Hidroponia Alface

Hidroponia Alface

Hidroponia Alface – vantagens e desvantagens

A hidroponia é um sistema de cultivo de plantas, feito diretamente na água, com ausência de solo. O coordenador técnico estadual de Olericultura da Emater-MG, Georgeton Silveira, explica que, para o bom desenvolvimento da planta é necessário que os nutrientes (macro e micro) sejam todos incorporados à água.   Segundo Silveira, as hortaliças estão entre as plantas que podem ser cultivadas desse jeito. “Isso pode ser feito no chamado sistema NFT (fluxo laminar de nutrientes), onde as plantas são cultivadas em bancadas, com uma lâmina de água, contendo nutrientes e sendo bombeada diretamente nas raízes. A outra forma é no chamado sistema com substratos ou semi-hidropônico, no qual as hortaliças são plantadas em sacos ou vasos, recheados de compostos (substâncias orgânicas ou minerais) que servem para fixar as raízes. Nesses sacos é injetada uma solução nutritiva”, ensina.   De acordo o técnico, entre as vantagens da hidroponia estão: a melhor qualidade do produto e preços mais competitivos; maior produtividade; economia de fertilizantes, economia de água, de 50% a 70%, em comparação aos sistemas convencionais; produção em pequenas áreas; produção fora de época e o ano todo; proteção (estufas) a intempéries da natureza tais como geada, chuva e granizo; eliminação de diversas operações, como preparo de solo e a rotação de culturas.   As desvantagens desse modo não convencional de cultura, segundo Silveira, ficam por conta do custo mais elevado, na aquisição dos materiais para a estufa e bancadas; a exigência de mão de obra e assistência técnica mais qualificadas; os riscos de perdas na produção, em decorrência de falta prolongada de energia elétrica; a contaminação do sistema com doenças pela má manutenção das calhas; e o acompanhamento diário do funcionamento do sistema e da solução nutritiva.

Alface Hidroponia Cultivo

Como plantar alface em hidroponia

A alface (Lactuca sativa L.), pertencente à família Asteraceae, tem origem asiática e foi trazida para o Brasil pelos portugueses no século XVI. A alface é a hortaliça folhosa de maior consumo no Brasil, sendo rica em vitaminas A e C e  minerais como o ferro e o fósforo.

A alface é a espécie vegetal de maior expressão no sistema de cultivo em hidroponia, sendo que quase todos os produtores hidropônicos optam por ela devido a sua fácil adaptação ao sistema, no qual tem revelado alto rendimento e reduções de ciclo em relação ao cultivo convencional no solo. O principal sistema de produção hidropônica de alface utilizado no Brasil é o NFT (Nutrient Film Technique), o sistema floating também é utilizado, porém em menor escala.

Mudas para cultivo de alface hidropônica

Para produção de alface em hidroponia o produtor pode optar por comprar suas mudas, já formadas, em uma agropecuária, ou produzi-las em sua propriedade. Para produzir suas mudas ele deve:

  • Adquirir sementes de alface peletizadas. Semente peletizadas facilita a semeadura e tem bom poder germinativo.
  • Adquirir um substrato para a semeadura e crescimento das sementes de alface. É recomendado o uso de espuma fenólica.
  • Fazer pequenas perfurações na espuma fenólica e adicionar uma semente em cada buraco.
  • Após a semeadura deve-se irrigar a placa e acondiciona-la em um ambiente protegido, com temperaturas amenas.
  • Após 24 horas, iniciar a iniciar a irrigação das placas com solução nutritiva.
  • Após aproximadamente 7 dias as mudas estarão prontas para o transplante no sistema de cultivo hidropônico.

Sistema de cultivo hidropônico para alfaces

O sistema mais usado no Brasil e no mundo para se produzir alface em hidroponia é o NFT.

Existem vários tipos e modos de sistemas NFT, mas o mais comum e barato é o sistema composto por canos de PVC. Nesse sistema, as plantas são alocadas em orifícios feitos ao longo do tubo de PVC, de modo que somente as raízes se estendam para dentro do cano. Dentro desse cano, flui constantemente um filme fino de solução nutritiva, entrando em contato com as raízes. Esses canos, são dispostos com uma pequena declividade, facilitando o escoamento da solução nutritiva que entra pela parte mais alta e escoa através das raízes até a parte mais baixa e retorna ao reservatório da solução. Para posterior bombeamento e recirculação no sistema.

Alface Hidroponia Cultivo

Solução nutritiva para alface em hidroponia

Existem várias receitas de soluções nutritivas para cultivo de alface que podem ser compradas prontas. Ou o produtor pode optar por preparar sua própria solução com base em uma fórmula padrão.

É importante salientar que não existe uma que seja adequada para todas as culturas. Para cada espécie e condições de cultivo existe uma solução nutritiva mais adequada, dependendo da exigência nutricional.

