Ovos e ninfas da mosca-branca devem ser eliminados?

Ovos e ninfas da mosca-branca devem ser eliminados?

A mosca-branca é uma das pragas mais nocivas das lavouras
brasileiras de soja, algodão, feijão e outras culturas. As ninfas contribuem para
o desenvolvimento da fumagina, um fungo que cobre as folhas e diminui a
fotossíntese, mas os maiores danos ainda vêm da transmissão de vírus capazes de
matar a planta. Os prejuízos estimados são superiores a R$ 10 bilhões e há
registros de perdas de até seis sacas por hectare devido a infestações.

A
praga

A mosca-branca é considerada um vetor para muitos tipos de
vírus em diversas culturas. O ciclo de vida deste inseto apresenta três fases
que são: o ovo, a ninfa (subdividida em quatro estágios: 1º instar, 2º instar,
3º instar e pupa) e por último a fase adulta.

As fêmeas depositam os ovos com formato de pera na
superfície de baixo das folhas de maneira irregular.

Controle

Na maioria das vezes o controle da mosca-branca é feito por
meio de inseticidas que atuam na fase adulta do inseto. Dentre os princípios
ativos disponíveis no mercado estão os pertencentes ao grupo químico dos
neonicotinoides e clorpirifós, sendo que tais produtos são recomendados quando
existe maior quantidade de adultos do que ninfas na lavoura.

Contudo, existem produtos no mercado que são capazes de
atuar no controle da mosca-branca durante a fase imatura, os quais são
recomendados quando existe alta incidência de ninfas. Como exemplo estão os
inseticidas à base de buprofezim e piriproxifem. O primeiro atua como inibidor
da síntese de quitina, um importante polissacarídeo sintetizado durante o
desenvolvimento do inseto. O segundo atua como um hormônio juvenil sintético
para a mosca-branca, sendo que ao ser aplicado causa um desequilíbrio no
desenvolvimento normal da ninfa, levando-a à morte.

Além do uso de inseticidas, existem formas alternativas para
o controle da mosca-branca, que são o controle cultural e o controle biológico.
Tais métodos apresentam a vantagem de não agredir o meio ambiente. No controle
cultural são utilizadas técnicas preventivas, como a rotação de culturas
utilizando milho ou sorgo.

Em pequenas culturas realizadas em estufas, como a do
tomate, o uso de armadilhas adesivas, a eliminação de plantas daninhas hospedeiras
do inseto e a destruição de restos culturais são de grande ajuda para o
controle populacional da mosca-branca.

Biológico

O controle biológico consiste no uso dos inimigos naturais
da mosca-branca, sendo que ao todo foram identificadas 16 espécies de
predadores, 37 espécies de parasitoides e existem relatos de diversos fungos
que são entomopatógenos da mosca-branca. Porém, para que o controle biológico
seja eficiente, é necessário que o produtor utilize inseticidas seletivos para
evitar a mortalidade dos inimigos naturais da mosca-branca.

Culturas
prejudicadas

Estima-se que cerca de 500 a 900 espécies de plantas sirvam
de alimento para a mosca-branca. Entre estas espécies encontram-se culturas
herbáceas, bianuais e perenes, seja em cultivo protegido ou em campo aberto.
Além disso, espécies nativas também servem como hospedeiras para a
mosca-branca. Na tabela 1 encontra-se um resumo das espécies hospedeiras da
mosca-branca.

Tabela 1: Espécies cultivadas
hospedeiras da mosca-branca

Cultura Espécie
Abóbora Cucurbita
moschata
Abobrinha Cucurbita pepo
Alface Lactuca sativa
Algodoeiro Gossypium hirsutum
Berinjela Solanum melongena
Brócolis, couve, repolho e couve-flor Brassica oleracea
Chicória Cichorium endivia
Chuchu Sechium edule
Coqueiro Cocos nucifera
Crisântemo Chrysanthemum spp.
Ervilha Pisum sativum
Eucalipto Eucalyptus camaldulensis
Feijoeiro Phaseolus vulgaris
Gérbera Gerbera hybrida
Hibisco Hibiscus
esculentum
Jiló Solanum gilo
Maracujá Passiflora spp.
Melancia Citrullus lanatus
Melão Cucumis melo
Pepino Cucumis sativus
Pimentão Capsicum annuum
Soja Glycine max
Tomateiro Lycopersicon esculentum

Prejuízos

A mosca-branca pode causar prejuízos à produção por meio de
danos diretos e indiretos. Os danos diretos estão relacionados à intensidade de
alimentação, tanto pelo adulto como pela forma imatura (ninfas).

Sob condições de alta infestação existe uma intensa retirada
de seiva das folhas por parte das ninfas e adultos, o que, por sua vez, resulta
na intensa retirada de nutrientes e produtos da fotossíntese que deixarão de
nutrir as diversas partes da planta, como raízes, frutos e sementes, resultando
até mesmo em queda das folhas por falta de fotoassimilados para nutri-la.  

