Mini-hortaliças: hidroponia otimiza o cultivo

Mini-hortaliças: hidroponia otimiza o cultivo

Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo, especialista em consultoria e assistência técnica em hidroponia
rafaelsimoni@agronomo.eng.br

O mercado de mini-hortaliças e mini folhas vem crescendo no Brasil e no mundo. Esse crescimento é explicado pelo fato de que esse tipo de produto é de fácil adaptação às mais variadas formas de preparo e de consumo, como por exemplo, em pratos da alta gastronomia, restaurantes gourmet, saladas funcionais, refeições de bordo (aquelas servidas em viagens aéreas e cruzeiros marítimos), bem como uma forma que muitos pais encontraram de facilitar o consumo de alimentos saudáveis pelas crianças.

Além disso, com a redução do tamanho das famílias, as mini-hortaliças vêm como uma alternativa para evitar o desperdício de alimentos. As expectativas para o mercado desse tipo de produto são bem otimistas, já que, apesar de ainda não ser muito conhecido, o produto vem conquistando o paladar de quem prova.

As principais regiões produtoras no Brasil hoje são as áreas em volta dos grandes centros urbanos.

Hortaliças mini, baby leafs e microgreens

Microgreens e baby leafs são considerados vegetais de consumo precoce. Já as hortaliças mini possuem tamanho reduzido, mas seu consumo se dá quando atingem a maturidade (do ponto de vista de colheita)

Os microgreens, ou microverdes, são, em sua maioria, folhosas que são consumidas em três até sete dias a partir da germinação. Esses produtos também são conhecidos como brotos. É o caso dos brotos de feijão e de alfafa, que já são conhecidos há muito tempo.

A inovação fica por conta da introdução de outras espécies, dentre as quais estão rúcula, agrião, cenoura, beterraba, chicória, almeirão, manjericão, entre outros. Esses brotos são consumidos precocemente e atingem o tamanho máximo de 5,0 cm de altura.

As baby leafs, ou folhas jovens, em tradução livre, são espécies consumidas na fase intermediária do seu ciclo de colheita. Espécies como alface, rúcula e almeirão são consumidas de 15 a 22 dias após a germinação, com tamanho médio de 10 a 12 cm de altura.

Já as mini-hortaliças são variedades que, ao atingirem o seu ciclo adequado para consumo, possuem folhas, tubérculos, bulbos e/ou frutos menores, quando comparadas às espécies de origem.

As mini acelgas

Vale lembrar que a técnica usada para obter essas características foi a de cruzamento entre variedades e seleção, não se fazendo uso de transgenia para modificar o genoma da planta. Um exemplo é a mini acelga. Enquanto a acelga de padrão normal tem peso de até 2,5 kg e chega a 38 cm de altura (comprimento de folha), a mini acelga é uma folhosa que, ao atingir o ponto de colheita, chegará a 1,5 kg e um pouco mais de 20 cm de altura.

Na maioria dos casos, a muda é feita realizando a semeadura em espuma fenólica própria para hidroponia, permanecendo em ambiente escuro até a germinação, que pode levar de dois a três dias.

Assim que germinarem, as mudas são levadas para a estufa e ficam em um espaço parcialmente sombreado até os 12 dias, aproximadamente, ou até as folhas de uma muda começarem a encobrir as folhas da muda vizinha, quando são transferidas para uma bancada intermediária, com espaçamento de 10 x 10 cm.

Na bancada intermediária a muda fica até atingir aproximadamente 10 a 12 cm de altura, quando é finalmente transferida para a bancada de produção final.

Manejo hidropônico

Do ponto de vista de produção em hidroponia, o cultivo é facilitado justamente pelo fato de ser uma planta compacta, e que pode ser produzida nos mesmos perfis da alface. O espaçamento é de 25 x 25 cm.

A solução nutritiva utilizada é a mesma para alface, com ótimos resultados, sempre considerando a condutividade elétrica em torno de 1,7 mS/cm e pH 6,0.

