Estresse salino na cultura do pimentão

Estresse salino na cultura do pimentão

Laís Naiara Honorato Monteiro
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura (UNESP Botucatu) e professora – Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV)
lais.monteiro@unesp.br

Frederico Martins Danieze
frederico.m.danieze@unesp.br

Matheus Parlato Zequim
parlato.zequim@unesp.br
Graduandos em Engenharia Agronômica – UNESP Ilha Solteira

Geralmente, o pimentão é cultivado como planta anual, mas é perene, de vida curta e em condições adequadas pode produzir frutos por alguns anos. O cultivo é realizado em áreas com temperaturas entre 20 e 30°C, com boa exposição solar.

Está entre as 10 hortaliças mais consumidas no mercado brasileiro e mundial, podendo ser cultivado tanto em campo aberto quanto em estufas, sendo que em campo aberto representa a maior porcentagem da área ocupada no Brasil. Cerca dos 13 mil hectares de área cultivada no nosso país, 1.000 hectares são de cultivo protegido, com base em estimativas.

Efeito da água salina

A escassez da disponibilidade dos recursos hídricos e o aumento da demanda por água tem resultado na utilização da maioria das fontes de boa qualidade, o que leva muitos produtores a utilizar água de qualidade não convencional e inferior para a irrigação das culturas.

Essas fontes apresentam níveis salinos mais elevados, como por exemplo, as águas salinas de poços e de drenagem agrícola, que apresentam concentrações de sais solúveis elevadas, limitando o desenvolvimento e a produtividade de muitas culturas.

Mas, não somente o uso de água de baixa qualidade resulta em efeitos salinos, a acumulação de sais no solo em cultivos protegidos é bastante frequente devido, principalmente, às elevadas doses de adubos utilizados e à ausência de lavagem dos sais acumulados após um cultivo.

O estresse salino é composto por dois elementos principais. O primeiro é o osmótico, que acontece quando altas concentrações de sais na solução do solo reduzem a disponibilidade de água para as plantas.

O segundo é o iônico, que está relacionado à toxicidade dos íons liberados pelos sais. Ambos os efeitos causam diminuição na absorção de água e nutrientes pelas plantas, além de poderem provocar danos diretos ou indiretos em outros processos fisiológicos, como germinação, crescimento, integridade das membranas celulares e turgescência.

Manejo

Ressalta-se a importância da adoção de técnicas de manejo que possibilitem a agricultura nestas regiões afetadas pela salinidade. Dentre algumas alternativas para redução dos efeitos nocivos dos sais da água de irrigação nas plantas está o uso de biofertilizante ou esterco líquido bovino, que tem evidenciado atenuar os efeitos deletérios da salinidade da água de irrigação no crescimento inicial de algumas culturas.

Os efeitos da salinidade no pimentão são: redução do crescimento e produção, distúrbios fisiológicos e bioquímicos, que comprometem profundamente o desenvolvimento da planta

De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), Wagner Bettiol, a propensão de salinização dos solos tem aumentado mundialmente, ocasionando desafios relacionados à segurança alimentar em diferentes nações.

A salinização dos solos prejudica negativamente a fotossíntese, a absorção de nutrientes, a transpiração, a produção de proteínas e os mecanismos regulatórios hormonais, resultando em menor desenvolvimento das plantas.

De modo geral, a salinidade provoca um desequilíbrio nutricional nas plantas, devido à competição entre os sais e os nutrientes no processo de absorção e poucos estudos têm sido conduzidos para avaliar a resposta do pimentão à adubação em condições de salinidade.

Estudos realizados indicam que a aplicação de doses elevadas de N potencializa os efeitos da salinidade, reduzindo a tolerância da cultura. Portanto, a resposta das culturas aos fertilizantes sob condições de solos salinos e sódicos é complexa, já que é influenciada por muitos fatores inerentes à cultura, ao solo e ao ambiente, o que torna necessário estudos para quantificar os efeitos de doses crescentes de nutrientes em condições salinas.

O pimentão é considerado uma cultura moderadamente sensível à salinidade (1,5 dS m-1 de CE). Entretanto, o estresse salino provoca desordens na permeabilidade das membranas celulares e alterações na condutância estomática, fotossíntese e balanço iônico na cultura.

De acordo com pesquisas, a salinidade afetou o crescimento e a produção das cultivares testadas, pois reduziu os teores de fósforo, potássio e enxofre, incrementando os teores de sódio e cloro no tecido foliar das plantas.

A presença do sódio também causa redução nas trocas gasosas, nas proteínas solúveis e um aumento no teor de prolina – aminoácido que exerce função de osmoproteção.

Se a salinidade da água de irrigação está acima do limite para a cultura, as perdas no rendimento do pimentão podem ser de 8 a 10% na produção total. A clorofila também é prejudicada, por isso a fotossíntese é reduzida, já que altas concentrações de sais no apoplasto das células acabam prejudicando sua síntese.

O que fazer em situações de salinidade?

Atualmente, há diversas estratégias para aprimorar a germinação, o crescimento e a produtividade das plantas em situações de salinidade, como manipulações genéticas ou o uso de indutores de tolerância, como o ácido salicílico (AS).

O AS é um composto fenólico que desempenha um papel crucial em vários aspectos do crescimento e desenvolvimento das plantas, regulando a síntese de diversos osmólitos e metabólitos secundários, além de estar envolvido na regulação de importantes processos fisiológicos das plantas, como a germinação de sementes em condições estressantes.

Como o sal entra nas plantas e a percepção do sal permanecem desconhecidos. A absorção de íons ocorre principalmente pelas vias apoplástica e simplástica, e a água se move radialmente por meio da raiz via apoplástica, simplástica e transcelular (as duas últimas vias são coletivamente referidas, como via célula a célula).

Tudo equilíbrio

A alta salinidade no apoplasto altera os equilíbrios termodinâmicos aquoso e iônico, o que resulta em tensões iônicas e/ou osmóticas. A porcentagem de movimento de água por meio da via simplástica em plantas de pimentão tratadas com NaCl 75 mM foi menor do que em plantas não tratadas.

O fluxo de massa de água e solutos ao longo da via apoplástica em condições salinas conferiria menor seletividade e absorção de íons reduzida.

Vários transportadores estão envolvidos na captação e movimento de Na+ por meio da membrana plasmática (PM), dos quais os canais catiônicos não seletivos (CCNS) são uma rota principal do influxo de Na+ para as raízes glicogênicas das plantas.

Os CCNS são regulados por diferentes sinais precoces induzidos por sal, como Ca2+, monofosfato de guanosina 3′,5′-cíclico (cGMP) e ROS.

Transportadores de K+ e da família HKT também estão envolvidos no influxo primário de sódio para as raízes. Quando o Na+ entra na célula através dos CCNS, a membrana se despolariza.

Para se proteger desse ambiente salino, as plantas de pimentão ativam seus respectivos sistemas de defesa antioxidativo, aumentando a ação da enzima APX (ascorbato peroxidase), que catalisa a decomposição do peróxido de hidrogênio (H2O2).

O nível de defesa desse sistema irá variar entre cultivares, algumas apresentando um sistema mais eficiente e outras num nível menor.

Especialistas recomendam que a solução nutritiva para o cultivo de pimentão no sistema hidropônico, deve situar-se na faixa de 2,0 a 3,0 dS m-1 para o bom desenvolvimento e produção da cultura.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br