Com
aplicação desse tipo de manejo em mais de 23 milhões de hectares, o Brasil está
na liderança mundial no uso do controle biológico nas lavouras e já exporta
tecnologias da área para outros países
De acordo com estimativa da empresa de consultoria Dunhan
Trimmer, o mercado mundial de bioagentes movimentará em 2020 mais de US$ 5
bilhões, sendo mais de US$ 800 milhões na América Latina. E enquanto o mercado
de biológicos do mundo está crescendo 9% ao ano, no Brasil o aumento é de mais
de 15%.
Alexandre de Sene Pinto, professor do Centro Universitário
Moura Lacerda, de Ribeirão Preto (SP), destaca o pioneirismo brasileiro no ramo
de controle biológico. “Toda a tecnologia que os outros países estão usando
para grandes áreas está vindo do Brasil. O drone para liberação, as técnicas
para quantificar os parasitoides, o momento e a frequência de liberação, tudo é
brasileiro. Passamos a ser exportadores de tecnologia de controle biológico
para campos abertos”, afirma.
O professor aponta ainda as tendências mundiais para a área:
adaptação de tecnologias na África; migração para sistemas de produção orgânica
na Europa; investimentos da China para substituição de produtos químicos por
biológicos; nos Estados Unidos, mudança nas empresas de químicos e instalação
de filiais de empresas brasileiras.
Para chegar a esse ponto, a pesquisa científica continua
sendo fundamental. Essa é a opinião de Marcelo Ayres, chefe-adjunto de Pesquisa
e Desenvolvimento da Embrapa Cerrados. Ele destaca que o controle biológico
está no DNA do centro de pesquisa, que, desde sua criação, tem contribuído com
o desenvolvimento de produtos para o controle das cigarrinhas da raiz e das
pastagens, bem como de brocas.
John Landers, vice-presidente honorário da Febrapdp, aponta
paralelos entre o controle biológico no Brasil e o início da adoção do Sistema
de Plantio Direto no País, destacando a necessidade de mudança de mentalidade
dos produtores, já que não se trata de um controle químico. “É preciso auferir
a força do controle natural, ver se é necessário introduzir um agente biológico
e entender que não é algo imediato, porque você não vai ver insetos mortos no
chão no dia seguinte. É preciso prever o desenrolar da situação bem antes do
ponto crítico para a lavoura”, explica.
A primeira forma de controle biológico relatada remonta ao
século III antes de Cristo, na China. “É o método racional de controle de
pragas mais antigo que se tem na humanidade”, destaca o professor do Centro Universitário
Moura Lacerda, e agora ele é uma das bases da 4ª revolução agrícola, também
chamada de “agricultura 4.0” ou “agricultura digital”.
Alexandre Pinto completa: “O controle biológico passou a ser
tecnologia com o advento de formulações para microrganismos e o uso tecnificado
de macrorganismos, com a aplicação via drones em grandes áreas, em mesmo nível
que os agroquímicos”.
Tratamento reduziu em 60%
presença de falsa-medideira
Uma tendência apontada pelo professor é o uso de bioagentes
no tratamento de sementes. Ele cita uma pesquisa com sementes de soja tratadas
com os fungos B. bassiana, Metarhzium anisopliae e Isaria fumosorosea.
Até 60 dias depois do tratamento, houve a diminuição de 60%
de lagartas falsa-medideira, 30% de Helicoverpa armigera e 60% de
mosca-branca na parte aérea, além da redução de 50% no consumo das folhas pelas
pragas. Resultados semelhantes foram obtidos com hortaliças e feijoeiro. “A
planta com sementes tratadas com qualquer desses microrganismos produz tanta
peroxidase que fica impalatável a essas pragas”, informa.
Outra tendência é o manejo externo, que utiliza bioagentes
no entorno das áreas-alvo, o que diminui o custo do controle já utilizado em
citros para o controle do psilídeo e em desenvolvimento para o manejo-da-broca
e do Sphenophorus sp. em cana-de-açúcar.
Mercado de ativos biológicos
Os prejuízos causados por insetos-praga são enormes. Uma
área com 25 insetos por metro quadrado reduz a produção de pasto e afeta sua
capacidade de suporte de animais. Um pasto saudável poderia suportar 6,65
animais por hectare.
Quando atacado pela cigarrinha-da-pastagem, seu rendimento
reduz para 4,65 animais. Ou seja, a cada dez dias, são produzidos 59 quilos a
menos de carne no mesmo espaço. “Mas o fungo, quando aplicado, não fica na
pastagem só por esse período. Seu efeito será sentido por mais tempo”, explica
o pesquisador da Embrapa Cerrados, Roberto Alves.
