Incêndios no Pantanal e no Cerrado

Incêndios no Pantanal e no Cerrado

Gabrielli de Almeida Santos
Graduanda em Engenharia Florestal – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
gabriellidealmeidasantos@gmail.com

Tatiane Pereira Gilioli
Engenheira florestal e mestranda – UFMT
tatigilioli@outlook.com

Jaçanan Eloisa de Freitas Milani
Engenheira florestal e professora – UFMT
jacanan.milani@gmail.com

O pantanal é considerado a maior planície inundável do mundo. Trata-se de uma região de encontro de grandes biomas como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, pelo lado brasileiro, e influência do “Chaco”, nomenclatura que se refere ao Pantanal da Bolívia e Paraguai. A flora pantaneira tem grande semelhança com a do bioma Cerrado, o que leva a ser considerado por muitos uma savana inundável.

Dada a similaridade com o Cerrado, é comum associar o pantanal como um ecossistema dependente do fogo, como ferramenta de manutenção e dispersão de espécies. Entretanto, é necessário precaução ao defender tal ponto de vista.

Para que ocorra o fogo, é necessário a concomitância de três elementos: comburente (oxigênio), combustível (material orgânico) e calor (fonte de ignição). A partir do início do fogo podem se estabelecer os incêndios florestais, que são classificados em subterrâneos, superficiais e de copa.

Dimensão

A intensidade e propagação do incêndio poderá variar de acordo com a quantidade de material combustível e comburente, ou seja, quanto maior disponibilidade destes elementos, maior será a duração, a temperatura atingida e o alcance em área.

Quando provocados por ação humana, em períodos de seca, os incêndios afetam populações de animais e vegetais, causando prejuízos econômicos e ambientais.

Em casos de ocorrência natural, isto é, quando a ignição não é por ação antrópica, o fogo é comumente desencadeado por raios, combustão espontânea, atrito de rochas. Ainda assim, há certa ressalva em se afirmar a ocorrência natural, uma vez que há grande dificuldade em se atestar a veracidade do fenômeno.

Sob essa perspectiva, os incêndios, como os de 2020 que assolaram o Pantanal, expuseram a fragilidade desse ambiente a essa perturbação, com a vasta destruição e impacto causado sobre os moradores, sobre a flora e fauna.

É comum e tradicional o uso do manejo do fogo para eliminar resíduos, pragas ou ainda para a renovação do pasto, nas atividades agrícolas e pecuárias no Pantanal. Contudo ele não deve ser usado de forma inadequada.

Incêndios no Cerrado

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado em área apenas pela Amazônia. Ocupa cerca de 23,92% do território nacional, contando com uma área de mais de 2 milhões de km².

A sazonalidade das chuvas e suas características volumétricas são essenciais para a caracterização do bioma. O clima dessa região é estacional, onde a alternância entre o período chuvoso e o período seco é muito bem definida.

Um aspecto adicionalmente importante para a dinâmica do Cerrado é o fogo, atuando como um agente ecológico que ocorre, muitas vezes, de maneira natural dada ao grande acúmulo de matéria vegetal seca proveniente da vegetação. Essa biomassa é produzida mais rapidamente em formações savânicas e campestres, levando a intervalos menores de queimas do que em formações florestais.

Fisionomias campestres e savânicas, em geral, apresentam substrato graminoso-herbáceo contínuo, o que favorece fogos de superfície com maiores velocidades de propagação, e são compostas por espécies mais adaptadas a este fenômeno quando comparadas a formações florestais.

A passagem do fogo auxilia na superação de dormência da semente de plantas adaptadas, evidenciando a longa e importante história evolutiva da biodiversidade em detrimento às condições ambientais extremas relativas ao bioma.

Alerta

Os incêndios acidentais ou criminosos ameaçam a biodiversidade do Cerrado. É um importante fator de perturbação que influencia os ecossistemas florestais. Eles têm um forte impacto tanto sobre as condições bióticas como as abióticas.

Como um elemento de perturbação natural, é um componente essencial para o funcionamento de muitos ecossistemas. Contudo, nas últimas décadas, a intensa influência antrópica resultou em um aumento significativo nas ocorrências em muitas áreas do mundo.

Como consequência, tem-se um desequilíbrio entre os episódios de fogo e o tempo necessário para recuperação do ecossistema, o que leva a fragmentação da paisagem e sua degradação.

Cerrado pede socorro

O Cerrado é o segundo bioma mais queimado no Brasil, segundo dados do INPE. Nos últimos três anos esse bioma acumulou cerca de 187 mil focos de calor, uma média de 62 mil por ano, aproximadamente 31,6% dos focos ocorridos nos biomas brasileiros.

Durante a estação seca, os focos de calor são usualmente de origem antropogênica e se propagam facilmente pela vegetação, podendo atingir grandes áreas e ser de maior intensidade conforme a maior presença de material combustível e condições climáticas que favorecem a propagação do fogo.

O que mudou?

Outro fator de relevância para a alteração do regime de fogo nas savanas foi a expansão e desenvolvimento da fronteira agrícola, bem como as consequências ambientais da transformação da paisagem natural para a paisagem humanizada.

É importante ressaltar que os focos também podem atingir matas de galeria e ciliares, fitofisionomias sensíveis ao fogo, causando uma grande mortalidade de árvores adultas.

No entanto, o manejo controlado com fogo pode ser uma técnica importante em determinados ecossistemas e biomas, como é o caso do Cerrado brasileiro.

O Manejo Integrado do Fogo (MIF) é uma abordagem que considera aspectos ecológicos, culturais e de manejo para propor uso de queimadas controladas, bem como a prevenção e combate a incêndios, com vistas a garantir a conservação e uso sustentável de ecossistemas, além de facilitar a implementação de abordagens que analisam o custo-benefício evitando os incêndios danosos e mantendo o regime de fogo adequado.

Baseia-se em uma perspectiva de constante monitoramento, avaliação, adaptação e redirecionamento das ações com vistas à redução de emissões de material particulado e de gases de efeito estufa, à conservação da biodiversidade e à redução da severidade dos incêndios florestais, respeitando o uso tradicional e adaptativo do fogo.

Não se engane

Neste contexto, as queimas prescritas consistem no uso planejado do fogo para fins de conservação, pesquisa e manejo, em áreas determinadas, com objetivos pré-definidos em planos de manejo integrado do fogo. Na queima prescrita, o fogo é mantido sob condições específicas e seu comportamento é monitorado e manipulado visando alcançar os objetivos planejados.

Dessa forma, o papel da pesquisa aplicada no auxílio à gestão dos recursos naturais e elaboração/implementação de políticas públicas na área ambiental é absolutamente necessária, assegurando que metodologias aplicadas atualmente, estejam de fato corroborando para conservação dos biomas brasileiros.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br