Melão nobre no Cerrado

Melão nobre no Cerrado

Pesquisa realizada nos campos experimentais da Embrapa
Hortaliças, no Distrito Federal, confirmou a viabilidade técnica e
socioeconômica do cultivo protegido de melão nobre, do tipo cantaloupe, nas
condições do Brasil Central, onde predomina o bioma Cerrado, com base em dados
sobre determinação da exigência da cultura por água e nutrientes e da análise
sobre a perspectiva de um nicho de mercado.

Mais de 93% da produção nacional de melão está concentrada
no Semiárido Nordestino, região favorecida por condições ideais para garantir
uma boa produtividade e acentuar a doçura dos frutos, como temperaturas
elevadas e alta luminosidade durante todos os meses do ano.

O melão do tipo amarelo lidera a produção, com cerca de 70%
das áreas cultivadas, mas os melões nobres vêm ganhando espaço. De acordo com o
último censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o Nordeste possui quase 14 mil hectares de área plantada com melão, já
o Centro-Oeste não alcança 200 hectares, ficando à frente somente da região
Sudeste.

Bom negócio para o Centro-Oeste

Por outro lado, o consumo de melão no Centro-Oeste é o
segundo maior do País, com a marca de 0,509 quilos por habitante a cada ano.
“No Distrito Federal, por exemplo, há um centro urbano com grande potencial de
consumo de melões nobres, de cerca de 300 toneladas por mês, mas a distância em
relação às áreas produtoras compromete a qualidade do produto que chega ao
mercado, principalmente pela pouca durabilidade após a colheita e pelos danos
mecânicos causados durante o transporte rodoviário”, observa o pesquisador
Marcos Braga, ao destacar que o poder aquisitivo da população – a renda per
capita do DF é a maior do Brasil – justifica o investimento dos agricultores
locais em um produto de maior valor agregado.

 O abastecimento nesse
centro urbano também é limitado, porque grande parte do escoamento da produção
do Nordeste tem como destinos principais o mercado local e o mercado
estrangeiro, principalmente na entressafra da produção de melão na Espanha que,
segundo o Gabinete de Estatísticas da União Europeia, representa mais de 40% da
produção da cultura no continente. “O pico de produção de melão no Nordeste
coincide com a queda de produção na Espanha, grande provedor para os países da
Europa, o que favorece os exportadores brasileiros, ainda mais em um cenário de
alta do dólar”, contextualiza o pesquisador Ítalo Guedes, chefe-adjunto de
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Hortaliças.

Com o melão nacional cruzando o Atlântico, a opção para
abastecer o nicho de mercado desse produto, especialmente no Distrito Federal,
foi estudar uma alternativa para o cultivo rentável nas condições de Cerrado, e
a resposta que os pesquisadores encontraram parte de dois pontos: (1)
melão-cantaloupe, um tipo nobre do fruto com alta cotação no mercado, e (2)
cultivo protegido, um sistema de produção que, além de possibilitar o plantio
em condições adversas, condiz com culturas de maior valor agregado para
compensar o investimento na estrutura.

Nutrientes na hora certa

Ao contrário do Nordeste, onde a produção se dá em campo
aberto, em virtude das condições favoráveis, o cultivo de melão nobre nas
condições do Cerrado somente se torna viável se planejado em ambiente
protegido, como estufas e casas de vegetação, para um melhor controle de
fatores como umidade relativa, temperatura, polinização, entre outros.

Estima-se que o Distrito Federal possua uma área de
aproximadamente 200 hectares de cultivo em ambiente protegido, sendo que parte
desse espaço é destinada ao plantio intensivo de pimentão e tomate, que fazem
parte da mesma família botânica e, por isso, compartilham e perpetuam os mesmos
problemas fitossanitários que, com o passar do tempo, se tornam de difícil
resolução. O monocultivo dessas espécies ainda contribui para a salinização do
solo e a saturação do mercado.