O mercado de micoinseticidas tem registrado grande
crescimento. Para o controle da cigarrinha-da-pastagem, existem 37 produtos
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com Metarhizium
anisopliae. Já para mosca-branca, cigarrinha-do-milho, broca-do-café,
psilídeo do citrus, moleque-da-bananeira e outras pragas que podem ser
combatidas com o fungo Beauveria bassiana, existem 26 produtos
disponíveis no Brasil.
Opções
A maior oferta de produtos reflete também a maior adesão a
práticas sustentáveis pelos produtores rurais. “O aumento do uso do controle
biológico ocorre porque hoje as pessoas estão buscando alimentos mais
saudáveis, que sejam produzidos de forma sustentável, sem contaminar o meio
ambiente, e os insumos biológicos oferecem isso”, explica o pesquisador
Outro fator que também justifica o crescimento da adoção do
controle biológico é a resistência que as pragas desenvolvem aos produtos
químicos disponíveis, que deixam de ser efetivos. Segundo levantamento
apresentado pelo professor Alexandre Pinto, 29% dos produtores que utilizam o
controle biológico o fazem por ineficácia dos agrotóxicos e transgênicos, e 26%
devido ao surgimento de novas pragas.
Mas, apesar de o Brasil ter registrado um crescimento de 70%
na comercialização de insumos biológicos em 2018, em relação a 2017, os
biodefensivos representam apenas 2% do mercado. Ou seja, 98% das vendas ainda é
de defensivos químicos, conforme observa Alves.
Manejo Integrado de Pragas
O pesquisador Edson Hirose, da Embrapa Soja (PR), apresenta
o Manejo Integrado de Pragas (MIP) como uma prática mais sustentável do ponto
de vista econômico e ambiental para a produção brasileira. Hirose explica que
um dos pilares do MIP é justamente a integração dos métodos de controle, como
resistência de plantas (com o uso de transgenia), controle químico (buscando-se
aplicar o produto no alvo e a reduzir a pressão de seleção) e controle
biológico, conservando os inimigos naturais das pragas.
Os resultados do MIP são comprovados pela pesquisa. Um
trabalho da Emater-PR, comparando o uso da estratégia com o manejo convencional
(somente controle químico) em áreas com soja, mostra que nas áreas com MIP, o
custo de produção foi 1,9 sacas/ha inferior, sendo que as produtividades foram
iguais.
O mesmo trabalho foi realizado em Silvânia (GO), com
resultado semelhante. Já em Mato Grosso, o custo com o MIP foi a metade do
observado no controle convencional.
O pesquisador enfatiza que o MIP é basicamente conhecimento:
“Fazer MIP depende de conhecimento, de ir ao campo, reconhecer a praga e
decidir que não é preciso pulverizar. Isso vai fazer você ganhar em
produtividade, reduzir seu custo e ter mais sustentabilidade”, afirma.
Sobre o futuro, o pesquisador defendeu que as práticas do
manejo integrado serão facilitadas, mais rápidas e precisas a partir da
convergência de tecnologias e da internet das coisas. Hirose cita exemplos de
equipamentos com alta tecnologia embarcada, como monitoramento digital da
mosca-branca em estufas para tomates; escaneamento dos talhões para
identificação de pragas; armadilha para captura de pragas com GPS; câmara de
vídeo que gera imagens em alta definição para a contagem de mariposas, que
facilitarão a adoção do MIP.
Alerta para mosca-branca
Tomate, soja, feijão, algodão, melão, melancia – mais de 70
culturas agrícolas podem ter grandes prejuízos causados pela mosca-branca.
“Esse é inseto de difícil controle”, alerta a pesquisadora Eliane Dias
Quintela, da Embrapa Arroz e Feijão. Por isso a importância de o produtor agir
logo quando a praga começar a aparecer na lavoura. “Em regiões com 30°C, uma
única fêmea, após três gerações de reprodução, gera insetos suficientes para
cobrir uma quadra de tênis inteira”, ressalta.
Eliane apresentou resultados de experimentos que mostraram
maior eficiência quando foram associados o controle biológico e o químico. No
caso da mosca-branca, chegou-se a 100% de mortalidade dos insetos, sendo que
55% das mortes foram ocasionadas por parasitismo natural, ou seja, pela atuação
do fungo. “Em nenhum dos experimentos o uso de apenas inseticidas teve melhor
resultado do que o uso do fungo associado ao inseticida. Essa é uma opção que o
produtor deve considerar”, destaca a pesquisadora.
Uma pesquisa isolou diversos fungos e selecionou aquele com
maior resistência a altas temperaturas, facilidade de reprodução e virulência.
