Feromônios e biológicos no cultivo do tomate

Feromônios e biológicos no cultivo do tomate

Herika Paula Pessoa
Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
herika.paula@ufv.br
Manoel Nelson de Castro Filho
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – UFV
manoel.nelson@ufv.br

A tomaticultura é um mercado em constante expansão, e uma importante fonte de geração de emprego e renda na agricultura. Considerando apenas o segmento de tomate de mesa, estima-se que para cada hectare plantado, quatro a cinco empregos diretos são criados.
A cultura do tomateiro é extremamente suscetível ao ataque de pragas, e os inseticidas químicos são, em geral, utilizados para seu controle. O uso indiscriminado de inseticidas resulta em problemas como resistência de pragas aos produtos químicos, aparecimento de pragas secundárias, ressurgência de pragas pela destruição de seus inimigos naturais, efeitos adversos em insetos benéficos, efeitos tóxicos ao homem e em animais e efeitos negativos ao meio ambiente.
A fim de reverter esse cenário e motivados pela atual demanda de hortaliças para consumo in natura sem resíduos de agrotóxicos, o controle biológico de pragas do tomateiro tem se firmado como alternativa, especialmente em cultivos sob ambiente protegido, onde essa técnica de manejo pode ser associada a telas antiafidicas e coberturas com filtros especiais, os quais reduzem as infestações de insetos-pragas.

Combate eficaz

O controle biológico nas lavouras de tomate tem se mostrado eficaz para diferentes pragas dessa cultura. Dentre as principais pragas da tomaticultura está a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), inseto minador que danifica significativamente as folhas, botões terminais, flores e frutos do tomateiro, causando reduções significativas no rendimento da planta.
Em seus estágios iniciais, essa praga pode ser controlada efetivamente por inimigos naturais, como por exemplo, nematoides entomopatogênicos (Steinernema carpocapsae, Steinernema feltiae e Heterorhabditis bacteriophora), fungo (Metarhizium anisopliae var. anisopliae) e microvespa (Trichogramma pretiosum).
Outra praga importante que também causa prejuízos para a tomaticultura é a broca-pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis). Os adultos ovipositam no cálice ou sépalas, após a eclosão ocorre a penetração das lagartas no interior dos frutos, provocando danos significativos e reduzindo drasticamente a produtividade.
O uso do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum e a aplicação do microrganismo Bacillus thuringiensis tem se mostrado eficiente para o controle dessa praga.
Diferentes espécies de tripes (Thrips tabaci, T. palmi e Franklinelia occidentalis) e a mosca-branca (Bemisia tabaci) também são pragas importantes para a cultura. Esses insetos, além dos danos diretos, também atuam como vetores de vírus, os quais limitam ou inviabilizam a produção, e por isso, o seu manejo em lavouras de tomate é essencial.
Para o controle biológico das espécies de tripes, podem ser realizadas liberações inundativas de percevejos predadores do gênero Orius. Para a mosca-branca, existem relatos de eficiência de controle utilizando o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana.
O mercado brasileiro já disponibiliza para o produtor alguns produtos à base de organismos vivos, permitidos para uso na cultura do tomate. Os formulados devem ser utilizados em conjunto com técnicas do manejo integrado de pragas, principalmente com o manejo cultural. Esta prática, além de favorecer os organismos inseridos no ecossistema lavoura, pode ajudar significativamente na atração e multiplicação de outros inimigos naturais.

Alternativas

O uso de feromônios e armadilhas adesivas tem sido adotado, prioritariamente, como medida de monitoramento de pragas, e juntamente com o uso de agentes de controle biológicos essas técnicas têm possibilitado grandes ganhos à produção pela redução do nível de dano econômico. Entretanto, pela falta de assistência técnica e baixo nível de conhecimento dos produtores, erros frequentes têm ocorrido na adoção de tais técnicas.
Na maioria das vezes os produtores não consideram o controle biológico como um método eficaz de controle de pragas-chave, e com isso fazem o uso indiscriminado de inseticidas químicos, o que tem interferido na eficiência de controle de agentes biológicos, pois o uso incorreto de inseticidas pode eliminar as populações de inimigos naturais, gerando desequilíbrio no ambiente de cultivo.
Outro problema eminente no Brasil está relacionado à falta de estudos básicos envolvendo seleção de inimigos naturais, eficiência de controle e análises de impacto ambiental; falta de credibilidade no controle biológico, o que dificulta o aparecimento de empresas idôneas que comercializem inimigos naturais; inexistência de políticas de incentivo com pouco investimento na área e dificuldade de transferência de tecnologia gerada ao usuário.

