Por
meio de iniciativas de manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade,
os povos indígenas Apurinã, Paumari, Jamamadi e Deni, que vivem em 6 terras
indígenas no sul e sudoeste do Amazonas, contribuíram, em 2021, para a
conservação de um estoque de carbono equivalente a 114 milhões de árvores em
pé. É o que mostra o relatório de quantificação de carbono das atividades do
projeto Raízes do Purus, que apoia o manejo sustentável de pirarucu, castanha,
copaíba e açaí, e implementação de Sistemas Agroflorestais nestes territórios,
com patrocínio da Petrobras.
O
documento, elaborado com o objetivo de avaliar as emissões e remoções de gases
de efeito estufa (GEE) promovidas pelo projeto durante o ano passado, comprova
a eficácia destas iniciativas para a proteção de terras indígenas, e para a
mitigação da mudança climática. Estudos científicos desenvolvidos por
pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) mostram
que, em média, uma floresta madura de terra firme, captura algo em torno de 500
quilos a 1 tonelada de carbono por hectare.
O
estudo analisou 246 mil hectares de florestas onde ocorrem as atividades de
manejo apoiadas pelo Raízes do Purus. “A ideia foi quantificar as emissões de
gases efeito estufa que foram evitadas pelas ações de conservação do projeto,
desenvolvidas por meio de vigilância, monitoramento territorial e proteção de
ambientes aquáticos que são manejados. Esse conjunto de formação subsidia a
avaliação de como está a saúde da região e da floresta e o quanto essas
atividades contribuem para o benefício do clima”, afirma o autor do relatório e
especialista em clima e ambiente, Rogério Ribeiro Marinho, da Universidade
Federal do Amazonas.
O
relatório estima, ainda, que durante os quatro anos em que o projeto será
executado, entre 2021 e 2024, sejam removidos da atmosfera mais de 1 milhão de
toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). O projeto contribui de
forma direta e indireta na conservação de mais de 2,3 milhões de hectares de
floresta amazônica.
Os
valores utilizados como referência para o relatório de quantificação de carbono
do Raízes do Purus foram baseados em dados georreferenciados (imagens de
satélite e mapas temáticos), séries estatísticas e informações de literatura
científica, seguindo as recomendações do Guia de Quantificação de Carbono de
Projetos Socioambientais e as definições do Padrão VCS/VERRA (verified carbon standard).
Uso sustentável da floresta contribui para o aumento do
estoque do carbono
O
manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade, uma das principais
estratégias do projeto Raízes do Purus, tem se mostrado um excelente aliado da
conservação das terras indígenas. Isso porque toda a iniciativa deste tipo
depende, em primeiro lugar, da organização coletiva das comunidades para vigiar
seus territórios. “O manejo possibilitou que os povos indígenas envolvidos no
projeto retomassem o controle sobre suas terras, impedindo atividades
predatórias e expulsando invasores, com a vigilância feita pelas próprias
comunidades”, explica Leonardo Kurihara, coordenador do Raízes do Purus.
Com
sistemas de vigilância comunitários bem estruturados e comunidades engajadas na
proteção dos territórios, os povos indígenas apoiados pelo Raízes do Purus
estão conseguindo evitar o desmatamento dentro das terras indígenas, que
tornam-se grandes reservas de carbono, e contribuem de forma importante para
reduzir os impactos da mudança climática. Entre os anos de 2015 e 2020, a taxa
de desmatamento na região do entorno destas terras indígenas foi de 502
hectares por ano, resultando em um volume médio de 235 mil toneladas de carbono
emitidos para a atmosfera por ano.
O
projeto desenvolve, junto com as comunidades, ações para garantir que as
populações das terras indígenas tenham condições de manter a floresta em pé. “O
desmatamento e as queimadas são as principais formas de agravar o aquecimento
global e os efeitos dos gases de efeito estufa na atmosfera. As florestas
costumam ser desmatadas com fogo, o que libera grandes quantidades de gás
carbônico e reduz o número de árvores disponíveis para absorvê-lo por meio da
fotossíntese. Então, quanto maior o número de árvores saudáveis em pé, maior
será a quantidade de carbono armazenado na floresta e a sua capacidade de
absorver o carbono da atmosfera. A coleta de castanha, o manejo do pirarucu, as
atividades produtivas de maneira sustentável, todas elas dependem da floresta
viva”, explica Gustavo Silveira, coordenador técnico da OPAN.
Sobre o Raízes do Purus
O projeto Raízes do Purus é uma iniciativa da OPAN, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que visa a contribuir para a conservação da biodiversidade no sudoeste e sul do Amazonas, fortalecendo iniciativas de gestão e o uso sustentável dos recursos naturais das terras indígenas Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, Caititu, Paumari do Lago Manissuã, Paumari do Lago Paricá, Paumari do Cuniuá e Banawa, na bacia do rio Purus, e Deni e Kanamari, no rio Juruá. www.raizesdopurus.com.br
Sobre a OPAN
A
OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Nos
últimos anos, suas equipes vêm trabalhando em parceria com povos indígenas no
Amazonas e em Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas para a garantia dos
direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda
baseadas na conservação ambiental e no fortalecimento das culturas indígenas.