A hortelã, embora seja uma planta exótica, tem
aroma e sabor que podem variar conforme a espécie. Assim como as hortaliças, as
hortelãs representam uma fonte de renda, pois podem ser cultivadas não só para
o consumo próprio, mas em uma escala maior, destinadas aos supermercados e
casas de produtos naturais, na formas natural ou seca
Usadas ao longo da história da humanidade, por terem a
capacidade de sintetizar uma grande variedade de compostos químicos, as plantas
medicinais se destacam por possuírem mais de 40 segmentos de mercado. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), planta medicinal é qualquer vegetal que
possua em um de seus órgãos, ou em todas as partes, substâncias com
propriedades terapêuticas, ou que sejam ponto de partida na síntese de produtos
químicos ou farmacêuticos.
Essas substâncias, ou princípios ativos, podem ser produtos
do metabolismo primário, que são definidos como indispensáveis à vida da
planta, e produtos do metabolismo secundário, que correspondem, de uma maneira
simplificada, à individualidade de cada uma.
Na maioria das vezes, essas substâncias são resultantes do
metabolismo secundário, dependendo da interação da planta com o meio em que
vive. Os princípios ativos mais importantes são: alcaloides, ácidos urônicos,
glicosídeos, heterosídeos, óleos essenciais, taninos e ácidos orgânicos.
A
interessante hortelã
Dentre as plantas medicinais, a hortelã desperta interesse
econômico, por ser fonte de compostos como mentol, isomentona, ácidos
orgânicos, sitosterol, entre outros. Contudo, o maior destaque é o mentol,
empregado como flavorizante e aromatizante de alimentos, bebidas, perfumes,
produtos de higiene bucal e preparações farmacêuticas, no tratamento de
problemas respiratórios e gastrointestinais.
A presença do grupo metil na posição 1 e da hidroxila na posição
3, tendo na vizinhança um grupo volumoso, são condições necessárias para
determinar as propriedades refrescantes do mentol.
Espécies
Cabe ressaltar que existem diferentes plantas do gênero Mentha, conhecidas popularmente como
hortelãs, compreendendo cerca de 30 espécies. As hortelãs de uso popular mais
frequente são a hortelã-verde (Mentha
spicata L.); o mentrasto (Mentha
rotundifolia Huds); menta-do-levante (Mentha
citrata Ehrhart); Mentha crispa
L., Mentha arvensis L. e a
hortelã-pimenta (Mentha x piperita
L.), a mais famosa das hortelãs, sendo as duas últimas as mais ricas em mentol.
Segundo a OMS, 80% da população mundial faz ou já fez uso de
plantas medicinais para aliviar algum sintoma desagradável, estimando que 30%
sejam da família Laminaceae, à qual
pertencem as espécies de hortelã.
Importância
mundial
Não há dados atualizados sobre a produção anual da hortelã
nos Estados brasileiros, mas sabe-se que o mercado de plantas medicinais movimenta
cerca de US$ 160 milhões por ano e, em toda a cadeia produtiva, o setor de
medicamentos fitoterápicos e extração de óleos essenciais movimenta anualmente
em torno de R$ 1 bilhão.
O Brasil já foi o maior exportador mundial de óleo essencial
da Mentha piperita, mas passou a
importar devido ao baixo nível de produção na região sul e sudeste do País,
onde era cultivada em larga escala em cidades como Maringá (PR) e Barbosa
Ferraz (PR).
Estados da região sul e sudeste, como São Paulo e o norte do
Paraná, eram responsáveis por 95% da produção brasileira na década de 1960.
Contudo, atualmente o Brasil importa a maior parte dos óleos essenciais,
incluindo os extraídos da hortelã.
A partir disto, é relevante dizer que a hortelã representa
uma boa alternativa de rentabilidade, pois abrange o plantio em pequena escala,
para consumo próprio ou local, mas também em larga escala, destinando a grandes
centros, supermercados e casa de produtos naturais.
Além disso, a versatilidade da planta permite que suas
folhas sejam comercializadas tanto secas como frescas. Um exemplo é que as
vendas de fitoterápicos no mercado interno tem crescido 15% ao ano, contra 4%
das vendas dos medicamentos sintéticos.
Derivados
Quando se trata de matéria verde, a hortelã produz de 20 a
30 mil kg/ha/ano. Para obtenção da essência, o rendimento médio encontrado é de
0,3 a 0,5% sobre matéria fresca, e de 1,0 a 3,0% sobre a matéria seca.
Com o manejo correto, as plantas produzem em destilação a
média de 1% em óleo do peso do material destilado. Sendo a faixa comum entre de
10 a 13 t/ha de rama murcha pronta para a destilação (em três cortes
sucessivos), seriam então fornecidos de 100 a 130 kg de essência/ha/ano. Dentre
os produtos obtidos, tem-se o um rendimento médio de 30 a 50 kg/ha/ano de mentol,
com 75 a 85% de pureza.