A especialista completa: “Chegamos ao fungo Isaria javanica, que
apresentou o melhor resultado quanto a essas características. Já desenvolvemos
um produto com esse microrganismo, que está em fase de registro. Uma única
aplicação do I. javanica equivale a três com o Beauveria bassiana
(o fungo hoje utilizado no controle da mosca-branca)”.
Manejo e controle da cigarrinha-do-milho
Apesar de estarem presentes no Brasil desde a década de
1970, nas últimas safras as doenças do milho denominadas enfezamentos têm se
agravado e causado danos expressivos. “Em surtos epidêmicos, a quebra de
produção pode chegar a 70%”, afirma o pesquisador da Embrapa, Charles Oliveira.
Uma planta infectada produz espigas pequenas com reduzida quantidade de
sementes e com qualidade comprometida.
A cigarrinha-do-milho é o único inseto que transmite os
patógenos causadores dessas doenças vasculares e sistêmicas: o espiroplasma,
que causa o enfezamento pálido; e o fitoplasma, que causa o enfezamento
vermelho. Elas provocam uma desordem fisiológica nas plantas, para as quais não
existem medidas curativas.
Dessa forma, os produtores devem ficar atentos às
orientações de manejo para que a ocorrência dos enfezamentos nas lavouras de
milho possa ser minimizada. “Nenhuma medida tomada de forma isolada será eficaz
e tampouco 100% eficiente”, alerta o especialista.
O manejo dessas doenças pode ser feito tanto com foco no
inseto-vetor quanto nas doenças em si. No primeiro caso, o controle pode ser
direto, com a utilização de inseticidas – químicos ou biológicos. Segundo o
pesquisador, existem no mercado 24 produtos registrados no Mapa para o manejo do
inseto-vetor, sendo cinco biológicos. Um deles é a Beauveria bassiana
(bioinseticida fúngico). Outros estudos, no entanto, estão sendo conduzidos
para o desenvolvimento de novos produtos utilizando parasitoides dos ovos da
cigarrinha, como conta Oliveira.
Sobre vírus e bactérias
A bactéria Bacillus thuringienses (Bt) é um dos
agentes de controle biológico mais utilizados no mundo. No Brasil, há cerca de
20 produtos biológicos registrados que possuem Bt em sua formulação. De acordo
com a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rose
Monnerat, uma das grandes vantagens desse microrganismo no controle de insetos
é que ele é inofensivo ao homem, assim como aos animais domésticos e aos
insetos benéficos.
Em relação ao uso de vírus no controle de insetos-praga, o
pesquisador da Embrapa Soja, Daniel Gomez, explica que cada um atinge uma
praga-chave: “Eles, em geral, são específicos de cada espécie – o vírus da
falsa-medideira (lagarta-da-soja) infecta apenas esse tipo de lagarta”.
Biológicos
são tendência na agricultura
Gustavo Antonio Ruffeil Alves – Doutor, professor – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Paragominas e coordenador do Grupo de Pesquisa Estudos em Manejo de Doenças de Plantas Tropicais –gustavo.ruffeil@ufra.edu.br
Luciana da Silva Borges – Doutora, professora – UFRA, e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA) – luciana.borges@ufra.edu.br
Denilze Santos Soares – Graduanda em Agronomia – UFRA – denilzesoares@gmail.com
Dentre os principais problemas que acometem as lavouras, os danos
causados por pragas e doenças são os mais preocupantes, chegando a causar danos
irreversíveis à produção, em alguns casos levando a 100% de perdas no plantio.
Aliado a isso, o Brasil, por ser um país de clima tropical,
é favorável ao aparecimento de diversas espécies de insetos e proliferação de
doenças, em especial as fúngicas, e o índice de perdas ocasionadas por estes
indivíduos tem crescido, devido à facilidade de adaptação dos mesmos e à grande
capacidade de adquirir resistência a diversas moléculas de produtos químicos,
assim gerando dificuldades no controle dos mesmos.
Biológico à frente
Dentre as formas de controle podemos destacar o controle
biológico, que devido à grande busca por uma produção sustentável e orgânica,
os agricultores têm buscado diminuir o uso de produtos químicos, o que tem
gerado a busca por outras alternativas.
Um dos fatores que contribuiu para a crescente adoção de
produtos biológicos foi a sua grande eficiência no controle de pragas e
doenças, reduzindo a aplicação de defensivos químicos e o desenvolvimento de
resistência de pragas e doenças.
Ainda, há uma constante demanda por soluções que gerem menor
impacto ambiental, em que este método irá preservar os inimigos naturais das
pragas, manter a biodiversidade do agroecossistema e aumentar a produtividade.