A solução nutritiva mais utilizada para cultivo de alface é a desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas.

Fertilizante g/1000L
Nitrato de cálcio Hydros® Especial 750
Nitrato de potássio 500
Fosfato monoamônio 150
Sulfato de magnésio 400
Sulfato de cobre 0,15
Sulfato de zinco 0,5
Sulfato de manganês 1,5
Ácido bórico 1,5
Molibdato de sódio 0,15
Tenso-Fe® (FeEDDHMA-6% Fe) 30

A solução nutritiva requer acompanhamento constante do produtor, pois ela é fundamental para o pleno desenvolvimento dos vegetais.

A temperatura da solução nutritiva deve permanecer entre 18 e 24°C. Fora dessa faixa a planta tem dificuldades em absorver os nutrientes.

O controle do pH da solução é igualmente importante para produção de alface. Um kit de teste deve ser usado para verificar o pH da solução diariamente. Recomenda-se a manutenção do pH em uma faixa ligeiramente ácida  em 5,8 a 6,4. Se o pH estiver muito alcalino deve-se adicionar um ácido fraco na solução para baixar o pH. Se estiver muito baixo (ácido), deve-se adicionar a solução uma base fraca como o hidróxido de potássio para corrigir o pH.

A concentração dos nutrientes deve ser constantemente monitorada. Pois a medida que a planta se desenvolve ela retira água e nutrientes da solução. Para o monitoramento da concentração de nutrientes é utilizado um aparelho chamado condutivímetro. Sendo que a leitura ideal está na faixa de 1,5 a 3,5 miliSiemens/cm, que corresponde a 1.000 à 1.500 ppm de concentração total de íons (nutrientes) na solução. Veja mais cuidados que se devem ter com a solução nutritiva.

Condições do ambiente para produção hidropônica

Para o cultivo de alface em hidroponia devem ser observadas algumas condições do ambiente para que o desenvolvimento da cultura seja pleno.

A umidade relativa do ar no ambiente de cultivo deve permanecer em torno de 70%. A alta umidade do ar pode promover o aparecimento de sintomas de deficiência de nutrientes, mesmo tendo nutrientes em abundância na solução nutritiva. Isso ocorre, pois em alta umidade no ambiente há pouca transpiração e com isso pouca translocação de água e nutrientes até as partes mais novas das folhas. Além disso, a alta umidade relativa do ar pode aumentar a incidência de doenças nas plantas.

A temperatura também é um fator muito importante, pois tanto em condições da altas ou baixas temperaturas as plantas podem cessar seu crescimento. Além disso, podem apresentar distúrbios fisiológicos que depreciam o valor do produto. A temperatura deve ser mantida em torno de 25°C.

Tanto a umidade quanto a temperatura podem ser corrigidas com a instalação de exaustores ou ventiladores nas estufas de cultivo.

Colheita e armazenagem de alfaces na hidroponia

A alface hidropônica é geralmente colhida com as raízes associadas a parte aérea. Quando muito longas as raízes podem ser aparadas com uma tesoura ou envolvidas em torno da aste inferior.
Mantendo as raízes a alface pode ser armazenada, sem perder a qualidade, por duas semanas, desde que seja armazenada em local com baixa temperatura em alta umidade.
Uma vantagem da hidroponia é que como não há terra envolvida na produção, a alface permanece limpa e não há necessidade de  lavar antes de comercializar. As plantas podem ser embaladas individualmente.

Como manejar alface em sistema de cultivo hidropônico

No Brasil, o cultivo comercial de hortaliças e plantas ornamentais, com o uso da técnica de hidroponia, é de introdução recente e vem se expandindo rapidamente nas proximidades dos grandes centros urbanos, onde as terras agricultáveis são escassas e caras e há grande demanda por produtos hortícolas. Existem muitas variações dentro das técnicas de hidroponia, cada uma com suas peculiaridades. Uma delas é a hidroponia vertical em substrato.

Trata-se de uma técnica conhecida na Europa desde a década de 1970. Esse sistema aproveita vantagens da hidroponia convencional e adiciona outras, especialmente a referente ao melhor aproveitamento da área de estufas.

Um substrato agrícola deve apresentar características físicas e químicas que proporcionem bom crescimento do sistema radicular. Com o objetivo de avaliar qual o melhor material a ser utilizado em sistema de hidroponia vertical foi conduzido um experimento com a cultivar de alface Cinderela, que é do tipo solta-crespa, possui folhas grandes e coloração verde-claro e não forma cabeça.

Foram avaliados cinco substratos: casca de arroz carbonizada, areia janaúba, vermiculita, substrato comercial para a produção de mudas de hortaliça e casca de arroz in natura + substrato comercial.

Todo o cultivo da alface Cinderela foi dividido em três fases: semeadura, berçário e a fase definitiva de produção, que consistiu na utilização dos tubos na vertical. Durante as etapas de berçário e fase definitiva utilizou-se uma solução nutritiva comercial disponível no mercado, específica para a alface.

