Autor : Mário Calvino Palombini – Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural – vermelhonatural@hotmail.com
Os principais produtores mundiais de morango são os EUA e a
Espanha, que possuem produções concentradas em regiões com condições climáticas
mais favoráveis. O EUA têm sua produção localizada principalmente no Estado da
California, Flórida e Óregon, compreendendo uma área plantada de 23.000
hectares, com uma das maiores produtividades médias, em torno de 60 toneladas
por hectare.
A Espanha, com a produção localizada na província de Huelva,
tem uma área de 7.000 hectares, sendo que sua maior área produtiva compreende
um único bloco de produção, com produtividade média de 40 toneladas por hectare.
Estes centros de produção somam enormes volumes de recursos.
Somente a província de Huelva movimenta em torno de 500 milhões de euros anuais.
Com a cotação do euro atual de R$ 6,28, convertendo temos o valor de R$ 3,14
bilhões.
Nacionalmente
No Brasil, a cultura do morango possui uma importância
econômica representativa, distribuída em vários Estados, sendo os principais:
Minas Gerais, seguido de São Paulo e Rio Grande do Sul.
O Brasil totaliza uma área produtiva de 4.000 hectares, com produtividade
média de 32 toneladas por hectare. Em média, volumes de recursos movimentados
no Brasil são significativos. Se considerarmos um preço médio de venda de R$ 6,00
o quilo, o rendimento bruto por hectare fica em R$ 192 mil, com o Brasil
movimentando um valor de R$ 768 milhões anualmente.
Produção pelo Brasil
No Brasil, as características das áreas produtivas são
extremamente diversificadas, mas podemos dividir em dois grupos. O grupo dos
produtores empresariais, de vários portes, está localizado em regiões de clima
favorável, que atingem individualmente ou em parcerias os principais centros
consumidores.
O grupo de pequenos produtores se localiza próximo a seus
mercados consumidores, promovem uma venda direta e são denominados de sistema
¨Distância Zero¨. Geralmente são menos tecnificados, mas atingem mercados que
os produtores empresariais não alcançam.
Estas áreas do sistema ¨Distância Zero¨ são muito
significativas no Brasil, a exemplo do Rio Grande do Sul, que possui em torno
de 400 hectares de morango, a área do sistema ¨Distância Zero¨ compreende 200
hectares, metade da área produtora.
Oferta e demanda
As duas principais regiões produtoras de morango, Minas
Gerais e São Paulo, estão próximas das principais regiões consumidoras de
morango, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
As regiões produtoras têm variações significativas de época
de colheita, conforme os seus microclimas e, principalmente, devido às variações
das características varietais, principalmente as diferenciações de variedades
de dias curtos (produção de inverno) ou dias neutros (produção o ano todo).
Tecnologias a toda prova
Em termos de tecnologia, EUA e Espanha, por possuírem a
produção concentrada em poucas regiões, têm uma definição tecnológica bem
fundamentada e eficiente para cada modelo produtivo.
No Brasil, onde as áreas de produção são pulverizadas, não
necessariamente respeitando as condições de climas adequadas, o manejo da cultura
se torna excessivamente diversificado e pouco fundamentado.
Tal fato faz variar extremamente a produtividade, de áreas
de produção com 20 toneladas por hectare a produtividades em sistemas fora de
solo, em regiões com clima adequado e empregando tecnologias adequadas,
atingindo 80 toneladas por hectare.