Como funcionam
A premissa básica do controle biológico é manejar as pragas
agrícolas, os insetos transmissores de doenças e os patógenos a partir do uso
de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitoides
e/ou microrganismos antagônicos, como fungos, vírus e bactérias. Trata-se de um
método racional que faz o uso destes inimigos naturais que não deixarão
resíduos nos alimentos e são inofensivos ao meio ambiente e à saúde humana, os
quais classificamos em quatro tipos:
Ü Controle biológico artificial: quando há a
interferência artificial, com o intuito de aumentar o número de predadores,
parasitoides ou microrganismos antagônicos.
Ü Controle biológico clássico: quando há a introdução
de predadores ou parasitoides, visando o controle de pragas exóticas, que
ocasionalmente se tornam nativas. A liberação é realizada com um número de
indivíduos reduzido no local, para que se tenha um controle a longo prazo, e a
população do inimigo natural aumente com o passar do tempo.
Ü Controle biológico natural: populações de
inimigos naturais que ocorrem naturalmente no local e mantêm um nível de
equilíbrio das pragas.
Ü Controle biológico aplicado: ocorre a
liberação em massa de predadores ou parasitoides, após estes serem criados em
laboratórios e em uma larga escala.
Culturas beneficiadas
Dentre as culturas mais beneficiadas pelo controle biológico
podemos citar a cana-de-açúcar, pois é a que tem maior representatividade no
ramo, sendo que a maioria das usinas faz uso de “defensores biológicos”. Cerca
de 4 milhões de hectares de cana já são protegidos por estes agentes
microbiológicos (bactérias, fungos e vírus) e macrobiológicos (insetos como
vespas), que trabalham combatendo organismos nocivos ao canavial (JornalCana,
2019).
O manejo biológico tem sido eficiente no controle de algumas
pragas, como broca-da-cana, cigarrinha, shenophorus e nematoides, contribuindo
para a instalação de canaviais que apresentem um índice reduzido de uso de produtos
químicos e se tornando assim menos nocivo ao meio ambiente.
Como implantar a técnica
Para fazer o uso do controle biológico, se faz necessário a
adoção de algumas técnicas, dentre as quais o Manejo Integrado de Pragas (MIP),
que desempenha um papel fundamental no controle de pragas e doenças e visa
diminuir os impactos ao meio ambiente, reduzir os custos e produzir mais, de
forma sustentável.
O controle biológico é uma das medidas adotadas no MIP, uma
vez que necessita de um tempo maior para agir, comparado ao manejo químico.
A regra principal para que se tenha sucesso no controle das
pragas e doenças é realizar o monitoramento periódico da lavoura, a fim ter conhecimento
das pragas e doenças que ali possam estar, o nível populacional, a incidência e
severidade para ter o exato momento de usar as medidas de controle corretas e
assim as pragas não alcançarem o nível de dano econômico. O resultado é a
redução dos custos do produtor e suas possíveis perdas por um mau manejo.
Para implantar o MIP deve-se, primeiramente, avaliar o
ecossistema, conhecer as pragas da cultura e o nível de monitoramento. Após, é
preciso saber o nível de dano econômico, para que assim seja possível efetuar o
controle no momento certo, e por último a escolha da estratégia que será
utilizada. No caso do controle biológico, é preciso observar qual o inimigo
natural da praga, suas características, como ele irá atuar, em que fase de
desenvolvimento deve ser aplicado, etc.
Após instalado, é preciso realizar o monitoramento
constante, pois o controle biológico não age de imediato, levando um tempo para
ser efetivo. Então, deve-se monitorar e fazer o planejamento levando em
consideração este tempo para que comece a fazer efeito.
Tecnologias
Uma das últimas tecnologias que passou a contribuir,
principalmente para o controle biológico, foi a utilização de drones, veículos
aéreos não tripulados que podem resolver a grande barreira que se tem com o uso
de biológicos em áreas extensas, pois eles auxiliam indicando o momento correto
para a aplicação do produto, e ainda podem ser utilizados para distribuição de
vespinhas predadoras do gênero Trichogramma, que combatem lagartas.
O controle biológico pode aumentar em até 30% a
produtividade da lavoura, quando usado para combater principalmente pragas de
solo. Além disso, reduz despesas com produtos químicos, que resultam em um
maior retorno no final da produção.
Os defensivos biológicos podem gerar economia de até 30% nos
custos de produção da soja. Em uma área atacada por nematoides, por exemplo,
produtores conseguiram aumentar a produtividade de 28 para até 60 sacas por
hectare com o manejo natural (Maliszewski,2019).
Dose certa
O uso de bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis subesp.
kurstaki (Dipel SC) na dosagem de 0,5 l/ha contra lagartas grandes e pequenas e
do Baculovírus anticarsia na dosagem de 20 g/ha contra lagartas
pequenas foi eficiente no controle biológico da lagarta da soja, sendo que a
primeira também controlou satisfatoriamente a lagarta-enroladeira-das-folhas.