“Para minimizar a incidência de pragas e doenças,
recomenda-se a rotação de culturas. Porém, o agricultor nem sempre consegue
inserir uma espécie sem valor comercial, embora benéfica para o solo, como os
adubos verdes, já que as estruturas de cultivo protegido exigem um alto
investimento e, por isso, o melão nobre é uma opção para fazer a rotação e, ao
mesmo tempo, obter um bom retorno financeiro”, esclarece o pesquisador da
Embrapa Juscimar da Silva, que estudou as exigências nutricionais do
melão-cantaloupe.

 Os experimentos foram
conduzidos com cinco diferentes híbridos de melão, sendo um experimental e
quatro comerciais, dispostos em baldes plásticos com adubação por
fertirrigação, que é a aplicação de nutrientes via água de irrigação, neste
caso, em um sistema por gotejamento. Foi utilizada também fibra de coco, um
substrato inerte que não interfere nas análises. Com base nos testes, foi
possível estabelecer o padrão de acúmulo de nutrientes das cultivares de
melão-cantaloupe nesse sistema e, assim, saber quais nutrientes e dosagens a
planta vai exigir em determinada etapa do desenvolvimento, seja na fase
vegetativa ou no estágio de formação dos frutos.

“Observamos que as plantas tiveram uma exigência substancial
de macronutrientes secundários como potássio, magnésio e enxofre, e o primeiro
está diretamente relacionado com qualidade e teor de açúcar do fruto”, relata
Silva ao comentar que, no que se refere a custos de produção do meloeiro, a
adubação abarca uma fatia aproximada de 20%.

Absorção de nutrientes

Na prática, a curva de absorção de nutrientes vai indicar para o técnico ou para o produtor a melhor forma de manejar com eficiência tanto a fertilidade do solo quanto a nutrição da planta. “Hoje, os produtores exigem que empresas forneçam não apenas a semente, mas também o padrão de absorção da cultivar, seja em ambiente externo ou em casa de vegetação”, assinala Silva, ao comentar que essas informações permitem manejar os nutrientes para suprir satisfatoriamente a planta em cada estágio do desenvolvimento. Após os experimentos, sob o ponto de vista da adubação, o pesquisador sinalizou a viabilidade técnica do cultivo de melão-cantaloupe em ambiente protegido nas condições de clima e solo do Cerrado.

Água na dose correta

Esse também é o parecer das análises de demanda hídrica do
meloeiro, que considerou aspectos de evaporação e de transpiração das plantas,
tensões-limite de água no solo e linhas de fluxo de energia para irrigar sempre
em favor da região da estufa com maior demanda de água para que, assim, não se
corra o risco de faltar irrigação em algumas plantas.

Quanto às análises hídricas, os experimentos utilizaram os
mesmos cinco híbridos, mas cultivados em solo com irrigação por gotejamento e
tutoramento vertical da planta. “No monitoramento das condições climáticas
dentro da estufa, foram usados sensores para acompanhar a faixa de temperatura,
a umidade relativa do ar e a intensidade luminosa”, explica o pesquisador
Marcos Braga.

Os tratamentos com três diferentes tensões de água no solo
(20 kPa, 40 kPa e 60 kPa – unidade internacional de medida referente à força de
retenção da água no solo) não apresentaram diferenças estatísticas nos fatores
relacionados à produção do melão, ou seja, a planta consegue manter seu rendimento
mesmo com intervalos maiores de irrigação, o que indica uma maior economia de
água.

No geral, a produtividade ficou acima de 23 toneladas por
hectare. “Acima de 20 t/ha podemos afirmar que o melão nobre se enquadra em um
valor razoável. Além da produtividade, a qualidade, o teor de açúcares e os
diâmetros, transversal e longitudinal, também obtiveram bons índices para
garantir a viabilidade do cultivo”, pondera Braga, que também ressalta ser
possível sugerir o plantio em Goiás e Mato Grosso, desde que exista constatação
da viabilidade técnica e econômica no Distrito Federal.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br