Mais produtividade
Como forma de melhorarmos o desempenho da produção nacional, alguns critérios são passiveis de avaliação:
ð Concentrar a produção em regiões com as melhores
condições climáticas;
ð Implantar estrutura de pós-colheita e transporte
adequados para atingir os mercados alvo;
ð Desenvolver a estrutura básica, como estadas,
principalmente asfaltadas, energia trifásica, disponibilidade de água,
estimular a migração e treinamento de trabalhadores vocacionados, desenvolver
orientação técnica especializada, estimular a infraestrutura de fornecimento de
insumos, disponibilizar recursos financeiros, entre outros;
ð Desenvolver tecnologias adaptadas a cada região e
sistema de produção e, nesse caso, vários fatores devem ser analisados;
ð Avaliar o regime de chuvas, que determinará a
necessidade ou não com cobertura plástica;
ð O tipo de solo, topografia, a viabilidade do
controle de doenças de solo, disponibilidade de área e de trabalhadores
vocacionados determinarão a possibilidade de produzir no solo ou fora dele solo;
ð Solos argilosos, que são menos indicados para a
cultura do morango, com pouca disponibilidade trabalhadores vocacionados, pouca
quantidade de áreas agricultáveis para fazer rotação de cultura, falta de
insumos adequados para o manejo eficiente de controle de doenças de solo, entre
outros, são fatores a serem avaliados para adotar a técnica de produção ¨fora
de solo¨;
ð No caso de produção no solo, a utilização de mulching,
fertirrigação por gotejamento, uma adequada calagem e correção de solo, de
preferência adotando parte da adubação com liberação lenta, são fundamentais
para a melhor resposta, independente da região produtora;
ð No sistema ¨fora de solo¨, a necessidade de uma
orientação técnica especializada se torna mais evidente. A cobertura plástica é
obrigatória. No entanto, tipo de estrutura e cobertura plástica são variáveis e
a sua necessidade deve ser avaliada localmente. A estrutura irá alterar o clima
em que as plantas se desenvolvem. Geralmente, quanto maior for a alteração do
clima, maior será o custo e, portanto, a avaliação econômica deve ser levada em
consideração;
ð A utilização de calhas, calhas de isopor ou slabs
também deve ser considerada. Os slabs ou calhas com plástico na parte superior
irão promover a melhor conservação de água e redução de plantas invasoras. Já
as calhas de isopor influenciarão a temperatura do substrato;
ð A cobertura plástica em regiões com excesso de chuva,
o sistema ¨fora de solo¨ e as medidas de redução de infecção no solo permitem a
utilização de agentes biológicos de forma altamente eficiente no controle
fitossanitário, reduzindo ou eliminado a utilização de agroquímicos.
Resumo da cultura
A cultura do morango no Brasil representa uma atividade
agropastoril de importância econômica relevante, mas necessita evoluir e
atingir o nível de profissionalismo necessário para atingir uma
representatividade internacional condizente com o seu potencial.
Mulching
Sanidade do
morangueiro garantida
O
mulching impede com que o morango toque diretamente o solo e esteja mais
sujeito a podridões, inclusive as podridões de solo
Mário Calvino Palombini – Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural – vermelhonatural@hotmail.com
Como proteção de solo, o mulching deveria ser adotado como
uma prática usual. Seus benefícios são incontestáveis. Existe vários materiais
para serem utilizados, mas o mais comum é filme plástico.
O plástico preto tem a vantagem de aquecer o solo em locais
frios, e assim acelerar o desenvolvimento das plantas. Neste caso, deve-se ter
o cuidado de um bom preparo de solo para que não fiquem bolsões de ar embaixo
do plástico, os quais podem superaquecer o solo e prejudicar o desenvolvimento
das raízes, além de acumular água acima destes e prejudicar os frutos. Este
plástico pode causar queimaduras nas folhas iniciais que o tocam em períodos quentes.
O plástico branco com fundo preto é mais indicado para regiões
quentes, pois promove um desenvolvimento menos acelerado da planta.
Mais que vantagens
O mulching traz outras vantagens, como permitir maior
conservação da água, diminuindo a evaporação e, em caso de áreas descobertas,
reduzir o encharcamento do solo em períodos chuvosos.
Mas, o que mais se destaca são as vantagens fitossanitárias,
principalmente em relação ao fruto, pois o mulching impede com que ele toque
diretamente o solo e esteja mais sujeito a podridões, inclusive as podridões de
solo, como Colletotrichum, que pode ser C. acutatum, C.
gloeosporioides e C. fragariae, Phytophthora cactorum, todos doenças
de solo que podem atacam o fruto.
Além destas, há ainda a Rhizoctonia fragariae (antera
e ferrugem do pistilo), Mycosphaerella fragariae e Sclerotinia
sclerotiorum (podridão do fruto da esclerotinia).
O mulching pode minimizar a incidência dessas doenças e muitas
outras, tornando-se uma técnica vantajosa na cultura do morango.
Manejo de pragas e doenças – Como proceder?
Mário Calvino Palombini – Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural – vermelhonatural@hotmail.com
O manejo de pragas e doenças é um assunto extremamente
complexos, necessitando um cuidado extra em relação à saúde humana e o meio
ambiente. Deve-se respeitar as normas e a legislação vigente em termos do seu
uso e descarte de embalagens vazias. Principalmente no caso de somente usar
produtos registrados para a cultura.
Dicas importantes
O manejo pode se dar por controle químico, biológico ou com
técnicas alternativas. No caso do controle químico, deve-se analisar não
somente a praga e a doença, mas o ecossistema como um todo, procurando utilizar
produtos mais seletivos, gerando um menor impacto ao meio ambiente e em
particular às abelhas.