O controle da lagarta da soja foi feito pela ocorrência
natural do fungo Nomuraea rileyi, que complementou a ação dos
bioinseticidas atacando a lagarta da soja quando ocorreram chuvas bem
distribuídas (Sujii, et al., 2012).
A adoção do controle biológico, no âmbito do manejo
integrado de pragas (MIP), pode obter até 80% de eficiência de controle contra
o ácaro-rajado, principal praga do morango no Distrito Federal, especialmente
no período seco e quente do ano (Embrapa, 2019).
Pesquisas
Fuxa (1992) relatou as três principais preocupações ao se
liberar microrganismos: um organismo bem caracterizado no laboratório pode
atuar de forma diferente no campo, agindo tanto de forma danosa quanto
benéfica; existe possibilidade de ocorrerem distúrbios do balanço do
ecossistema e de transferência não intencional de informações genéticas entre
os organismos.
Além disso, a introdução de um microrganismo controlador
pode futuramente se tornar praga, ou afetar as espécies nativas. Muitos problemas
são encontrados com relação aos aspectos culturais da planta, pois, em alguns
casos, não se leva em consideração a fase de desenvolvimento da cultura, a
variedade que está sendo utilizada, a quantidade de agente que será liberado, o
número de liberações e a frequência das mesmas, etc.
Custo envolvido
O custo poderá variar, dependendo da espécie de agente
biológico que será utilizado. No caso da produção de Cotesia flavipes, é
de R$ 1,94 o copo, contendo 30 massas de pupas, cada pupa custando em torno de
R$ 0,06, ficando em torno de R$ 80,00 por hectare de insetos aplicados.
O custo para aplicação via avião é de R$ 14,00 a R$ 18,00
por hectare, de R$ 5,00 a R$ 8,00 com o veículo não-tripulado e de R$ 36,00 por
hectare manualmente.
As tecnologias citadas para o controle de pragas apresentam
melhor relação custo/benefício quando comparadas a alguns agrotóxicos
convencionais, pois, além de serem mais viáveis economicamente, deve-se levar
em conta a preservação ambiental.
Assim como os produtos químicos, existem biológicos muito
baratos e muito caros, mas se faz necessário levar em consideração a eficácia
do produto e o quanto ele faz bem ao meio ambiente, e não apenas os custos em
si.
Um dos entraves que pode tornar os produtos biológicos mais
caros é a sua produção em menor escala, devido ao rigoroso controle de
qualidade. Porém, é uma tecnologia que vem se inserindo no mercado e
conquistando seu espaço, com preços competitivos em relação aos químicos.
Qual o
limite do controle biológico?
Alessandra Marieli Vacari – Doutora em Entomologia e professora dos Programas de Pós-graduação em Ciência Animal, pós-graduação em Ciências e graduação em Engenharia Agronômica – Universidade de Franca (Unifran)– amvacari@gmail.com
Eder Oliveira Cabral – Mestrando em Ciências – Unifran
Gustavo Pincerato Figueiredo – Engenheiro agrônomo
e mestrando em Ciência Animal – Unifran
Um programa de controle biológico envolve problemas
intrínsecos (criação massal) e extrínsecos (controle biológico aplicado).
Vários fatores estão diretamente relacionados à criação massal de inimigos
naturais, destacando-se a sanidade e a qualidade dos agentes produzidos, que
influenciarão a eficiência do controle; o armazenamento que é um recurso que
pode ser utilizado para que se possa acumular maior número de insetos para um
determinado período; o custo de produção que deve ser calculado constantemente
para que se mantenha o preço atualizado e que seja justo para a biofábrica e
para o cliente.
Para a instalação de uma biofábrica de agentes de controle
biológico, a estrutura em si precisa ter salas adequadas para criação desses
insetos, com condições abióticas controladas e ideais para o desenvolvimento
dos indivíduos.
Implementação do programa de
controle biológico
A sequência lógica para iniciar um programa de controle
biológico começa com a seleção da cultura a ser trabalhada e dos inimigos
naturais que ocorrem no campo. Posteriormente, inicia-se uma criação do
hospedeiro ou presa e do inimigo natural para o desenvolvimento de pesquisas
básicas.
Tais pesquisas envolvem, inclusive, a determinação de uma
metodologia de criação que produza um número de insetos suficiente para
liberação e que, quando liberados na natureza, cumpram sua função com
eficiência. Posteriormente, inicia-se a construção e instalação da estrutura
física adequada.
