Jean de Oliveira Souza – Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Produção Vegetal – jsoliveira1@hotmail.com
O tomate, hoje, pode ser considerado a mais importante
espécie olerícola cultivada da agricultura brasileira. Segundo estimativas, a
produção anual brasileira no ano de 2020 foi de aproximadamente 4,0 milhões de
toneladas, em uma área cultivada de 81,4 mil hectares, obtendo assim uma média
de 49 t/ha.
Estima-se que aproximadamente 20% da área total, cerca de 16
mil hectares, sejam destinados à produção de tomate para mesa em cultivo em
estufas ou com algum tipo de proteção; e cerca de 3,0 mil hectares desse
cultivo protegido seja destinado à exploração do tomateiro em sistema
hidropônico.
A cadeia produtiva do tomate tem passado por processos de
modernização importante, como as mudanças que têm ocorrido no que diz respeito à
utilização de novas cultivares, tecnologia de produção e comercialização.
Dentre as tecnologias de produção, o cultivo protegido é uma
técnica amplamente em expansão na exploração da cultura, que permite um maior
controle dos fatores climáticos (chuva, temperatura, umidade e vento, dentre
outros). Com o advento do cultivo protegido, a adoção do sistema hidropônico
tem sido crescente na produção do tomateiro no Brasil.
A hidroponia consiste no cultivo em meio líquido, com ou sem
meio de sustentação para as plantas (substrato). É uma técnica alternativa ao
cultivo tradicional que permite a substituição do solo por uma solução
nutritiva totalmente balanceada.
Na tomaticultura
Para a produção do tomate, é importante conhecer o mecanismo
de reprodução das plantas e a biologia floral dessa espécie. Considerando que o
tomate é uma planta autógama, em que ocorre autopolinização, isso resulta em
taxas altas de vingamento de frutos, mesmo na ausência de agentes
polinizadores.
Porém, a polinização das flores do tomateiro assume um papel
predominante no rendimento final da cultura. Essa polinização é feita pela
maioria das espécies de abelhas, sendo que o vento também é um agente polinizador.
Entretanto, as abelhas são muito mais eficientes nesta tarefa.
Importância da polinização
A polinização exerce importância na fixação dos frutos e na
germinação dos grãos de pólen, crescimento do tubo polínico e fertilização. A
não fixação dos frutos ocasiona perda de produção, assim como a formação de
frutos pequenos e defeituosos, que podem ocorrer por falhas na polinização.
O desenvolvimento dos frutos está relacionado à produção de
auxinas, a qual depende da quantidade de sementes. Frutos ocos e de formato
angular podem ser devido à polinização deficiente, daí a importância da
polinização na fertilização e na obtenção de frutos com padrão comercial.
Pesquisas
Em diversos estudos, em áreas de cultivo com visitação de
abelhas, foram observadas taxas de frutificação até 12% maiores nas áreas onde
as abelhas eram mais frequentes. Os frutos de tomate resultantes de polinização
aberta à visitação das abelhas tiveram maior peso e maior número de sementes
quando comparados com aqueles formados a partir da autopolinização espontânea.
Observou-se, também, em outros estudos, que o aumento na
taxa de frutificação após as visitas de abelhas às flores foi de
aproximadamente 10%. Ou seja, as condições adequadas para a polinização
realizada por abelhas favorece diretamente o aumento da produtividade do
tomateiro.
Manejo
Uma das estratégias de manejo para conseguir aumentar a
produtividade do tomateiro em sistema hidropônico é oferecer condições para que
as populações de abelhas sejam preservadas, visto que elas são um dos
principais agentes polinizadores.
Portanto, manter áreas com vegetação e/ou planta-néctar é
fundamental para polinização das flores e, consequentemente, aumentar a
produção dos frutos. Assim, o cultivo de plantas-fontes de néctar, como feijão,
girassol e berinjela; e fontes de pólen em momentos entressafras do tomate ou a
rotação de cultivos que floresçam em períodos sequenciais e que ofereçam tanto
recurso de pólen como néctar, também contribui para manutenção da população
desses importantes agentes de polinização.
Outra alternativa no manejo seria fazer a polinização manual
das flores do tomateiro, por meio da vibração das plantas na fase de
florescimento, o que pode aumentar o fornecimento de grãos de pólen para o
estigma, proporcionando melhor fixação e qualidade dos frutos.
O problema dessa operação de vibrar as plantas, que é
realizada manualmente, é o custo oneroso dessa atividade que, dependendo da área
de cultivo, pode se tornar economicamente inviável, tanto pela demanda de mão de
obra quanto pelo tempo necessário para a execução dessa tarefa, bem como
conseguir profissionais treinados para executá-la.
É possível, também, utilizar fitorreguladores para aumentar
a fixação de frutos, e consequentemente elevar a produtividade, porém, a
vibração mecânica das plantas é mais eficiente, tanto para aumento da fixação
de frutos como para a qualidade dos mesmos. E economicamente, a polinização
conseguida pela presença das abelhas é mais viável que ambas as técnicas
(vibração mecânica e fitorreguladores).
Portanto, o manejo adequado da produção do tomateiro em
sistema hidropônico consiste desde de o uso de fitorreguladores, polinização
manual de plantas, até a preservação de populações de abelhas. Essas técnicas
podem ser executadas de forma combinada ou de forma isolada, sendo necessário
avaliar a viabilidade econômica de adoção de cada técnica a nível de cada
produtor.
Com o manejo adequado na polinização do tomateiro, é
possível se conseguir elevar a produtividade e obter qualidade de frutos de
tomate produzidos, alcançando assim boas rentabilidades e retorno financeiro ao
capital investido.