Emanuel Bonfim de Abreu Franca – Engenheiro agrônomo – emanuel.agro@outlook.com
Thiago Feliph Silva Fernandes – Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal – FCAV/UNESP – thiagofeliph@hotmail.com
Bianca Cavalcante da Silva – Doutoranda em Agronomia/Ciência do Solo – FCAV/UNESP – bianca.cavalcante@unesp.br
São três os principais sistemas hidropônicos: sistema DFT,
também chamado de “floating”, talvez o menos difundido no País: Em uma mesa
plana onde fica circulando a solução, formando uma lâmina profunda (5 a 20 cm)
onde as raízes ficam submersas. Geralmente placas de poliestireno (isopor)
sustentam as plantas.
Sistema com substratos, popularmente conhecido como
semi-hidropônico. Consiste no uso de substratos inertes em vasos para a
sustentação das plantas, onde a solução nutritiva é percolada através desses materiais
e drenada pela parte inferior dos vasos, retornando ao tanque de solução.
E, por fim temos o Sistema NFT como o mais popular do País,
composto basicamente de um tanque de solução nutritiva, de um sistema de
bombeamento, dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao tanque.
Para a implantação de um sistema NFT ou técnica de fluxo
laminar de nutrientes, é preciso saber quais materiais utilizar, e neste
momento surgem algumas dúvidas. Em um sistema NFT, basicamente se usam dois
tipos de tubulações hidráulicas de pressão, que são responsáveis pela
distribuição e coleta da solução nutritiva e as tubulações que servirão de
canais de passagem do fluxo intermitente da solução e sustentação das plantas,
que são as tubulações das bancadas hidropônicas.
Tubulação tem que ser branca?
Não, a cor branca, na verdade, nem mesmo é a ideal em
tubulações hidropônicas, mas é utilizada principalmente por ser uma das cores
mais comuns encontradas no mercado. O problema da tubulação branca, ou na
verdade, de cor clara, é a incidência de luz, que aumenta a ocorrência de
algas. E não se enganem, se há um vilão na hidroponia, são as algas.
Partindo deste princípio, a lógica nos leva à cor preta,
afinal, é assim com a maioria dos vasos, sacos para mudas, bandejas de cultivo,
etc. No entanto, essa é uma ideia parcialmente errada. Uma bancada toda feita
de tubos pretos funciona bem em climas mais amenos, mas em climas mais quentes
estaria mais para um aquecedor de água do que para um sistema hidropônico.
O cenário ideal é de uma tubulação de exterior branco ou
claro e interior preto, assim diminuindo a incidência de luz e preservando a
temperatura da solução.
Opções de tubulações
Segundo Furlani (2009), as tubulações mais usadas no Brasil
são os tubos de esgoto de policloreto de vinila branco ou preto, e ainda
tubulações azuis de irrigação. Quando ouço falar de tubulações para hidroponia
de sistema NFT, na maioria das vezes penso em tubos de 75 mm ou 50 mm de 6,0
metros de comprimento, e geralmente nas cores branca, cinza ou bege. Esses
tubos são fabricados para a construção civil, portanto, para seu uso no sistema
hidropônico eles devem ser adaptados.
No mercado já há algum tempo, temos a opção mais óbvia,
perfis hidropônicos pré-moldados, geralmente de exterior branco e interior
preto, a combinação perfeita e equilibrada entre luz e temperatura.
Os perfis possuem fundo achatado para melhor acolhimento das
plantas, e altura e comprimento mais compatíveis com a produção hidropônica. O
problema desse tipo de tubulação é a disponibilidade e o preço.
Quando o assunto é custo-benefício, as tubulações PVC tipo
esgoto se destacam, mesmo que não possuam os cortes, formato e cores ideais. É
justamente pela questão do custo-benefício que as tubulações tipo hidráulica de
pressão, geralmente de cor vermelha e azul, e mais espessas, não são
recomendadas para a construção das bancadas, mas obrigatoriamente integram o
sistema de distribuição de solução nutritiva.
Recomendações essenciais
O custo-benefício deve ser a principal preocupação na hora
da montagem de um sistema hidropônico, por isso, em cada etapa do planejamento
ele deve ser levantado, e em se tratando das tubulações, a cor é o menor dos
problemas.
Ao escolher o tipo de tubo, o mais importante é pensar na
logística de aquisição. dificilmente uma loja de varejo terá 200 tubos PVC a
pronta entrega. Parece muito, mas é apenas o suficiente para a montagem de 10
bancadas de 12 m cada.
Outros problemas podem envolver sazonalidade e aumento de
preços, valores de frete exorbitantes e indisponibilidade de material. Para
superar esses e outros problemas, as recomendações a seguir são muito
importantes.
ARTE
• Custo benefício não significa economizar a todo custo. Opte
por materiais de qualidade razoável. Tubos de má qualidade possuem tempo de
vida útil menor e podem, inclusive, quebrar ou rachar, tanto no transporte como
na hora da abertura dos furos para a fabricação dos perfis.
• A escolha entre a aquisição de perfis hidropônicos pré-fabricados
ou tubos PVC tipo esgoto deve levar em consideração mais que o preço.
Lembre-se, ao adquirir tubos PVC, você investirá tempo e mão de obra para
transformá-los em perfis hidropônicos. O processo é fácil, tudo que precisa é
de uma superfície plana, uma boa furadeira e um bom jogo de serras-copo, porém,
é um processo demorado e cansativo.
• Fuja das varejistas. Ao buscar a aquisição de tubulações,
procure sempre lojas atacadistas, ou de preferência compre direto das fábricas
e distribuidoras. Muitas vendem para pessoa física na modalidade à vista, e o
melhor, sem custo adicional no transporte.