Em seguida vem a instalação de um sistema piloto de produção
massal dos hospedeiros ou presas e dos inimigos naturais. É necessário, também,
a avaliação do custo/benefício, haja vista que a biofábrica é uma empresa e
precisa ter lucro e que o produtor somente irá adquirir agentes de controle
biológico se for viável economicamente e se atingir um controle efetivo em
campo.
Desafios
Existem vários problemas para implementação de um programa
de controle biológico, como a falta de estudos básicos, programas sem
continuidade, projetos mal planejados e desenvolvidos isoladamente, falta de
credibilidade devido à tradição já existente com o uso de agrotóxicos, pressão
de grandes empresas sobre os agricultores e falta de política nacional e de
investimentos.
Programas de controle biológico não devem ser conduzidos
isoladamente, uma vez que vários estudos envolvem sua implementação, como
seletividade de produtos fitossanitários, conservação de inimigos naturais,
entre outros. Tais estudos precisam ser multidisciplinares e abranger uma visão
global.
Dentre as razões da menor utilização do controle biológico
em relação ao controle químico, encontra-se a tradição de matar e não de criar
insetos; falta de metodologia para criações de insetos; e especificidade dos
agentes de controle, já que muitos agricultores preferem inseticidas de largo
espectro de ação, pois, não acreditam nos resultados e preferem utilizar
produtos que tendem a eliminar a população da praga. Isso ocorre devido ao
desconhecimento da tecnologia gerada pelas instituições de pesquisa, a
disponibilidade do insumo biológico e pouca exploração da nossa biodiversidade.
O que falta no Brasil e em muitos outros países é cultura
para utilização de inimigos naturais em programas de controle biológico;
estudos básicos da praga e dos inimigos naturais, incluindo o impacto
ambiental; laboratórios com técnicas de criação de insetos, trabalho
cooperativo entre empresas privadas e universidades; análise de mercado; definição
de prioridades, comercialização de produtos com certeza de resultados; o
controle de qualidade dos agentes produzidos; ajuste de escala para grandes
produções de insetos; técnicas de armazenamento de insetos; transporte adequado
dos agentes de controle; e financiamento para empresas.
Agentes eficientes
Dentre os inimigos naturais mais utilizados no controle
biológico aplicado no Brasil e no mundo destacam-se espécies do gênero Trichogramma
(Hymenoptera: Trichogrammatidae).
Duas espécies são registradas no Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo sete registros para T. pretiosum
e seis para T. galloi. No Brasil, nas culturas de milho e soja para o
controle de Spodoptera frugiperda, Helicoverpa zea, Helicoverpa armigera
e Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae) são liberados cerca de
100 a 200 mil indivíduos por hectare de T. pretiosum numa área de
250.000 ha.
Na cultura da cana-de-açúcar é utilizada a espécie T.
galloi para o controle biológico de Diatraea saccharalis
(Lepidoptera: Crambidae), sendo que no ano de 2007 foram liberados em 50.000
ha. Atualmente, as liberações de T. galloi são realizadas em dois
milhões de hectares de cana-de-açúcar.
No Brasil já foram ultrapassados 20 anos de pesquisas com Trichogramma
spp., e a razão do sucesso da utilização desses parasitoides está
principalmente na base sólida dada pela pesquisa. Ao longo do tempo, tentativas
de se estabelecer programas de controle biológico com Trichogramma spp.
em outros países tiveram, em alguns casos, insucesso devido, principalmente, à
utilização de linhagens ou espécies inadequadas, má qualidade dos parasitoides
produzidos, número insuficiente de parasitoides liberados, inadequadas técnicas
de liberação em campo, falta de conhecimento sobre a dinâmica populacional da
praga, competição com outros organismos e falta de estudos sobre seletividade.
É fundamental que as empresas brasileiras da área tenham
conhecimento de tais informações para que não sejam cometidos os mesmos erros.
Ações de sucesso
Dos programas de controle biológico que alcançaram sucesso
no Brasil, a utilização do parasitoide Cotesia flavipes (Cameron, 1891)
(Hymenoptera: Braconidae) para controle de D.saccharalis
em cana-de-açúcar, pode ser considerado um dos maiores programas de controle
biológico do mundo pela extensão da área tratada.
A área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil é cerca de nove
milhões de hectares. Atualmente, cerca de 3,5 milhões de hectares são tratados
com C. flavipes para o controle de lagartas da broca da cana, D.
saccharalis, e cerca de 2 milhões de hectares tratados com T. galloi
para o controle de ovos dessa praga.
Existem 28 registros no MAPA para o parasitoide C.
flavipes. O custo dos parasitoides é de aproximadamente R$ 16,00 a 20,00
por hectare, mais os custos para liberação que variam de R$ 13,00 a 18,00 por
hectare, com a utilização de drones. Na década de 70, a intensidade de
infestação da broca da cana-de-açúcar era em torno de 10% e hoje é de cerca de
2%, com redução de 0,4% da intensidade de infestação a cada ano, desde a
importação do parasitoide de Trinindad e Tobago.
