O cultivo de abacate está em franca expansão, com recordes de produção sendo atingidos a cada safra. O potencial produtivo da cultura cresceu e ainda cresce, batendo recordes a cada safra. Um dos motivos para tamanha expansão é o aumento no consumo devido às propriedades nutricionais cientificamente comprovada. Confira nesse artigo um guia completo sobre o cultivo do abacate.
Atualmente, a cultura tem uma produtividade que varia de 15
a 25 toneladas por hectare, dependendo do manejo, condução, variedade cultivada
e condições edafoclimáticas da região de cultivo.
Importância do cultivo de abacate
A produção mundial de abacates é de 3,81 milhões de
toneladas, plantados em uma área de 301 mil hectares. No Brasil, há 10 mil
hectares plantados, com uma produção de 213 mil toneladas, mostrando ser o País
com a maior média em produtividade – em torno de 21,3 toneladas por
hectare/ano.
Um fato importante ocorrido em 2017 no Brasil foi a produção
de 213 mil toneladas de frutos de abacate, sendo boa parte comercializada
internamente (97,9%). No entanto, o País exportou para vários países, nos cinco
continentes, um total de 4,5 mil toneladas, gerando 5,3 milhões de dólares.
O continente europeu foi o principal destino das exportações brasileiras dos frutos de abacate, atingindo o volume de 4,4 mil toneladas, representando 99,1% do total, com renda de 5,19 milhões dólares (FAO, 2020).
Demanda
A maior demanda vem do consumo interno do produto no Brasil.
O consumo per capita no ano de 2010 era de 300 gramas por habitante/ano.
Por meio de trabalhos de pesquisa realizados pela ABPA (Associação Brasileira
dos Produtores de Abacate) e universidades do País, o consumo per capita
em 2019 foi de 900 gramas por pessoa (CEAGESP-SP, 2019).
Regiões produtoras
Os principais Estados produtores no Brasil são: 1° São
Paulo; 2° Minas Gerais e 3° Paraná. No ano de 2018, São Paulo possuía 799 mil
pés em produção, e foram implantados mais 232 mil pés, totalizando 4,5 mil
hectares com produção de 104 mil toneladas.
Minas Gerais, segundo maior produtor, apresentou uma área de
2,9 mil hectares, com produção de 52,3 mil toneladas, seguido do Paraná, com um
mil hectare plantado e produção de 19 mil toneladas.
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Espécies
O abacate (Persea americana Miller) é uma frutífera
da família Lauraceae, originária do continente americano, com centros de origem
no México e na Guatemala. Por ter sua origem em regiões de clima tropical e
subtropical, o abacateiro apresenta três raças, sendo elas: mexicana (Persea
americana var. drymifolia); antilhana (P. americana var. americana);
e guatemalteca (P. nubigena var. guatemalensis), que dão origem aos
híbridos cultivados no Brasil.
Manejo
A propagação do abacateiro ocorre por meio de mudas
enxertadas (enxertia do tipo garfagem no topo em fenda cheia, usualmente em
porta-enxertos da raça antilhana), pois estas começam a produzir a partir de
três anos após transplantadas.
Para pomares instalados em regiões de clima frio (sujeitas a
geadas), é recomendável a formação das mudas em porta-enxertos mexicanos ou
guatemalenses. Ponto importante é a aquisição das mudas de plantio em viveiros
idôneos registrados no MAPA, que garantem e atestam a qualidade e sanidade
(livre de patógenos).
Na implantação da cultura, o direcionamento do plantio é um
quesito fundamental. Pomares de abacate devem ser plantados no sentido leste a
oeste, pois receberam maior incidência de raios solares.
Outro fator importante para o cultivo de abacate é a estrutura de solo. Terrenos com teores de argila acima de 50% e pouco drenáveis devem ser submetidos à construção de camalhão (terraço elevado) para proteção do sistema radicular, evitando a predisposição ao ataque de Phytophthora cinnamomi. Já para solos com teor de argila inferior a 50%, com solo bem drenado, pode-se fazer o sulco de plantio para o transplante das mudas de imediato, devendo somente atentar-se para utilização de cobertura vegetal nas entrelinhas, evitando erosão e garantindo a manutenção da umidade do solo.
Irrigação e condições do solo
O abacateiro não é uma cultura com alta exigência hídrica,
portanto, a irrigação não é obrigatória. Regiões que apresentem índice
pluviométrico de 1.300 mm anuais, desde que bem distribuído, são satisfatórias
para um bom desenvolvimento da cultura.
A planta tem preferência por solos profundos, bem drenados,
pois suas raízes podem chegar a até 6,0 m de profundidade, e concentra-se a
maior parte (80%) na camada de 0 a 100 cm. Solos sujeitos a encharcamento não
são indicados para o plantio, pois predispõem as plantas a doenças como a
gomose, causada pelo fungo Phytophthora cinnamomi, que provocam podridão
no colo da planta.