• O diâmetro das tubulações, o diâmetro dos furos, tudo depende
do tipo de cultura. Por exemplo:
; Alface: tubos PVC
esgoto 75 mm x 6 m, 25 cm entre centros de furo (24 furos e 51mm de diâmetro),
perfil final.
; Coentro: tubos PVC
esgoto 75 mm x 6 m, 25cm entre centros de furo (24 furos), perfil final; tubos
PVC esgoto 50 mm x 6 m, 12 cm entre centros de furo (50 furos 51mm de
diâmetro), berçário.
; Couve: tubos PVC
esgoto 75 mm x 6 m, 25 cm entre centros de furo (24 furos 32 mm de diâmetro),
perfil final; tubos PVC 32 mm x 5 a 10
cm encaixados para suporte do caule.
* As indicações são sugestões, e não regras.
Como agregar à técnica
Se você perceber que as tubulações esgoto de cores claras
são a melhor escolha para o seu caso, mas está com medo das algas, não se
preocupe, existem formas para contornar esse problema.
• Fitas reflexivas: basicamente são fitas prateadas
que refletem a luz. Na teoria, possuem três benefícios básicos: impedem a passagem
da luz para o interior dos canos; ajudam na regulação térmica e aumentam a
disponibilidade de luz difusa para as plantas. Tudo que você precisa fazer é
encapar seus tubos com essa fita. Outra alternativa igualmente vantajosa é a
pintura dos tubos com tinta prateada.
• Lâmpadas germicidas: essas lâmpadas ainda são pouco
usadas em sistemas hidropônicos. As pequenas maravilhas exterminam as algas
diretamente dentro do reservatório, por meio da emissão de luz ultra-violeta.
• Troca de solução e limpeza do sistema periodicamente: a
limpeza ainda é a melhor forma de combater não só as algas, como também fungos
e bactérias.
Manejo
Uma vez feita a aquisição das tubulações, sejam elas tubos
para construção civil e/ou de uso específico para hidroponia, é hora de montar
as bancadas. A disposição das bancadas já deve ter sido decidida lá no início
do projeto, antes mesmo da montagem da estufa. Mas, aqui vamos desconsiderar
essas etapas.
O principal em relação à montagem das bancadas é a distância
entre os suportes (os pés) e a inclinação das bancadas.
• A distância ideal fica entre 1,5 m a 1,8 m. Particularmente,
acho bancadas com pés de 2 m de distância um tanto instáveis.
• Seria lógico dizer que a escolha da inclinação varia de
acordo com o clima e com o tipo da cultura. Sim, isso é verdade, mas o
principal fator a influenciar a inclinação das bancadas é a escolha do tamanho
das mesmas.
” Bancadas de 4,0 a 6,0
m permitem inclinações de 10 a 12%;
” Bancadas de 6,0 a 12
m já apresentam problemas com inclinações maiores;
” Acima de 12 m, o
melhor é optar por inclinações de 3 a 6%.
Inclinações muito pequenas podem ocasionar encharcamento,
diminuição da aeração da água, problemas de temperatura, entre outras coisas.
Já as mais altas podem causar o afastamento das plantas mais novas devido à
velocidade da água, no entanto, são ideais para oxigenar a água. O ideal é
sempre buscar o meio termo.
Particularmente, prefiro bancadas com 18 metros de comprimento
com inclinação de 3 a 5%. Uma alternativa para manter uma inclinação alta,
mesmo em bancadas longas, é aproveitando a declividade natural do terreno.
Custo
O custo da montagem de uma bancada hidropônica pode ser
dividido em tubulações e suporte. Quanto a este último, os produtores podem
fazê-la de madeira, aço ou o material mais conveniente, e inclusive economizar
bastante se puder utilizar ripas e estacas que estejam sem uso.
Quanto à tubulação, novamente o preço vai variar de acordo
com a localização geográfica, época do ano e outros fatores inesperados. Neste
ano, por exemplo, tivemos a pandemia de Sars Cov 2, e presenciamos os preços
dos tubos PVC subirem muito, assim como de diversos outros insumos e matérias-primas.
Mas, podemos usar um exemplo real recente para termos uma
ideia dos custos envolvidos. No município de Garrafão do Norte, região nordeste
do Estado do Pará, a logística de entregas é um problema e tanto, afinal, o
município está a mais de 270 km da capital Belém.
Lá, uma determinada distribuidora de materiais de construção
oferta tubos PVC tipo esgoto 75 mm e 6,0 m de comprimento, de qualidade
excelente, por R$ 64,50, já com o valor do transporte incluso e com entrega em três
a seis dias úteis.
O cálculo a partir daí é simples. Para montarmos uma bancada
de 12 m x 2 m, utilizando um espaçamento entre plantas de 20 x 25 cm, exige 20
tubos. Logo, para uma bancada, o investimento em canos, nestas condições
específicas, seria de R$ 1.290,00.
Importante deixar claro que este valor representa apenas o
custo das tubulações de uma única bancada, e o investimento em um sistema de
hidroponia vai muito além disso, como bombas, estufas, tubulações hidráulicas,
parte elétrica, insumos e energia elétrica.
Esta estufa teria capacidade para 480 plantas de alface, com
permanência de cada planta de 20 a 30 dias. No município, o preço cobrado pela
alface pelos produtores é de R$ 1,50 por planta. Logo, a cada ciclo o produtor
poderá arrecadar o valor bruto de R$ 720,00 e, neste contexto, as tubulações
estariam pagas em menos de dois meses.