No Estado de São Paulo, de maio a setembro, 50% da produção
de C. flavipes é maior do que a demanda, e de outubro a abril, que é o
período de pico da praga, toda a produção pode ser comercializada.
As liberações dos parasitoides são realizadas quando a
intensidade de infestação ultrapassar 3%. Para que ocorram essas liberações é
de extrema importância que as empresas tenham logística de transporte adequada,
que garanta que os inimigos naturais cheguem com qualidade adequada ao local
onde serão liberados para controlar a praga.
Para esse tipo de negócio a margem de lucro é pequena e o
retorno do investimento pode levar de cinco a oito anos. Num laboratório de
produção de C. flavipes, 25 a 30 pessoas conseguem produzir de 10 a 20
milhões de parasitoides por mês para liberações inundativas. Atualmente, já
existe tecnologia para evitar degeneração ou perda da qualidade do inseto
criado em laboratório, o que poderia ser um problema.
Controle biológico aplicado
No Brasil, os microrganismos predominam como produtos de
controle biológico. Estas formulações, também conhecidas como bioinseticidas,
são mais frequentemente utilizadas do que os macrorganismos (parasitoides e
predadores), porque são mais semelhantes aos inseticidas, especialmente em sua
aplicação e também porque têm vida útil mais longa.
Atualmente, no Brasil, milhões de hectares são tratados com Metarhizium
anisopliae (Hypocreales: Clavicipitaceae), Bacillus spp. (Bacillales:
Bacillaceae), Beauveria bassiana (Hipocreales: Cordycipitaceae), Trichoderma
harzianum (Hipocreales: Hypocreaceae), Deladenus siricidicola (Tylenchida:
Neotylenchidae), Isaria fumosorosea (Hypocreales: Clavicipitaceae) e Baculovirus
(Baculoviridae).
Existem nove bioinseticidas à base de Baculovirus
registrados no MAPA para o controle de lagartas. Cinco desses bioinseticidas
são registrados para Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae),
dois registrados para C. includens e dois registrados para H.
armigera. Além disso, dois registros de produtos apresentam misturas de
baculovírus C. includens + baculovírus H. armigera.
Ainda para o controle biológico de lagartas, existem 24
bioinseticidas registrados à base de Bacillus thuringiensis, a maioria
var. kurstaki cepa HD-1. Bioinseticidas à base da bactéria entomopatogência B.
thuringiensis são registrados para o controle de lagartas em diversas
culturas, como abobrinha, amendoim, arroz, algodão, brócolis, café,
cana-de-açúcar, citros, coco, couve, eucalipto, feijão, fumo, melão, pastagens,
pepino, repolho, soja, tomate e trigo.
O fungo M. anisopliae é utilizado em cerca de dois
milhões de hectares para o controle da cigarrinha-das-raizes, Mahanarva
fimbriolata (Hemiptera: Cercopidae) em cana-de-açúcar. Além disso, também é
utilizado em pastagens para o controle de cigarrinhas como Deoisflavopicta
e Zulia entreriana (Hemiptera: Cercopidae).
Existem 37 bioinseticidas registrados no MAPA com
formulações à base desta espécie de fungo, que podem ser utilizados no controle
de outras pragas como percevejo-marrom Euchistos heros (Hemiptera:
Pentatomidae) e percevejo-castanho Scaptocoris castanea (Hemiptera:
Cydnidae).
O fungo B. bassiana também é muito utilizado no
controle biológico e existem 27 bioinseticidas à base desse fungo registrados
no MAPA visando o controle de pragas como a broca-do-café Hypothenemus
hampei (Coleoptera: Curculionidae), mosca-branca Bemisiatabaci
(Hemiptera: Aleyrodidae), cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis (Hemiptera:
Cicadellidae), ácaro-rajado T. urticae, moleque-da-bananeira Cosmopolites
sordidus (Coleoptera: Curculionidae), vaquinha Diabrotica
speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae), gorgulho-do-eucalipto Gonipterus
scutellatus (Coleoptera: Curculionidae), cochonilho-verde Coccus
viridis (Hemiptera: Coccidae), psilídeo Diaphorina citri (Hemiptera:
Liviidae), broca-da-erva-mate Hedypathes betulinus (Coleoptera:
Cerambycidae), percevejo-marrom Euchustus heros (Hemiptera:
Pentatomidae) e cigarrinha-das-pastagens Deois flavopicta (Hemiptera:
Cercopidae).