O espaçamento de plantio indicado pelos órgãos de pesquisa e
desenvolvimento (IAC, Embrapa, entre outros) mostram que o espaçamento
entrelinhas e entre plantas pode variar de 6,0 x 4,0 m até 12 x 12 m, sendo
necessárias de 100 a 400 mudas hectare.
Adota-se o menor adensamento para pomares em que se deseja
realizar podas frequentes. As dimensões das covas (berço) são de 0,40 x 0,40 x
0,40 m.
Adubação
No manejo de adubação para implantação da cultura, a calagem
deve elevar a saturação de base do solo para 60%. Na adubação de plantio,
recomenda-se adubos fosfatados de liberação lenta, além de 20 litros de esterco
de curral, ou quatro litros de esterco de galinha, 250 g de P2O5,
misturando bem com a terra da superfície, 30 dias antes do plantio.
Após o pegamento das mudas, aplica-se em cobertura 60 g de N
fracionado em três aplicações aos 30, 90 e 150 dias pós-transplante. Esses
valores podem alterar de acordo com a análise de solo, que deve ser acompanhada
de recomendação técnica por um profissional habilitado.
Para a adubação de formação, no segundo e terceiro ano
aplicar 100 a 150 g N, e de acordo com a análise de solo, 40 a 200 g de P2O5
e 0 a 100g de K2O em três parcelas, ao redor de cada planta e na
projeção das copas.
No quarto ano, 300 g de N, e de acordo com os teores no solo, 120 a 300 g de P2O5 e 0 a 200 g de K2O. É recomendada a aplicação via foliar de sulfato de zinco a 0,25% e ácido bórico a 0,10% em duas aplicações, no período da primavera e no verão.
Para adubação de produção, aplicar 60 a 120 kg/ha de N,
quando o teor de N nas folhas for inferior a 20 g/kg. De acordo com a análise
de solo, aplicar 20 a 120 kg/ha de P2O5 e 30 a 150 kg/ha
de K2O. Fracionar a dose anual de fertilizantes, especialmente N e
K, em três aplicações, durante a estação das chuvas. Fazer duas pulverizações
foliares, em setembro e fevereiro, com 50 g de ácido bórico e 250 g de sulfato
de zinco em 100 litros de água.
Por ser uma planta de ampla adaptação climática (regiões de
clima tropical e subtropical), desenvolve-se bem em regiões quentes e/ou frias.
Contudo, é importante atentar-se para condições reprodutivas da planta, pois em
regiões com condições climáticas como altas temperaturas, o ciclo
florescimento/maturação dos frutos é encurtado, e em regiões com baixa
temperatura esse ciclo expressa-se mais tardiamente.
Cultivares
Fato relevante para o planejamento dos pomares é a escolha das
cultivares, sendo indicadas cultivares precoces para regiões de clima quente e
cultivares de meia-estação ou tardias para regiões de clima frio.
O abacate é uma planta hermafrodita, apresenta dicogamia
protogínica, ou seja, as flores masculinas e femininas possuem diferença no
tempo de amadurecimento, dificultando a polinização. Assim, as variedades são
divididas em grupos A e B.
No grupo A, a primeira abertura da flor ocorre no período da
manhã. Na abertura, o estigma se encontra receptivo, mas as anteras não se
abrem e não há liberação de pólen para fecundação do estigma. A flor se fecha
ao meio-dia e somente se abrirá no período da tarde do dia seguinte, quando os
estames estarão maduros.
Dessa forma, o estigma não se encontra mais receptivo. Já as
variedades do grupo B diferem do grupo A pelo fato de que a primeira abertura
da flor ocorre após o meio-dia, fechando-se ao entardecer e a reabertura ocorre
no período da manhã do dia seguinte.
Para sanar essa deficiência e maximizar o número de
pegamento de frutos, recomenda-se intercalar as linhas de plantio com
cultivares A e B. As mais indicadas para o mercado interno são: Geada (B) de
maturação precoce; Quintal (B) e Fortuna (A), os de meia estação; Ouro Verde
(A), Breda e Margarida (B) de maturação tardia. Para o mercado externo e/ou
industrialização, são indicados: Fuerte (B) e Hass (A).
Poda
O manejo de poda é dividido em duas formas: poda de formação
e poda de manutenção. A poda de formação visa baixar a altura das plantas,
facilitando a coleta dos frutos, e tornar o manejo de pulverizações mais fácil
e eficiente.
Quando a planta atinge aproximadamente seis meses após o
plantio, é realizada a primeira poda – a gema apical é retirada, fazendo um
corte em bisel para evitar o acúmulo de água – isso estimulará o
desenvolvimento dos ramos laterais.
A segunda poda é realizada cinco meses após a primeira. É
nesse momento que se faz a escolha dos ramos que formarão a estrutura da árvore.
São escolhidos quatro ramos que estejam em sentidos apostos, formando um sinal
de “mais”. É ideal que esses galhos estejam com uma inclinação de 45° em
relação ao eixo central.
