produtividade atingida na safra
anterior”, avalia Lunardi.
Para os próximos anos, a empresa projeta expandir a prática
para outras propriedades. “Com o amadurecimento dos projetos e o fortalecimento
das parcerias com fornecedores e clientes deste segmento, daremos continuidade
ao crescimento da nossa integração lavoura pecuária, gerando mais receita por
hectare físico e, ao mesmo tempo, tornando nosso sistema produtivo mais
sustentável nas esferas ambiental, social e financeira”, finaliza.
Quem é ela
A SLC Agrícola, fundada em 1977 pelo Grupo SLC, é produtora
de soja, milho e algodão, além de trabalhar com a criação de gado, fazendo a
integração lavoura-pecuária. Também é detentora da marca SLC Sementes, que
produz e comercializa sementes de soja e algodão.
Foi uma das primeiras empresas do setor a ter ações
negociadas em Bolsa de Valores, tornando-se uma referência no seu segmento. Com
Matriz em Porto Alegre (RS), a Empresa possui 22 Unidades de Produção
estrategicamente localizadas em sete estados brasileiros. Na safra 2020/21, a
produção totalizou cerca de 470 mil hectares plantados e a estimativa para a safra
2021/22 é de 660 mil hectares.