Uma pesquisa inédita avaliou, pela primeira vez, o
desempenho econômico e ambiental do sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP),
fazendo comparações em diferentes culturas: lavoura de soja seguida de milho e
pecuária extensiva em localidades dos biomas Cerrado e da Amazônia, seguida de
sistemas de ILP.
O trabalho, desenvolvido por pesquisadores da Embrapa e de
instituições parceiras, mostrou que a sucessão agrícola é mais rentável do que
a ILP e a pecuária, porém, com um custo ambiental maior. Com menor impacto
ambiental, a ILP é lucrativa, o que torna essa alternativa mais sustentável
para a produção de alimentos nos dois biomas.
Os resultados mostraram que, com o preço elevado de
commodities, os monocultivos agrícolas são mais rentáveis. Entretanto, ao
considerar aspectos ambientais da produção, como o uso de recursos renováveis,
não renováveis e de insumos externos, o sistema integrado se mostra mais
interessante, devido ao menor impacto ambiental por unidade produzida. Os dados
foram coletados em fazendas de Mato Grosso na safra 2017 e 2018.
Comparativo
A sucessão agrícola de soja e milho apresentou um lucro
líquido de US$ 295 por hectare, contra US$ 235,69 do sistema ILP. Mas, no
indicador de sustentabilidade de energia, a ILP obteve 0,67 contra 0,46 da
lavoura, em uma escala em que quanto maior o número, mais sustentável é a
atividade.
A pecuária extensiva, por sua vez, como utiliza poucos
insumos e grandes extensões de terra, obteve um índice superior, com 5,62.
Porém, a atividade obteve prejuízo financeiro de US$ 0,58 por hectare no
período avaliado, e apresentou baixo desempenho na avaliação das emissões de
carbono equivalente.
De acordo com os resultados de carbono-energia, o sistema
integrado apresentou sequestro de 2,71 toneladas de CO2eq para cada
joule produzido (unidade de medida da energia), enquanto o sistema agrícola
emitiu 3,70 t CO2eq e a pecuária extensiva apresentou uma emissão de
7,98 t CO2eq para cada joule produzido.
Conforme a pesquisa, os indicadores de energia mostraram que
o custo social da sucessão soja/milho é maior do que os benefícios para a
sociedade. O lucro da atividade está relacionado ao intenso uso de insumos
externos, fator que reduz o nível de sustentabilidade do sistema a longo prazo.
“Para manter altos índices produtivos, são necessários cada
vez de mais insumos externos. Isso gera um círculo vicioso, no qual, embora se
aumente a produtividade, o custo ambiental fica cada vez mais elevado”, explica
o coordenador do estudo, Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa
Agrossilvipastoril (MT).
Já no caso da pecuária extensiva, o baixo desempenho
produtivo e a elevada emissão de gases de efeito estufa tornam o sistema mais
insustentável. De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Judson Valentim,
essa é uma atividade de baixa produtividade dos recursos naturais (solo, água e
radiação solar), de mão de obra e capital, aspecto que interfere na eficiência.
“No sistema de pecuária de corte tradicional, a produtividade
obtida é de seis arrobas de carne/hectare/ano. Quando essa mesma área é
utilizada em sistemas de integração lavoura-pecuária, o produtor consegue obter
uma safra de soja, uma safrinha de milho e ainda produzir boi safrinha. Isso
resulta em maior eficiência no uso dos recursos naturais e do capital
investido”, ressalta Valentim, ao frisar também o papel ambiental da atividade.
“Além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na
atmosfera, por unidade de produto, contribui para diminuir a pressão por
desmatamentos, ajudando a manter a floresta em pé. Esses ganhos indicam que os
sistemas integrados são mais eficientes na conversão de recursos ambientais e
econômicos em produtos finais”, conclui.
Como explicam os pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente,
Geraldo Stachetti, e da Embrapa Gado de Leite, Inácio de Barros, pôde-se
comparar, por exemplo, o papel da erosão do solo, que impõe grandes déficits
energéticos, devido à relevância dos insumos e dos processos naturais que
promovem a fertilidade. A expressão desse serviço ambiental é favorecida nos
sistemas pecuária e ILP, menos sujeitos à erosão que as lavouras. Já a fixação
biológica de nitrogênio se faz mais presente nas lavouras, e favorecem a ILP
com efeito residual, mas não as pastagens.
Esses exemplos explicam o porquê do maior custo energético,
e do maior contraste entre os sistemas estar representado pelos fertilizantes e
corretivos do solo, empregados em maiores volumes nas lavouras, seguido da ILP
e da pecuária.
Assim, os custos energéticos (medidos como “joules solares
totais”) se mostraram maiores nas lavouras, 10% menores na ILP e 64% na
pecuária. Por outro lado, recursos renováveis ofertados pela natureza conformam
25% da energia nas lavouras, frente a 31% na ILP e até 66% na pecuária.
“Ao se integrarem os índices dos fluxos de energia dos
diferentes sistemas, e contrastá-los com os resultados econômicos,
demonstram-se claramente as vantagens ambientais do sistema ILP”, analisa
Stachetti.