O manejo de pragas e doenças inicia muito antes dos
tratamentos – começa na escolha da variedade e qualidade da muda, que deve ser
sadia, com o sistema radicular abundante. O produtor ainda deve procurar
conhecer a suscetibilidade das variedades a pragas e doenças.
É importante usar solos e substratos sem antecedentes de
doenças ou substâncias que irão prejudicar o desenvolvimento da planta e, no
caso de plantio no solo, promover processos de controle de doenças de solo,
como rotação de culturas e plantio prévio com plantas antagonistas.
Usar uma adubação equilibrada é fundamental. Plantas com
excesso de vigor estimulam o surgimento de oídio, enquanto plantas estressadas
facilitam a antracnose, ácaro rajado, tripes e pulgões.
Em regiões com condições pluviométricas desfavoráveis
deve-se instalar a cobertura plástica antes do plantio, para evitar as doenças
que necessitam do impacto da gota da chuva para se propagar, como Xanthomonas
fragariae, Phomopsis obscurans, Diplocarpon ealiana, Gnomonia comari,
Mycospherella fragariae, entre outras.
Passo a passo
Antes do plantio, deve-se fazer a limpeza fitossanitárias
das mudas, mergulhando-as em uma solução com metalaxil-m, um fungicida e um
inseticida/acaricida. Após o plantio, fazer tratamentos periódicos no solo ou
substrato com metalaxil-m, os três primeiros tratamentos devem fazer na gema,
acrescentando um inseticida, de preferência do grupo dos piretroides.
Os outros tratamentos de solo são via fertirrigação, para
evitar o desenvolvimento de doenças de solo. A intensidade vai variar conforme
a intensidade das doenças, idade da planta e condições climáticas. Estas
doenças, na maioria das vezes, também podem atingem o fruto, como Phytophthora
fragariae, Phytophthora cactorum, Colletotrichum acutatum, Colletotrichum
gloeosporioides, Colletotrichum fragariae, Verticillium, Fusarium spp. e Cylindrocarpon
destructans.
Parte aérea
O controle de doenças da parte aérea da planta, como Mycospherella
fragariae, Phytophora cactorum, antracnose (Colletotrichum acutatum)
e mofo cinzento (Botrytiscinerea) podem ser controlados com uma
série de fungicidas, como exemplo o fluazinam, procimidona, azoxistrobina com
difenoconazol.
O oídio (Sphaerotheca macularis) pode ser controlado
com Boscalida e Cresoxim-metílico. Estas doenças são extremamente agressivas
sob umidade do ar alta, e mesmo em baixas populações podem causar graves danos
econômicos. O oídio possui o seu desenvolvimento em condições ambientais
diferentes, desenvolve-se com baixa umidade do ar e possui a sua dispersão pelo
vento extremamente rápida.
A Mycospherella fragariae é a única que é aceitável,
com uma infestação média, sem causar danos econômicos.
No caso de pragas, o tripes (Frankliniella occidentalis),
um inseto que vive e causa danos nas flores em populações altas, tem seus danos
visualizados somente posteriormente nos frutos, como rachaduras e bronzeamento.
Um inseto de difícil controle por causa da sua localização nas flores,
apresentando uma capacidade de recolonização rápida por causa da sua alta
ovoposição, além de existir naturalmente no meio ambiente. O produto mais
recomendado para seu controle é o spinosad.
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A mosca-branca (Bemisia argentifolii) habita a
vegetação nativa, podendo se tornar uma praga eventual no morango. Seu maior
dano é a formação do fungo fumagina sobre a planta, que também transmite vírus.
Pode ser controlada por sais de potássio com ácidos graxos. Estes produtos
comerciais possuem também efeito inseticida.
Ácaros
O ácaro branco (Phytonemus pallidus) e o ácaro rajado
(Tetranychus urticae) são os dois principais ácaros do morango. O
primeiro habita a gema, tornando difícil o seu controle, causa nanismo na
planta, e os tratamentos devem ser direcionados ao miolo da planta.
O ácaro rajado causa o bronzeamento das folhas, devido à
alta capacidade de multiplicação, provocando graves danos a plantação. Podem
ser controlados por acaricidas registrados para a cultura, mas como ressalva,
os acaricidas não podem ser aplicados mais de duas vezes consecutivas, para
evitar a resistência da praga ao princípio ativo.
Outras pragas
As lagartas não são uma praga de relevância para a cultura,
com exceção da lagarta-da-gema (Duponchelia fovealis), que causa a
destruição das gemas atacadas e podem ser controladas por produtos comerciais
do grupo químico dos piretroides, que devem ser aplicados de forma direcionada ao
miolo da planta.