Para a obtenção desses resultados, fatores técnicos como
forma de plantio, tratos culturais, aspectos fitossanitários, época de plantio
e de colheita, transporte, secagem armazenamento, entre outros, devem ser
considerados, se atentando à região de cultivo desejada, porque tanto o clima
quanto o solo são componentes essenciais para a maior formação de óleo
essencial.
Exigências
da planta
As espécies de menta são exigentes quanto à nutrição mineral
em cultivos em solo e em hidroponia, sendo as práticas agronômicas de manejo da
fertilidade do solo, calagem e adubação as mais tradicionais.
Segundo Biasi e Deschamps (2009), existem duas recomendações
de adubação que podem ser adotadas – Maia e Furlani (1996) e Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo – SBCS (2004).
Segundo Maia e Furlani (1996), a calagem deve ser realizada
para elevar a saturação de bases a 70%. Os mesmos autores recomendam adubação
de cobertura com 30 kg.ha-1 de N 30 dias após o plantio e 30 kg.ha-1
de N e 30 kg.ha-1 de K2O após cada corte.
Nas recomendações da SBCS (2004), a calagem deve ser
calculada pelo índice SMP para o solo atingir pH de 6,0. Com doses de
nitrogênio de até 80 kg.ha-1, se o nível de matéria orgânica no solo
for inferior a 2,5%, 50 kg.ha-1 em solos com teores de 2,6 a 5,0% e
20 kg.ha-1, ou menos, quando o teor estiver acima de 5%.
Para a adubação com fósforo e potássio, a aplicação de 120
kg.ha-1 de P2O5 e 90 kg.ha-1 de K2O
é recomendado em solos com níveis baixos desses elementos, de 80 kg.ha-1
de P2O5 e 60 kg.ha-1 de K2O em
solos com teores médios e de 40 kg.ha-1 de P2O5
e 30 kg.ha-1 de K2O em solos com teores altos.
Alerta
É importante ressaltar que a aplicação de ureia em doses
superiores à recomendada pode resultar na diminuição da produção do mentol,
contudo, níveis mais elevados de nutrientes proporcionados pela adubação
orgânica têm efeitos positivos no crescimento e no desenvolvimento das plantas.
Além da adubação mineral, o uso da adubação orgânica promove
inúmeros benefícios decorrentes da aplicação de resíduos orgânicos,
destacando-se a manutenção da umidade, da fertilidade e da estrutura física do
solo, o favorecimento do controle microbiológico e a dinâmica de nutrientes, o
que afeta favoravelmente nos rendimentos da produção vegetal.
Uma outra técnica, complementar, que pode ser adotada, é uso
de fungos micorrízicos arbusculares, que promovem a expansão da zona de
absorção da raiz, a partir do desenvolvimento de hifas que se ramificam,
favorecendo a absorção de nutrientes como fósforo (P), zinco (Zn), cobre (Cu),
nitrogênio (N) e potássio (K), podendo ser responsáveis pela absorção de cerca
de 80% do P, 25% do N e Zn e 10% do K.
Propagação
No plantio, outro fator de destaque da cultura é que a sua
propagação pode ser realizada de forma sexuada ou assexuada. Na propagação
sexuada, as sementes são plantadas em canteiros com transplante das mudas para
o local definitivo após dois meses.
Para a propagação assexuada podem-se utilizar estacas de
caule e de rizomas. As estacas de caule devem ser preferencialmente de ramos
apicais e apresentar comprimento médio de 5,0 a 10 cm, com duas folhas,
cortadas pela metade com o auxílio de uma tesoura de poda.
Plantio
No caso dos rizomas, o comprimento pode variar de 10 a 25 cm
e deverão ser plantados em sulcos de no máximo 10 cm de profundidade. Alguns
estudos indicam gasto de 300 kg de rizomas por hectare no plantio direto, ou
100 kg no enviveiramento com rizomas de aproximadamente 10 cm de comprimento,
ou dois a três pares de gemas.
Durante o cultivo a planta necessita de luz plena para se
desenvolver, e o florescimento só ocorre quando é exposta a 12 horas diárias de
luz. O espaçamento é outro ponto a ser ponderado no momento do plantio, pois em
solos com maior fertilidade o espaçamento adotado pode ser de 0,7 x 0,3 m e em
solos com menor fertilidade de 1,0 x 3,0 m.
Em
hidroponia
Um dos principais motivos para o abandono do plantio de
hortelã em território nacional foi a fertilidade insuficiente para a exigência
nutricional da cultura. Nesse sentido, a hidroponia tem se tornado uma
alternativa bastante interessante em relação ao cultivo tradicional feito no
solo, pois permite o plantio durante todo o ano, além de facilitar o controle
da parte nutricional. Mediante isto, a solução nutritiva deve ser formulada de
forma que abranja todos os nutrientes necessários para o crescimento e
desenvolvimento da cultura.
O nitrogênio (N) é um elemento imprescindível, diretamente
relacionado a rotas do metabolismo secundário. Seu fornecimento de forma
controlada em sistemas hidropônicos traz não só aumento de produtividade, como
uma melhor qualidade fotoquímica. Outro elemento que se comporta melhor neste
tipo de sistema é o fósforo (P), essencial para o desenvolvimento pleno da
parte aérea das plantas, uma vez que sua movimentação em solo é lenta.