É feita, também, a eliminação dos ramos que estão abaixo do
ramo estrutural (ramos ladrões). A poda de manutenção é a única que pode ser
realizada quando o abacateiro atinge idade de produção. Essa poda é realizada
após a colheita, e consiste em cortar todos os galhos secos, quebrados, mal
situados (os que vão para o interior da árvore e que se cruzam) e ramos
excessivamente danificados por pragas, doenças e os que tocam o solo.
Daninhas
No manejo para controle de plantas daninhas, pragas e
doenças, o produtor deve atentar-se e seguir alguns parâmetros importantes para
obter sucesso neste quesito. Para o controle das plantas daninhas podem ser
utilizadas roçadas nas entrelinhas do plantio (roçadeiras manuais ou acopladas
no trator), e capinas manuais ao redor da planta na proporção da copa.
Pragas
Para o manejo de pragas, entre as principais do abacateiro estão:
lagarta-do-fruto (Stenoma catenifer), considerada a principal praga no Brasil,
ácaros (Oligonychus persea), bicudo-do-abacateiro (Heilus spp.),
tripes, percevejos, coleobrocas e formigas.
O controle pode ser feito de três formas: controle cultural,
com a catação e derrubada de frutos doentes e podas para iluminar e arejar o pomar,
controle químico e controle biológico, como os ácaros predadores, Beauveria
bassiana, Trichogramma spp., Trichoderma harzianum e Metarhizium
anisopliae.
Em último caso, optar pelo controle químico, utilizando
sempre produtos registrados para a cultura, respeitando o período de carência e
seguindo as recomendações do fabricante quanto à dosagem, quantidade de calda e
horário de aplicação, sendo indispensável o uso de EPI’s.
No manejo de doenças, entre elas: podridão radicular ou
gomose (Phytophthora cinnamomi), cercosporiose (Cercospora purpurea),
oídio (Oidium perseae), verrugose (Sphaceloma perseae) e
antracnose (Colletotrichum gloeosporioides). Para evitar essas doenças é
recomendado o manejo de poda de manutenção, eliminando galhos doentes e coletando
os frutos do chão.
O controle pode ser feito por meio de pulverizações com
cobre e fungicidas químicos, como mancozebe® e difenoconazola®. No caso do
oídio, o controle deve ser preventivo, fazendo pulverizações com bicarbonato de
potássio, pois não existe fungicida registrado para a cultura. Em ambos,
procurar sempre a orientação de um engenheiro agrônomo.
Em produção
Dessa forma, é obtida produção comercial após o 4° ano de
plantio para mudas enxertadas. Para um bom desenvolvimento das plantas, os
frutos que surgirem do 2° ao 3° ano devem ser eliminados.
O rendimento é variável e depende de cada cultivar e das
condições edafoclimáticas da região. O número de frutos por árvore adulta varia
de 200 a 3.000 em pomares bem manejados. Outro ponto importante é não deixar os
frutos amadurecerem na planta, pois isso favorece a queda, causando danos,
tornando-os impróprios para a comercialização.
A colheita do abacate é feita manualmente, utilizando de
escadas e tesoura, ou sacolas coletoras. Cuidados devem ser tomados quanto à
qualidade e durabilidade pós-colheita na comercialização, como cortar o
pedúnculo deixando uma porção de 0,8 a 1,0 cm; não formar camadas de frutos, ou
seja, não sobrepor. Dessa forma, é garantida a manutenção da qualidade e das
características organolépticas.
O super fruto
Considerado um super fruto, o abacate apresenta vitaminas (A
e B), ômega 3, 6 e 9, minerais (o potássio é duas vezes mais que o mineral
encontrado na banana), proteínas, fibras e gordura monoinsaturada, eficaz na
redução do colesterol total e no aumento do HDL (colesterol do plasma), com benefício
a saúde de quem os consome.
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Na ponta do lápis
O investimento inicial pode variar muito. Considerando uma
densidade de 100 plantas por hectare, o custo é de R$ 6.500,00. Deste valor, R$
2.500,00 são destinados à aquisição de insumos e mudas, e o restante são
destinados à preparação do terreno e mão de obra.
No segundo e terceiro anos de cultivo esse custo diminui,
pois as operações realizadas no pomar são apenas de manutenção, ficando em R$
2.400,00 por ano. O retorno do valor investido começa a partir do 4° ano de
plantio, quando se inicia a colheita. Ressalva, o retorno do dinheiro investido
com correção monetária varia entre o 5° e 7° ano.
Rentabilidade
O planejamento é feito com base para 20 anos de produção,
com valor acumulado superior a R$ 300 mil por hectare. Deste valor, 72% são
referentes ao retorno do investimento (lucro), e 28% à implantação e manutenção
do pomar no período de 20 anos. A cultura apresenta retorno considerável a
médio e longo prazos.
Lembrando que os erros mais comuns são: plantio em áreas
irregulares (solos encharcados); não respeitar a topografia do terreno; mudas
de má qualidade (adquiridas de viveiros sem registro no MAPA), falta de preparo
do solo, adubação e variedades de polinizadoras.