Os danos indiretos causados pelas ninfas e adultos da
mosca-branca estão relacionados a secreções açucaradas resultantes do processo
de alimentação, conhecidas como “mela”. Trata-se de um substrato para o
desenvolvimento do fungo responsável pela fumagina, cujo desenvolvimento sobre
a folha acaba reduzindo a área foliar útil para a fotossíntese.


Não
confunda

Um ponto importante a ser destacado é que as ninfas não são
transmissoras das viroses que causam doenças em plantas, o que normalmente
ocorre com os adultos da mosca-branca. Isso ocorre porque o vírus presente na
mosca adulta não é passado para os descendentes. Sendo assim, para que estes
descendentes sejam portadores de algum tipo de vírus que causa alguma doença
nas plantas, é necessário que a prole na fase adulta se alimente de plantas que
sejam hospedeiras de um determinado vírus, como por exemplo, o do mosaico
comum.

Portanto, apenas as moscas adultas são capazes de causar
danos indiretos por transmissão de vírus patogênicos.

Sintomas

Os sintomas do ataque da mosca-branca são resultantes dos
danos diretos e indiretos. No caso dos danos diretos, ocasionados tanto pelas
ninfas como pelos adultos, os sintomas podem ser observados pelo amarelecimento
das folhas, resultante da alta frequência de alimentação, enquanto que em
plantas jovens as folhas podem secar, levando a planta à morte.

Outro sintoma capaz de evidenciar a presença das ninfas da
mosca-branca é a ocorrência de uma camada branca e cerosa que as ninfas
secretam na face abaxial da folha como forma de proteção.

Os sintomas ocasionados pelos danos indiretos estão
relacionados ao aparecimento da fumagina, a qual surge devido à secreção de
substâncias açucaradas (mela) por parte das ninfas. Tais substâncias levam ao
estabelecimento do fungo Capnodium,
causador da fumagina.

Outro sintoma indireto que evidencia o ataque da forma
adulta da mosca-branca é a transmissão de vírus, como por exemplo, o mosaico
comum (AbMV, Abutilon Mosaic Virus).
A presença deste vírus em plantas faz com que as folhas apresentem manchas
amareladas, a planta adquire nanismo e até mesmo a esterilidade parcial ou
total, o que resulta em perda total da produção.

 Ataque fatal

A região mais afetada pelo ataque da mosca-branca é a face
abaxial das folhas, pois é neste local que os adultos preferencialmente se
alimentam e realizam a postura dos ovos. É também na face abaxial das folhas
onde as ninfas se estabelecem e alimentam-se, o que dificulta o controle desta
praga.


Fique
de olho

O aparecimento e desenvolvimento da mosca-branca é
dependente do clima, sendo que a maior incidência ocorre em dias quentes e
secos. Estudos demonstram que a população de moscas é maior próximo ao final da
estação quente e chuvosa, e menor com o início dos dias frios.

Quando as condições são favoráveis à mosca-branca, chega a
apresentar de 11 a 15 gerações por ano. Tal taxa de reprodução propicia o
rápido aparecimento de gerações tolerantes a inseticidas comumente usados. Além
do fator climático, a hora do dia também apresenta influência no comportamento
do inseto, sendo que a maior atividade de voo ocorre entre 6:30h e 8:30h, e
entre 15:30h e 17:30h.

Porém, são os ventos que propiciam o deslocamento dos
adultos alados a longas distâncias. 

Técnicas
e produtos inovadores

A forma mais utilizada para o controle da mosca-branca é a
aplicação de produtos químicos. Existem dois tipos de inseticidas que podem ser
utilizados no combate a estes insetos.

O primeiro é pertencente ao grupo químico dos neonicotinoides,
sendo este tipo de inseticida utilizado para o controle da fase adulta da
mosca. Já o segundo grupo de inseticidas é constituído por hormônios de
crescimento e tem como alvo as ninfas. Estes hormônios, quando em doses
elevadas, acabam interferindo no desenvolvimento normal da ninfa, e como
exemplo podemos citar as substâncias buprofezim e o piriproxifem.

Além do controle químico, existem muitas técnicas que podem
ser adotadas em grandes ou pequenas culturas para o controle tanto dos adultos
como das ninfas da mosca-branca. Dentre estas técnicas estão:

Ü A destruição dos restos da cultura após a colheita,
evitando assim a manutenção de focos da mosca-branca.

Ü Evitar o escalonamento da cultura, evitando assim
que plantas velhas sirvam de fonte tanto para moscas como de vírus para plantas
novas.

Ü Eliminar plantas daninhas antes do plantio, pois a
ausência de plantas hospedeiras diminui a incidência de moscas.

Ü Optar por espécies e cultivares tolerantes e
resistentes.

Ü Fazer o monitoramento constante da cultura em busca
de focos de mosca-branca, com especial atenção a locais próximos de matas e
pastagens e no período do verão.

Ü Evitar o trânsito de plantas dentro da propriedade,
pois plantas que são trazidas de fora podem ser fonte de vírus e ninfas de
moscas.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br