Conny Maria de Wit
Diretora da SBW do Brasil
A produção de banana no Brasil é bastante significativa, uma vez que o país é um dos maiores produtores mundiais desse fruto. De acordo com dados do IBGE, em 2020 foram produzidas cerca de 7,2 milhões de toneladas de banana em território brasileiro, o que representa cerca de 9,4% da produção mundial.
A produção de banana no Brasil enfrenta diversos desafios, como a incidência de doenças e pragas que afetam a cultura, além de problemas relacionados à infraestrutura e à logística de transporte.
Um dos melhores métodos para se controlar a contaminação por doenças dos bananais é assegurar que a renovação e a implementação de novas áreas sejam feitas apenas com mudas isentas de doenças produzidas em laboratório de cultura de tecidos.
A produção de bananas através de meristemas em laboratório foi introduzida no mercado brasileiro há mais de 20 anos, e atualmente mais de 10 milhões de bananeiras são produzidas anualmente através dessa técnica por diversos laboratórios de cultura de tecido espalhadas pelo país.
No entanto, apesar de o número de mudas parecer elevado, sabe-se que a maioria ainda é produzida no campo por meio de rizomas, o que pode trazer riscos, especialmente porque as doenças que afetam a banana podem ser graves, e até levar à proibição da produção.
Para se ter uma ideia do percentual que ainda é plantado a partir de rizomas, basta olharmos para os números do IBGE em 2020, onde foi registrado que a área total de plantio de banana no Brasil era de 495.435 hectares.
Renovação dos pomares
Sabemos que os bananais comerciais devem ser renovados a cada cinco anos, algo que não acontece de fato. Portanto, se considerarmos uma renovação anual de apenas 10%, que significa a cada 10 anos, estamos falando de uma área correspondente a 49.545 hectares por ano.
São necessárias, assim, cerca de 1.500 mudas em cada hectare, ou seja, 74 milhões de mudas de banana por ano. Se todos os laboratórios existentes no Brasil, somados, produzem cerca de 10 milhões de mudas, podemos concluir que apenas 15% dos plantios são feitos com mudas de meristema, e todo o restante com mudas oriundas de rizomas.
Se os riscos são tão grandes, por que os produtores continuam utilizando rizomas? Primeiro, porque os produtores ainda não confiam tanto assim nas mudas de meristema.
Nos primeiros anos, os resultados dos laboratórios brasileiros não foram muito bons – havia problemas de planejamento, uso errado da tecnologia que gerava anormalidades no campo, entre outros problemas. Mas, a situação melhorou muito nos últimos anos.
Os laboratórios profissionais resolveram problemas como entregas (planejamento), contaminações, mutações e fungus gnats, e agora produzem material a partir de matrizes de alta qualidade.
Como a SBW trabalha
Na SBW do Brasil, empresa sediada em Holambra (SP), a técnica de produção de mudas de banana foi muito além. Atualmente, a empresa produz 4,0 milhões de mudas anualmente, utilizando um protocolo de multiplicação à base de um sistema de imersão temporária em biorreatores, também chamado TIB, oriundo do inglês “Temporary Immersion in Bioreactors.
Por meio desta metodologia as plantas recebem o meio de cultivo algumas vezes por dia (ficam nadando por alguns minutos no meio), para que possam absorver todos os nutrientes e hormônios de maneira mais regular, gerando menos estresse para a planta e, consequentemente, menos risco de causar mutações nas plantas.
As plantas geradas pelo sistema TIB são muito mais robustas no momento em que são enviadas à estufa de aclimatação. Além disso, esse processo gera uma economia de mão de obra enorme, o que possibilita que consigamos produzir um volume grande de mudas a preços altamente competitivos no mercado.
Vantagens das mudas clonadas
Para compreender as vantagens das mudas de banana clonadas em laboratório, é importante entender como o processo funciona. Tudo se inicia da seleção dos melhores indivíduos no campo – escolhem-se as matrizes mais produtivas, mais precoces e com as melhores características de resistência a doenças para se utilizar como matrizes para a produção de novas mudas.
É necessário apenas um número reduzido de rizomas para produzir um grande volume de mudas, portanto, é possível testar a qualidade e a sanidade deste material antes de iniciar o processo de propagação.
Ao receberem os rizomas no laboratório, os mesmos são testados para confirmar que estão sadios. Uma vez aprovados, os mesmos são utilizados no processo de produção das mudas. Pelo fato de as mudas micropropagadas serem produzidas a partir de plantas selecionadas, elas irão gerar mudas de maior uniformidade e qualidade das plantas.
Em resumo, é hora de lidarmos de forma responsável com um produto tão importante da nossa cadeia alimentar como a banana, para que a produção não seja ameaçada por uma multiplicação descontrolada.
Vamos listar, novamente, as principais vantagens das plantas clonadas em laboratório:
- Matrizes selecionadas que irão gerar mudas de alto padrão de produtividade com excelente sanidade;
- Uma vez definida a época de plantio, o produtor pode encomendar suas mudas com antecedência e garantir o volume de mudas necessário para a renovação ou implementação de sua nova área de produção, sem o risco de levar doenças para esta nova área;
- As mudas vêm padronizadas em bandejas, o que facilita muito a operação de plantio, consequentemente, redução dos custos com mão de obra na operação de plantio;
- Mudas livres de contaminação (fungos, bactérias, nematoides, vírus), consequentemente, uma produção mais elevada. Produtores que utilizam mudas de meristema e implementam projetos de seleção positiva em suas áreas têm registrado incremento de produtividade de até 20%.
Em resumo, a utilização de mudas de meristema pode ser uma alternativa vantajosa para a implementação de um novo bananal, tanto do ponto de vista fitossanitário quanto econômico. Com a utilização dessas mudas, os produtores podem reduzir a incidência de doenças, aumentar a produtividade e a qualidade dos frutos, além de reduzir o impacto ambiental da atividade agrícola.
Dessa forma, a produção de banana pode se tornar mais sustentável e rentável, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social das comunidades envolvidas na atividade.