O manejo é praticamente o mesmo da alface, tendo como diferença que a mini acelga tem ciclo de colheita em hidroponia entre 55 a 60 dias após a semeadura, contra 45 dias da alface.

Critérios produtivos

Esta é uma planta que necessita de bastante iluminação, porém, não tolera insolação direta, principalmente nos períodos de verão. Para evitar perdas por insolação excessiva, o produtor deve fazer uso de tela de sombreamento a 35%, de preferência de cor cinza, pois esse tipo de tela bloqueia a radiação solar direta, sem diminuir a luminosidade.

Quando comparamos a produção em estufas, na forma de hidroponia, ao plantio convencional, sem proteção, podemos destacar diversas vantagens da produção em estufas:

• Melhor possibilidade de escalonamento da produção e assim garantia de abastecimento constante;

• Proteção do cultivo contra boa parte de pragas e doenças, além da proteção contra adversidades climáticas;

• Melhor aproveitamento de água e de nutrientes;

• Aumento da produtividade.

Investimento

O custo de implantação em hidroponia ainda é elevado, e dependendo do material utilizado na construção da estrutura, porém, dado o fato que é uma cultura de valor agregado e que a mesma estrutura pode ser voltada tanto para a produção de mini acelgas como para a produção de alfaces, ainda é um negócio lucrativo.

Como exemplo, partimos de uma estrutura de uma estufa de 10 x 50 m. O custo médio total para a instalação da estufa será de R$ 130.000,00. Para cultivar alface, essa estrutura renderia 8.000 pés/mês, mas para a mini acelga, a produção ficaria em aproximadamente 5.000 pés/mês.

Embora utilize o mesmo espaçamento, a mini acelga tem ciclo mais longo, portanto, menos unidades produzidas no mês.

O custo de produção será em torno de R$ 1,60 por pé, levando em conta mão de obra, depreciação da estufa, insumos e tempo maior de permanência em relação à alface. O preço médio de venda está no patamar de R$ 4,00, performando um lucro de R$ 2,40 por unidade produzida, ou seja, lucro líquido de R$ 12.000,00/mês.

O retorno de investimento se daria em aproximadamente 1 ano, considerando que a produção seja otimizada.

Menos é mais

À primeira impressão, o consumidor pode ter uma ideia de que está pagando o mesmo valor, ou até um valor maior por um produto menor que o tradicional.

Apesar de serem de tamanho consideravelmente reduzido, quando comparadas às hortaliças tradicionais, as mini-hortaliças entregam um experiência diferenciada ao consumidor.

Na maioria dos produtos mini, os grandes diferencias são a forma (diferenciação pelo tamanho reduzido) as texturas e o sabor. As mini- hortaliças se destacam por apresentarem, na maioria das variedades, folhas pequenas, que conectam melhor à percepção do público infantil.

Isso facilita que pais da criança a convençam a consumir o alimento e, ao experimentar, tenham a experiência de algo mais suave e macio do que estava acostumado nas hortaliças comuns.

No caso da mini acelga, é uma variedade que tem folhas tenras na parte de fora, que podem ser consumidas tanto cozidas como levemente refogadas. As folhas de dentro são o grande destaque da variedade, pois de coloração verde clara e muito mais macias e crocantes que as folhas das variedades comuns.

São ideais para serem consumidas in natura, na forma de saladas, compondo lanches e sanduíches leves. Quanto à qualidade nutricional, a mini acelga entrega a mesma da acelga comum, se tornando uma ótima alternativa para a preparação de pratos em dietas de baixas calorias, com um sabor ainda mais especial.

Novas tecnologias

Por serem vegetais de valor agregado um pouco mais elevado, aliado ao fato de ser um produto com aumento de demanda iminente, o cultivo de mini-hortaliças vem despertando a atenção de produtores com maior grau de tecnificação.

O aumento no consumo em grandes centros urbanos está promovendo uma busca por tecnologias, como uso de ambientes totalmente controlados, com iluminação artificial e controle de umidade e temperatura.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br