Colheita
No Estado de São Paulo e no Norte do Paraná a colheita
normalmente é realizada nos meses de novembro a janeiro, abril a maio e julho a
agosto, quando as plantas atingem o florescimento, que pode ocorrer entre três a
quatro meses (quando não há falta de chuvas). Nessa época, maior porcentagem de
óleo é acumulada e o sabor e aroma são mais intensos.
É possível colher todas as hastes três vezes por ano, com os
cortes realizados a cinco centímetros do nível do solo, por quatro a seis anos,
sem a necessidade de replantio. É importante que a colheita seja realizada em
períodos noturnos ou logo pela manhã, para que não haja perda de óleo
essencial.
Custo
envolvido
Após a colheita, para o beneficiamento das plantas
medicinais, em geral, é necessário além de terra disponível e equipamentos de
cultivo usuais, uma unidade de secagem e armazenagem.
Estima-se que os investimentos necessários para o plantio de
uma área de 1,0 ha sejam de cerca de R$ 7 mil. Estes recursos abrangem os
valores gastos no material de propagação (mudas), adubação e preparo do solo,
plantio, manejo, tratos culturais e colheita.
Com relação à secagem, é indispensável se atentar à
velocidade com que a água é retirada da planta, pois um processo muito rápido
pode degradar os princípios ativos. Também não deve ser muito lento, porque
pode ocorrer a proliferação de microrganismos indesejáveis.
Pesquisas
Em um estudo comparando a secagem de menta (Mentha piperita) e sálvia (Salvia officinalis) pelo método
tradicional (secagem ao sol) e em secador solar com ar aquecido a 45ºC, os
pesquisadores observaram que o teor de óleo essencial extraído da menta e da
sálvia apresentaram um aumento, respectivamente, de 40 e 25% com a utilização
da secagem em estufa solar, em relação à secagem pelo método tradicional.
Constataram também que o emprego da secagem em secador
melhorou a qualidade do produto, intensificando a coloração e o conteúdo de
seus princípios ativos. Contudo, cabe evidenciar que como a cultura da hortelã
pode ser comercializada também na forma fresca, a implementação de uma unidade
de secagem pode ser facultativa.
Vamos
ao que interessa
O produtor que decide por implementar o cultivo da hortelã
se beneficia com um retorno rápido, porque a planta possui ciclo curto e em torno
de 40 dias após o plantio já estão desenvolvidas o suficiente para a colheita.
No Estado do Paraná, o preço de uma bandeja de 50 g é em
média de R$ 1,50. Em São Paulo, o preço médio para um maço de 0,15 kg é R$ 4,40,
podendo chegar a R$ 5,05. Pernambuco, por sua vez, tem o preço médio de R$ 5,00
para um molho de 0,185 kg. Logo, é importante conhecer o mercado local ou para
onde se pretende escoar a produção.
Em sistema
hidropônico, a utilização de cultivo protegido favorece a alta produção por
área, maior controle no fornecimento de água e nutrientes, manejo do estado
fitossanitário, além de garantir melhor qualidade e maior possibilidade de
oferta de mudas.
A hortelã já foi uma das ervas aromáticas mais cultivadas em
território nacional, elevando alguns municípios ao status de ‘Capital da
Menta/Hortelã’. É uma cultura rústica e muito versátil quanto ao destino final
de seus produtos e subprodutos. Com o avanço de pesquisas na área de plantas
medicinais e crescente interesse e consumo da população por produtos naturais,
o cultivo de hortelã é um negócio rentável, promissor e inspirador.
Investimento que deu certo
Walace Ferreira da Silva é produtor de hortelã convencional
e hortelã-pimenta na fazenda Ilha Grande, localizada em São Joaquim de Bica
(MG), onde é produzido 1,0 hectare, com produtividade média de 150 molhos por
dia, que rendem R$ 90,00 diariamente.
Ele conta que a hortelã-pimenta é uma erva híbrida que
surgiu do cruzamento de diversas espécies de menta, conhecida por vários nomes,
como hortelãzinha, hortelã de panela, hortelã-da-cozinha e hortelã de cheiro.
“O melhor período para se plantar a hortelã é no frio, nos
meses de abril, junho e julho. Para uma boa produção são necessárias duas
irrigações ao dia. A única dificuldade que vejo para plantar a hortelã é o
aparecimento das moscas-brancas, mas até elas são fáceis de controlar, basta
fazer uma mistura de cravo da índia moído com água e aplicar na lavoura, uma
forma fácil, prática e econômica, além de ser um produto natural”, explica o
produtor.
A hortelã, após ser plantada, demora em torno de 50 dias
para chegar à fase de colheita. O adubo utilizado por Walace é o 12-6-12, aplicado
de duas a três, e ainda esterco de galinha, de 10 em 10 dias, para enriquecer o
solo com matéria orgânica. Ele indica que a adubação química seja feita após 15
dias, na lavoura.
A hortelã é uma planta que exige podas, e com o manejo
certo, Walace garante que a planta chega a durar mais de 10 anos.