A semeadura foi feita em espuma fenólica sobre bancada de madeira, sendo irrigada com água duas vezes ao dia até o início do processo de germinação. Sete dias após a semeadura, as células da espuma fenólica foram destacadas e colocadas no berçário, para garantir um bom desenvolvimento inicial do sistema radicular da planta.

Foi montado um berçário (Figura 1), com duas telhas de amianto de 1m de comprimento por 0,5m de largura, com canaletas de 3cm de profundidade por 6cm de largura, em uma bancada com 10% de inclinação coberta por um plástico leitoso e abastecido por um reservatório de 20 litros. Nessa etapa, a bomba era acionada por intervalos de 15 minutos intercalados por intervalos de 15 minutos desligada.

Na primeira semana no berçário as plântulas foram irrigadas com a solução nutritiva, com a metade da concentração recomendada pelo fabricante da solução. Essa prática é importante para não matar as mudas recém-formadas. Somente a partir de 14 dias de semeadura é que começou a ser utilizada a concentração recomendada da solução no sistema. As plantas ficaram 14 dias no berçário e foram transplantadas para a fase definitiva, com os tubos na vertical, após a emergência da quinta folha, que ocorreu aos 21 dias após a semeadura. Não foi utilizado nenhum tipo de reposição, por isso semanalmente a solução nutritiva foi trocada nessa fase.

Diariamente, foi feito o acompanhamento do pH, da temperatura da solução e da condutividade, tanto no berçário quanto no leito definitivo de cultivo. O pH foi mantido em uma faixa de 6 – 6,8. Quando ficava alcalino, acima de 6,8, era corrigido com uma solução de ácido fosfórico (1M). A condutividade média foi mantida entre 2ms/cm e 2,8ms/cm. No berçário foram feitas correções de pH diariamente, devido à alcalinidade da água, já no leito definitivo não foi necessário nenhum tipo de correção.

Para a fase definitiva de produção foi montada uma estrutura à base de canos de PVC de 150mm, arames e caibros de eucalipto. Foram utilizados 20 tubos de 1,20m de comprimento, distribuídos em duas fileiras de dez tubos (Figura 2). Os caibros foram dispostos em forma de duas traves espaçadas, a 1m uma da outra, onde ficaram pendurados os tubos. A parte inferior de cada tubo foi aquecida e amassada, com o auxílio de luvas de couro, deixando-se apenas uma saída para o escoamento da solução. No final de cada tubo, foi colocada uma camada de 10cm de brita para a retenção do substrato. O espaçamento entre os tubos foi de 0,4m por 1m entre as fileiras. Para o acondicionamento das plantas foram feitos furos de 4cm de diâmetro em duas fileiras opostas e alternadas, comportando sete plantas cada tubo.

Os tubos eram abastecidos por um reservatório de 300 litros e a solução nutritiva foi fornecida por meio de gotejadores, com uma vazão de, aproximadamente, 4,6 litros de solução por hora, situados na parte superior de cada tubo. O acionamento da irrigação foi controlado por um temporizador, programado para acionar a bomba por 15 minutos a cada intervalo de 95 minutos. E nessa fase, também, por não ser utilizada nenhuma solução de reposição, a solução nutritiva foi trocada semanalmente. Foi empregada uma bomba Submersa Sarlo Better Sb2000, com uma vazão máxima de 1.950L/h e altura manométrica máxima de 2,10mca.

A colheita foi realizada 45 dias após a semeadura (Figura 3). Foram avaliadas as seguintes características: massa fresca da parte aérea (MFPA), massa seca da parte aérea (MSPA), número total de folhas (NTF) e comprimento médio das folhas (CMF).

A massa fresca foi obtida logo após a colheita, sendo que a planta foi cortada rente ao tubo de PVC. Na determinação da MSPA, o material colhido foi levado à estufa com circulação forçada de ar para secagem a 60°C, até peso estável. Na determinação do NTF foram consideradas folhas a partir de 8cm de comprimento. As folhas foram medidas com uma régua, sendo destacadas do caule e consideradas todas com mais de 8cm. Para as características avaliadas, foram tomadas três plantas de cada parcela, sendo desconsideradas as plantas da borda.

Observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos em nenhuma das características avaliadas. A média de todos os tratamentos da MFPA foi de 96,06g, valor superior para o cultivo em solo utilizando a alface Cinderela. O mesmo também foi observado para as outras características NTF, MSPA, TMF e CMF.

Mesmo não havendo diferença na produtividade, a areia foi o substrato que demonstrou maior potencial para ser utilizado em sistema de hidroponia vertical com substratos para a cultura da alface. Mas, os resultados sugerem que são necessários mais estudos para testar mais ciclos de cultivos e o reaproveitamento dos substratos.