Melão: Manejo cultural exige critérios

Melão: Manejo cultural exige critérios

Algumas informações são necessárias antes de detalhar o
manejo cultural do melão. As principais regiões produtoras no Brasil estão na
região nordeste e são elas: a região de Mossoró, no Rio Grande do Norte,
abrangendo ainda parte do Ceará, e a região do Vale do São Francisco,
abrangendo parte dos Estados da Bahia e de Pernambuco.

As diferentes condições, características de mercado e nível
tecnológico empregado em cada uma dessas regiões irão influenciar o manejo da
cultura. A distribuição da área cultivada se dá conforme o quadro a seguir:

Local/safra Área (ha) 2018/19
Rio Grande do
Norte/Ceará
12.300 (89%)
Vale do São Francisco
(BA/PE)
1.450 (11%)
Total 13.750

Especialistas em melão

No polo de Mossoró (RN), principal região produtora do País,
o foco é o mercado externo, especialmente o europeu. Nesta região estão
concentradas as principais empresas exportadoras da fruta, que possuem alto
investimento e nível de tecnologia.

Nessa região utilizam-se somente híbridos e os principais
tipos de melão cultivados são o Gália, Pele de Sapo, Cantaloupe, Amarelo e
Honey Dew. No Vale do São Francisco o foco é o mercado interno e o investimento
em tecnologia é inferior.

A utilização de sementes de híbridos vem crescendo, mas
ainda se utilizam variedades de polinização aberta. O principal tipo de melão
cultivado é o Amarelo, que possui maior aceitação no mercado brasileiro. O
manejo cultural descrito a seguir terá como referência aquele que se emprega na
região de Mossoró (RN), devido à sua maior expressão para a cultura do melão no
Brasil.

Na região mencionada o cultivo é realizado durante todo o
ano, tanto por pequenos produtores quanto grandes empresas exportadoras. No
período chuvoso (dezembro-maio) a área semeada é menor, devido à maior
incidência de doenças. Na época seca (junho-novembro) a semeadura é
intensificada e é quando se dá a maior produção, aproveitando a principal
janela de exportação, que ocorre durante o inverno europeu.

Em detalhes

O melão é cultivado em canteiros, sendo o campo organizado
de forma padrão em talhões de oito linhas de 200 m, com 2,0 m entrelinhas; o
espaçamento entre plantas dependerá do tipo a ser cultivado. É utilizado o
mulching (plástico), de forma a favorecer a manutenção da umidade no solo e
auxiliar no controle de plantas invasoras.

É mais comum a realização do transplante de mudas, o que
favorece o estabelecimento do número de plantas desejado, sendo possível, porém
menos utilizada a semeadura direta, cuja principal desvantagem é o ataque de
roedores, que se alimentam das sementes.

Desde o transplante até o florescimento os canteiros são
recobertos por manta de TNT (tecido não tecido), protegendo as plantas do
ataque de insetos, principalmente da mosca minadora (Liriomyza trifolii)
e da mosca-branca (Bemisia tabaci) inseto vetor do vírus do amarelão.
Após a abertura das flores femininas, a cobertura de TNT é retirada para que
ocorra a polinização, que é realizada por abelhas.

O sistema de irrigação empregado é o de gotejamento, sendo
as mangueiras (com gotejadores) instalados sobre os canteiros, sendo em seguida
cobertas com o mulching. A fertilização é realizada juntamente com a irrigação
(fertirrigação). O tipo e quantidade do fertilizante irão variar dependendo da
fase da planta: crescimento inicial, florescimento, vingamento de fruto,
crescimento de fruto e maturação.

Até a etapa de vingamento de fruto é feito o controle
químico de plantas invasoras; durante as etapas de crescimento de fruto e
maturação, a rama já recobre praticamente toda a superfície do talhão e o
controle pode ser feito de forma manual, se necessário.

A colheita é realizada de forma manual ou semimecanizada e o
ciclo, incluindo o período médio de 10 dias para a produção da muda, pode
variar de 65 a 80 dias.

Tratos culturais

Os tratos culturais, já mencionados anteriormente, podem ser
resumidos no esquema a seguir: preparo do solo (aração, gradagem) –
encanteiramento – instalação das mangueiras para fertirrigação – aplicação
mecânica do mulching – transplante – controle químico (inseticida) – cobertura
com TNT – controle químico de invasoras – retirada do TNT – monitoramento da
polinização por abelhas – controle químico (inseticida) – controle manual de
invasoras – colheita

No preparo do solo para o cultivo do melão, a aração em
profundidade de aproximadamente 30 cm é suficiente para o adequado
desenvolvimento do sistema radicular. Em seguida, a gradagem deve ser realizada
para o destorroamento de forma a permitir formação adequada do canteiro, que
deve ter altura de aproximadamente 20 cm.

Em seguida é instalado o sistema de irrigação, em que as
mangueiras com gotejadores são colocadas sobre os canteiros. De forma geral
utiliza-se mangueiras com gotejadores espaçados a 30 cm, com vazão de 1,5 Lh-1.
Conforme já mencionado, as áreas para cultivo do melão são organizadas em
talhões com oito linhas de 200 m, com 2,0 m entre linhas e diferentes
espaçamentos entre plantas, dependendo do tipo: 0,50 m para o Pele de Sapo, que
é um melão de maior calibre (10 000 plantas ha-1) e 0,40m (12 500
plantas ha-1) para os demais tipos.