Dicas para o sucesso

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Para ter sucesso no uso do controle biológico aplicado em ambiente protegido, devem ser esquematizados programas de controle que envolvam desde o correto monitoramento das pragas até a adoção de outras medidas de controle, como por exemplo o controle cultural, mecânico e o controle químico, se necessário.
Para o controle da traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), por exemplo, resultados satisfatórios têm sido reportados na literatura com uso do manejo integrado baseado no monitoramento da praga, no controle biológico e no controle químico.
Esse tipo de manejo tem possibilitado ganhos de produtividade quando comparados com o controle químico apenas, o qual pode ocasionar aumento dos custos de produção, acarretar danos à saúde do trabalhador e ao meio ambiente, bem como contaminar os frutos com elevados teores de resíduos químicos.
O monitoramento e o controle biológico devem ser adotados juntamente com a utilização de práticas culturais apropriadas, e a aplicação de produtos químicos deve ser adotada apenas quando ocorrer uma alta infestação da praga. Nessa situação recomenda-se um controle químico adicional, utilizando inseticida seletivo.
Políticas de incentivo, facilidade de aquisição de produtos e assistência técnica especializada são essenciais para adoção dessas técnicas pelos produtores. Cultivar em ambiente protegido demanda uma alocação de recurso pelo produtor, especialmente para implantação da estrutura.

Segurança para todas as partes

O uso do controle biológico torna a atividade menos onerosa e mais segura, reduzindo o ataque de pragas, pois a utilização dessa prática leva a uma redução significativa nos gastos com inseticidas.
A potencial redução na utilização de agroquímicos, bem como o incremento de produtividade, qualidade do produto e maior seguridade pela redução dos teores de pesticidas nos frutos são pontos a favor dessa tecnologia.
Além desses benefícios, o uso de feromônios e armadilhas adesivas, associados à utilização de agentes biológicos de controle, reduzem o custo de produção e agregam valor ao produto. Sem dúvida, o uso de armadilhas é a maneira mais fácil e menos onerosa para monitoramento da maioria das pragas.

Custo

O custo da técnica de monitoramento e controle biológico depende grandemente do tipo de praga e dos produtos utilizados. Levando-se em consideração apenas a redução do uso de produtos químicos para controle da traça-do-tomateiro, estima-se uma redução no custo operacional de produção de aproximadamente 1,5%, quando utilizado o monitoramento de pragas com uso de feromônios e armadilhas adesivas, associados à utilização de agentes biológicos de controle, quando comparado ao sistema de cultivo convencional com controle químico.
Armadilhas para monitoramento podem ser confeccionadas pelo próprio produtor, como exemplo o uso de galões e garrafas PET, em que, após o preparo da armadilha, o produtor irá adicionar apenas água (85%), formol comercial (10%) e detergente neutro (5%).
O custo de armadilhas adesivas é variável conforme a quantidade adquirida. Em média, 100 unidades do produto custam R$ 200,00. Já o custo do feromônio é variável conforme a praga-alvo.
O tomateiro é cultivado em diversas regiões do mundo por ser tolerante à variação dos fatores climáticos, podendo desenvolver-se em regiões de clima tropical de altitude, subtropical e temperada, e é considerado uma das culturas mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, o que eleva grandemente seu custo de produção.
Neste sentido, alternativas para facilitar a produção, principalmente em períodos desfavoráveis, são adotadas, dentre elas o cultivo protegido e o controle biológico de pragas. O cultivo em estufas fornece condições favoráveis para o desenvolvimento dos insetos, tais como ausência de chuva e temperatura mais elevada.
Dessa forma, a associação entre o cultivo em estufas e o uso de feromônios, armadilhas adesivas e o controle biológico de pragas (parasitoides, predadores, entomopatógenos, nematoides, etc.) é imprescindível para evitar o crescimento populacional das pragas.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br