Os pulgões são vetores de transmissão de vírus que, em
grandes populações, desenvolvem o fungo fumagina sobre as plantas. O tratamento
mais indicado para seu controle é o tiametoxam.
A mosca Drosophila suzukii ovoposita em frutos no início
da maturação, causando liquefação da sua polpa, E tem se tornado umas das
principais pragas da cultura. Pode ser controlada por vários princípios ativos
de inseticidas, sendo o mais utilizado o spinoteram. Como uma ressalva, cada
princípio ativo não pode ser aplicado mais de uma vez seguida, para evitar a
resistência da praga ao princípio ativo.
Besouros que se alimentam das partes tenras da planta
(folhas, caule, flores e frutos), em destaque o Iphimeis dives e Diabrotica
speciosa, para o seu controle são recomendados inseticidas do grupo dos
piretroides.
Outro besouro que ataca os frutos sobremaduros é o Lobiopa
insularis, o qual geralmente é facilmente controlado removendo os frutos
sobremaduros da lavoura.
Todas estas técnicas possuem muitos fatores que devem ser avaliados, como o alto nível de complexidade e, portanto, devem ser aplicadas com a orientação técnica apropriada, fornecida por um técnico especializado e experiente.
Inovações em produção de morango
hidropônico
Mário Calvino Palombini – Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural – vermelhonatural@hotmail.com
A hidroponia é um dos segmentos agrícolas que teve maior
desenvolvimento tecnológico, e a cultura do morango fora de solo acompanhou
este desenvolvimento. Entretanto, toda a aplicação de tecnologia pode acarretar
em aumento de investimento e, por consequência, aumento de custo. Por este motivo,
deve fazer parte de uma estratégia econômica adequada a cada situação.
Inovações
Existem inovações em todos os segmentos da atividade
produtiva, e na hidroponia são: tipos de infraestrutura, desde estufas com pé
direito alto de aço inoxidável e ambiente climatizado, como estrutura de micro
túnel elevado com estrutura de sustentação de madeira; e fertirrigação central
utilizando injetores de adubo e controladores de rega com software que
indica a situação atual e corrige a fertirrigação futura com sistema de gotejo
com mangueira gotejadora ou sistemas de espaguete.
Há, ainda, novas variedades e vários tipos de mudas, raiz
nua frigoconservada, tray plants frigoconservada, raiz nua de muda fresca e
tray plants de muda fresca. O setor ainda tem experimentado novas definições de
quantidade, dimensões e tipos de substratos, além de inovações nas relações de
nutriente adaptado a cada estado fisiológico (crescimento, maturação, etc.),
variedade e se são de dias neutros ou curtos.
Observa-se, atualmente, um maior conhecimento das condições
climáticas e suas relações com a atividade produtiva. Nesse âmbito, surge ainda
o controle biológico como a principal forma de tratamento fitossanitário.
Todas estas são inovações recentes à disposição dos técnicos especializados do setor. A grande dificuldade não é apenas entender estes processos, mas adotar estratégias diferenciadas que irão proporcionar a melhor estrutura de planta e os melhores resultados econômicos e ambientais.
Resultados dos fertilizantes de liberação lenta em morangueiro
Mário Calvino Palombini – Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural – vermelhonatural@hotmail.com
A adubação na cultura do morango é dividida em duas etapas.
A adubação de base tem o intuito de corrigir as deficiências de solo, e é feita
antes do plantio e a fertirrigação, que são adubos diluídos na água.
Entre estas duas etapas, pode ser utilizada a adubação de
liberação lenta. Aplicada junto com a adubação de base, os nutrientes seriam
disponibilizados gradualmente nas fases de desenvolvimento da planta.
Benefícios
A vantagem da utilização desta ferramenta é a melhor
distribuição de nutrientes em solos com dificuldade de translocação dos
nutrientes por fertirrigação.
Dependendo das características de solo, os nutrientes
fornecidos pela fertirrigação não se deslocam no solo de uma forma uniforme,
principalmente na translocação horizontal. Esta característica é evidente em solos
arenosos argilosos, onde houve deficiência de preparo. Se o solo não ficar
pulverizado, com excesso de torrões, a solução nutritiva terá forte
movimentação vertical e, ao ser lixiviada, aprofundará no solo, tornando-se
indisponível pela planta.
Os fertilizantes de
liberação lenta, por serem aplicados no preparo de solo, compensam estas
falhas, garantindo uma boa nutrição.