Para melões de calibre menor, como os Gálias e alguns
Cantaloupes, pode-se adensar a 0,35 ou 0,30 m entre plantas. A irrigação é
realizada em dois ou três turnos diários, sendo os valores de referência: 15,0
L m-2 antes do transplante, para garantir a adequada umidade do solo
nessa operação, seguindo-se 2,0 L m-2 dia-1 até o início
do florescimento; 4,0 L m-2 durante o florescimento e vingamento de
frutos; 7,5 L m-2 durante o crescimento de frutos e 4,0 L m-2
na fase de maturação.

Transplante

O transplante é realizado em média após 10 dias da
semeadura, entretanto, pode variar de oito a 12 dias. A semeadura é feita em
geral em bandejas de 200 células, com substrato fino de fibra de coco. Nos quatro
primeiros dias após a semeadura, as bandejas são mantidas em ambiente com
ausência de luz e com umidade acima dos 90%, para a emergência das plântulas.

Após a emergência as bandejas são levadas à estufa ou
telado, recebendo irrigação por aspersão até a emissão das duas primeiras
folhas verdadeiras. No transplante, são feitas covas perfurando-se o mulching
ao longo do canteiro no espaçamento desejado, com profundidade de
aproximadamente 3,0 cm.

Polinização e fertilização

A polinização do melão é realizada por abelhas, sendo
necessárias em média cinco colmeias por hectare. Cerca de 25 dias após o
transplante tem início a abertura das flores femininas, quando se retira a
cobertura de TNT e inicia-se o monitoramento da atividade das abelhas, que é
mais intensa no período da manhã.

A fertilização é realizada durante os turnos de irrigação,
distribuída conforme mencionado, em dois ou três turnos diários, e varia
conforme a fase da planta. Os valores de referência para os principais
nutrientes (NPK) são mostrados na tabela a seguir.

Importante saber

O controle químico de plantas invasoras deve ser realizado
até a cobertura da área pela rama, durante a fase de crescimento de frutos; a
partir daí o controle pode ser feito de forma manual, quando necessário.

O ciclo da cultura depende do tipo de melão cultivado: 65 dias
para Cantaloupes precoces e Gálias, 75 dias para Cantaloupes tardios, Amarelos
e Honey Dews e 80 dias para Peles de Sapo, já incluindo-se o período médio de
10 dias para a produção da muda.

Tamanho x produtividade

Inicialmente, é importante destacar que no mercado de melão
a produtividade está ligada ao tamanho adequado do fruto por tipo, isto é, o
que determinará a produtividade será o número total de caixas por hectare.
Frutos muito acima ou abaixo do padrão para serem embalados em caixas para a exportação,
para cada tipo, são considerados descartes.

A avaliação da produtividade, portanto, deve considerar o
tamanho ideal do fruto por tipo. De forma bastante generalizada, a tabela a
seguir mostra a quantidade de frutos por planta e a variação em termos de kg/fruto
que é aceita para exportação.

Na prática

Os resultados práticos em campo referem-se à produção de
frutos de alta qualidade para o mercado, cumprindo os requisitos do exigente
mercado externo em termos de produção, Brix (teor de açúcar) acima de 12, mas
podendo chegar a 16 para os híbridos de mais alta performance, tamanho ideal
para a exportação, que é realizada em caixas e requer o calibre adequado de
fruto, bem como excelente pós-colheita, que deve ser de no mínimo 25 dias, para
a chegada do fruto em boas condições de consumo na Europa.

Há, hoje no mercado, sementes de híbridos de Gálias e
Cantaloupes com excelente resistência à minadora e ao vírus do amarelão, bem
como alguns híbridos de Pele de Sapo com boa resistência ao mesmo vírus; esses
materiais são fruto do melhoramento genético realizado por diversas empresas
produtoras de sementes que realizam atividades de pesquisa na região.


Em evolução

Os produtores de melão na região de Mossoró trabalham hoje
com alto nível de profissionalismo, em um mercado de alto valor e alto risco, o
que minimiza a existência de erros recorrentes.

Fatores adversos geralmente ocorrem devido a falhas no
monitoramento da lavoura, que deve ser diário. Como o ciclo do melão é curto,
com desenvolvimento bastante rápido, problemas relacionados ao controle
adequado da mosca minadora e mosca-branca devem ser identificados no início e
imediatamente corrigidos, assim como deve ser rigoroso o monitoramento da
atividade das abelhas e da ocorrência de deficiência ou excesso de nutrientes
devido a falhas na fertirrigação.

Todos os erros podem ser evitados com o acompanhamento
diário do desenvolvimento das plantas no campo.

Custo x rentabilidade

Dados de uma pesquisa de produção de melão no RN visando
alta tecnologia mostram custo de produção inicial de R$ 16.700 considerando
todo investimento necessário para a área de 1,0 hectare (10.000 m2),
desde custos operacionais, insumos e mão de obra, visando colher frutos em
aproximadamente 60 dias com peso médio de 1,6 kg obtendo uma produção média de
30 toneladas por hectare.

Com o valor de R$ 0,80 kg para o mercado interno, alcança-se
um faturamento bruto de R$ 24,000/ha. Os valores apresentados podem variar em
suas condições locais, tecnologia utilizada, custo de insumos e preço de
mercado. O valor médio de venda foi baseado no mercado local de (RN), sem a
inserção de atravessador.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br