Estufas solares: alternativa para agricultura sustentável

Estufas solares: alternativa para agricultura sustentável

Cícero Alexandre Leite
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Engenharia Agrícola, especialista em projetos de estufas agrícolas com tese em radiação solar
comercial@allbrightagro.com

Como se trata de um conceito novo, ainda não há um consenso no significado do termo estufas solares. Podemos usá-lo para:

1 – Falar de uma estufa que usa seu teto integral ou parcialmente coberto com placas fotovoltaicas geradoras de energia usadas para controles climáticos, iluminação e bombeamentos. Nessa modalidade, as placas podem ser rígidas ou flexíveis e serem usadas no teto ou no sistema de sombreamento móvel interno ou externo.

2 – Estufa cuja energia é usada para controle de clima, iluminação, bombeamento de águas para irrigação ou pulverização advinda de um conjunto de geração de energia fotovoltaica externa adjunto à estufa.

Vantagens e desvantagens das estufas solares

No primeiro caso, a vantagem é de se aproveitar a própria estrutura da estufa como suporte para as placas solares. É claro que, para isso, é necessário um projeto de adaptação, mas significa uma otimização de espaço, mais do que economia de estrutura.

A desvantagem é que, se o sistema for fixo, vai obstruir a passagem de luz solar, podendo significar menos luz natural para o cultivo, dependendo da exigência luminosa do cultivo.

Exemplo, numa estufa de violetas de vasos, que é muito exigente em temperatura e umidade, mas requer pouca luminosidade (170 – 230 micromol de fótons/m²/s), pode ser muito viável.

Já para uma estufa de tomates, cuja exigência em radiação solar é da ordem de 1.200 – 1.600 micromols de fótons/m²/s, pode não ser uma boa ideia sombrear o teto com um painel.   Para cultivos com mediana exigência em luminosidade, como uma gérbera ou rúcula, poderia ser uma opção interessante, se usada em um sistema de sombreamento móvel, mas aí os custos de uma estrutura móvel para mover placas solares pode não ser economicamente viável, dependendo do valor do produto agrícola que será comercializado.

Sustentabilidade

Se a energia consumida em uma casa de vegetação comercial for gerada nela mesma, estaremos preservando outras fontes de energia, como lenha, gás ou óleo para aquecimento, ou ainda energia elétrica provida de outras fontes, como hidroelétrica ou termoelétrica para acionamento de motores de ventiladores, exaustores, bombas para umidificação do ar, irrigação e pulverização.

Seguramente, trata-se de uma forte contribuição com a sustentabilidade.

Viabilidade em cultivos agrícolas

Os critérios técnicos para o uso dessa tecnologia em um país com vasto território, como o nosso, devem ser considerados através de um projeto de engenharia agrícola onde se diagnostique o nível de produtividade, o custo do investimento e da manutenção, o qual deve compor com um plano detalhado de negócios.

Realizando este projeto técnico e o plano de negócios, pode-se chegar à conclusão, por exemplo, de ser altamente viável para a produção de morangos em um centro urbano, onde a proposta é de que o produto colhido deve estar o mais próximo possível do consumidor, e assim chegar mais fresco e com melhores condições de consumo.

Mas, pode ser inviável para a produção de hortaliças mais “comoditizadas”, e que a produção em campo aberto tenha baixíssimo custo de produção.

Estufas que consomem alta quantidade de energia elétrica para suplementação luminosa são aquelas onde, primeiro, pode-se pensar na viabilidade econômica, como tomate em latitudes muito altas, na época de inverno, assim como as plantas fotoperiódicas, como crisântemo, cannabis medicinal e estufas de pesquisa de soja, por exemplo.

Na prática

O caso do uso de painéis solares diretamente no teto ou no sistema de sombreamento móvel da estufa ainda precisa ser desenvolvido tecnologicamente para um emprego prático e viável economicamente nas nossas condições socioeconômicas para a maioria dos cultivos tradicionalmente feitos em casas de vegetação comerciais.

Com um país vasto de território e com um regime de incidência de energia solar tão favorável, creio que um passo importante seja usar a tecnologia de painéis solares adjunta à estufa, para substituir a energia elétrica gerada em nossas hidroelétricas, seja gerando energia e integrando-a à rede elétrica ou usando-a diretamente.

Nesse último caso, ainda necessitamos viabilizar o custo de baterias elétricas de uso na propriedade agrícola, o qual ainda inviabiliza este uso para a maioria dos projetos. Mas, ao que tudo indica, essas baterias serão barateadas em um futuro próximo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br