Deborah Gaiotto é publicitária de formação e hoje empresária, proprietária da Fazenda Maria ” Gastronomia Sustentável, uma empresa familiar formada por um engenheiro agrônomo, duas psicólogas e uma publicitária, todos em prol de um objetivo comum – melhorar a qualidade do cultivo no Brasil, por meio de métodos sustentáveis e manejo orgânico, proporcionando saúde e bem-estar à mesa.
“Claro, não deixamos de lado nosso lado decorativo e sensorial da gastronomia, com a produção de micro leaves, flores comestíveis e ervas aromáticas. Tudo direto da fazenda.Vejo um Brasil que está despertando para ervas diferenciadas. Um país muito acostumado a se alimentar das mesmas coisas e dentro dessa monotonia incluÃmos as ervas aromáticas e as flores comestíveis. Temos, por exemplo, mais de 360 espécies de manjericão, e a grande maioria conhece no máximo quatro. Assim acontece com ervas pouco exploradas, o estragão, o cerefólio, a lavanda, o tomilho limão, etc“, enumera Deborah.
Ela conta que,quando começou a trabalhar com as flores comestíveis, só conhecia quatro: o amor-perfeito, a mini-rosa, a calêndula e a capuchinha, sendo que, na verdade, quase 85% das flores são comestíveis, com sabores, aromas e texturas diferentes.
“Podemos usá-las como verdadeiros temperos em nossas refeições. Acredito que poderia, sim, ser um potencial econômico ao País, mas para isso a procura também precisa aumentar. Acredito num movimento que já começou. Alguns itens que não eram tão procurados agora são,o que incentivou muitos produtores a aumentarem a produção de orgânicos, por exemplo. Por isso criei um projeto à parte, o “Deborah na Fazenda“, onde procuro sensibilizar o grande público sobre a existência desses itens e assim estimular de fato o consumo e incentivar a cozinhar mais ‘fora da caixa’“, relata.
Deborah diz que especiarias que são importadas também poderiam ser produzidas no Brasil.
Carinho que se sente
A Fazenda Maria está em busca constante de manter a harmonia entre a produção e a natureza. “Produzimos produtos que respeitam a natureza e também são respeitados pelas mãos dos produtores: somos contra o uso de produtos tóxicos, prezamos pelo manuseio de produtos artesanais, assim como uma boa adubação, o que proporciona também à planta meios “próprios“ de se proteger contra pragas e fungos“, relata Deborah.
A irrigação é feita com água de poços artesianos, portanto 100% naturais e livres de impurezas. Como a maioria dos produtos são de origem europeia, necessitam de cuidados como estufas e climatização. As sementes também são selecionadas e preservam um aroma mais intenso.
Os produtos são manuseados e higienizados em cozinhas apropriadas, com funcionários especializados e treinados, e a colheita é diária, tentando atingir a necessidade dos clientes de terem sempre um produto fresco em mãos.
Assim que são devidamente embalados, são armazenados em câmara fria e transportados em carro refrigerado.
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Custo x rentabilidade
O custo alto de produção dessas especiarias ainda é alto, segundo Deborah, pois produtos frescos estão sujeitos às adversidades climáticas, ainda mais agora, que não temos estações muito bem definidas. “Isso nos coloca numa situação delicada. Por isso trabalhamos com excedente de produção para evitar ao máximo que falte aos nossos clientes. Mas, com um bom planejamento é possível entrar num equilíbrio custo/lucro“, garante a empresária.
No custo de produção citado, a maior fatia fica com mãode obra e com os cuidados especiais com as plantas mais delicadas. Isso pensando numa produção realmente consciente, orgânica, que preserva o meio ambiente e respeita o tempo e ciclo de vida de cada planta, como é o caso da Fazenda Maria.
Nesse tipo de produção que envolve práticas ambientais positivas, que respeita o agricultor e o cliente, os produtos chegam ao seu ponto máximo de sabor, textura e qualidade. “Procuramos manter um padrão e atingir um público também consciente. Muito diferente de produzir visando a grande escala, no qual temos outro padrão. O que falta realmente é mais incentivo ao produtor que quer praticar formas de cultivo sadio. Hoje, no Brasil, temos 13.000 produtores pequenos de orgânicos, mas isso representa apenas 0,6% da fatia agrícola do País. Muito pouco ainda“, avalia Deborah.
Tendência de mercado
Para Deborah, o mercado tem mudado bastante, mas ainda se baseia na lei da oferta e procura. No caso dos orgânicos, há cinco anos não se via nem 1/3 da variedade de orgânicos disponíveis atualmente no mercado. “Hoje já temos de feijão a geleias de práticas conscientes. Tenho esperança nesse movimento e cada pontinho plantado, com certeza está fazendo diferença para um futuro novo“, pontua.
Bom para todos
O Brasil apresenta a maior biodiversidade do planeta, graças à Mata Atlântica, mas ainda é um potencial pouco explorado.“Aproveitar dessa nossa riqueza e começar a produzir uma gastronomia brasileira com mais força e atitude é nossa esperança. Hoje, essa é minha missão com o “Deborah na Fazenda“ – sensibilizar o público leigo e aspirantes sobre esse buraco negro em nosso País“, declara a empresária, que tem notado um aumento na demanda por esses alimentos.
Mas, antes de entrar de cabeça na atividade, como nas demais o produtor deve sentir o que realmente o mercado está procurando e detectar aquilo que ele pode usar e ainda não sabe.
Essa é parte da matéria de capa da Revista Campo & Negócios Hortifrúti, edição de julho de 2018. Adquira o seu exemplar para leitura completa.
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