De portas
abertas para o futuro
Jean Vilhena Faleiros é produtor de café na fazenda
Eldorado, na cidade de Ibiraci (MG), que possui aproximadamente 1.000 hectares.
Ele utiliza, há quatro anos, produtos biológicos em toda a sua lavoura e conta sobre
sua experiência. “Em 2015 minhas lavouras enfrentaram uma praga totalmente
descontrolada, a broca, que teve o principal inseticida, o endossulfan,
proibido em 2014. Na época, quando me apresentaram um produto biológico à base
de Beauveria como solução para combater a broca, não acreditei, mas
mesmo assim decidi experimentar em apenas 10% da área. Só que não realizei o
manejo adequado, e por isso não obtive sucesso”, lembra.
No ano seguinte, Jean resolveu tentar novamente, agora com
uma orientação detalhada e com mais critério técnico. “Começamos da forma certa.
Após a colheita montei as armadilhas nas lavouras, e após 15 dias da florada
comecei a monitorar. Assim que a praga fez a a primeira revoada, em novembro,
já fiz a aplicação. Continuei monitorando, e com 30 dias apareceu mais broca,
que foi quando fiz a segunda aplicação. Apenas duas aplicações controlaram 70%
da minha área com broca; os outros 30%, onde a incidência era maior, tive que
fazer mais aplicações, mas hoje o produto já controla 100% da infestação na área”
garante.
Custo x benefício
Segundo Jean, a vantagem do produto biológico, além da
eficiência, é seu custo, visto que os químicos disponíveis para combater esse
tipo de praga estão custando, em média, R$ 400,00 por hectare, enquanto o
biológico custa apenas R$ 60,00.
“Atualmente, gasto menos de 50%, em relação ao produto
químico, além de manter minha lavoura muito mais equilibrada e ter reduzido,
ainda, as aplicações de inseticidas para bicho mineiro, ácaro, entre outros, já
que a Beauveria também trabalha para este fim”, ressalta o produtor.
Mas, ele lembra que o produto biológico é diferente dos químicos,
no tocante ao manejo, precisa ser aplicado na hora certa e com as condições
ideais. “A primeira coisa é fazer o monitoramento de armadilhas, para capturar a
broca. Esta, quando cai na armadilha, fica presa, e o ideal é não deixar a
contagem passar de 20 brocas por armadilha, que é a hora certa de fazer a
primeira aplicação. Para realizar a segunda aplicação é preciso continuar
monitorando as armadilhas, mas na terceira aplicação a armadilha não funciona
mais, aí é preciso fazer o MIP, com o monitoramento dos grãos, já que a broca
vai estará dentro do fruto”, explica Jean.
Para ele, o uso do biológico proporciona equilíbrio e vigor
à lavoura, enquanto a produtividade é uma consequência do processo. O produtor
ainda ressalta que o produto biológico precisa ser de boa procedência, para possam
ser aproveitados todos os benefícios do sistema. “As empresas fornecedoras dos
fungos disponibilizam uma lista de produtos que não podem ser utilizados, pois há
alguns que matam a Beauveria. Existem muitos produtos que utilizamos no
café que não agridem o fungo, então é preciso ficar atento também com a bomba
que é utilizada para colocar os produtos, a qual precisa estar bem limpa antes
de inserir a Beauveria”, ensina.
A Beauveria adora a umidade e detesta o calor e o
sol, então, temperaturas altas, acima de 30°, podem matá-la, indicando-se fazer
aplicação no período noturno, a partir das 18h.
Soluções contínuas
Além do biológico que combate a broca, Jean também está
utilizando, há dois anos, um biológico para solo (Bacillus thuringiensis),
que combate os nematoides, e começa agora também com o Trichoderma, para
proteger a raiz da planta.
Com tantas experiências e vivência no campo, ele declara
como os biológicos vêm mudando seu conceito no manejo das lavouras. “Já
contamos com vários produtos disponíveis no mercado, mas a linha de biológicos
está crescendo muito. Acredito que em 10 anos teremos uma revolução biológica
no Brasil, e natureza vai agradecer muito, com a diminuição de inseticidas e
outros produtos que agridem o ecossistema”, finaliza.
O mercado mundial de bioagentes movimentará em 2020 mais de
US$ 5 bilhões, sendo mais de US$ 800 milhões na América Latina.
E enquanto o mercado de biológicos do mundo está crescendo
9% ao ano, no Brasil o aumento é de mais de 15%.
Uso de bioagentes no tratamento de sementes:
– Diminuição de 60% de lagartas falsa-medideira,
– 30% de Helicoverpa
armigera
– 60% de mosca-branca na parte aérea, além da redução de 50%
no consumo das folhas pelas pragas.