Anne Carolline Maia Linhares – Licenciada em Ciência Agrárias e doutoranda em Ciência do Solo – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – anemaia-16@hotmail.com
Maria Idaline Pessoa Cavalcanti – Engenheira agrônoma e doutoranda em Ciência do Solo – UFPB – idalinepessoa@hotmail.com
A agricultura depende diretamente dos fatores climáticos,
como temperatura, precipitação pluviométrica, radiação solar, umidade relativa,
umidade do solo, etc. A ocorrência de mudanças na variabilidade do clima, na
ocorrência de eventos extremos (secas mais prolongadas, chuvas torrenciais ou
ainda o aumento na frequência de ondas de calor) gera consequências econômicas,
sociais e ambientais nas diversas regiões do País.
As alterações na produção agrícola, tanto pelo aumento da
produção devido ao efeito fertilizador de carbono por meio de maiores
concentrações de CO2 atmosférico como por alterações no ciclo
produtivo, devido à mudança no número de graus-dia, ou pela ocorrência e
severidade de pragas e doenças, poderão afetar a economia interna, gerando uma
nova geografia da produção (Deconto et al., 2008; Jesus Junior et al., 2008).
Com isso, alguns fatores podem afetar diretamente todo o
ciclo produtivo das culturas. A temperatura é um dos principais fatores
climáticos que influencia o crescimento e o desenvolvimento das plantas, visto
que afeta todas as reações bioquímicas da fotossíntese.
Desta maneira, os aumentos na temperatura de até 5,8ºC
poderão afetar a duração do ciclo de cultivo, a retenção final de vagens, a
qualidade dos frutos por meio do acúmulo de açúcares e a coloração, além de
provocar o abortamento de flores, entre outros (Angeotti, 2011).
A precipitação pluviométrica, segundo dados do IPCC (2007),
possui os maiores graus de incerteza sobre a variação para os cenários futuros.
O aumento da concentração de dióxido de carbono também afetará o aparato
fotossintético das plantas em geral, podendo ser benéfico na produção de
biomassa (Angeotti, 2011).
Assim, percebe-se que o setor agropecuário se destaca como
um setor particularmente sensível aos efeitos das mudanças climáticas. Em vista
da heterogeneidade espacial das mudanças climáticas e seus efeitos sobre a
rentabilidade das atividades agrícolas, é de se esperar importantes variações
regionais nas estratégias de adaptação dos produtores rurais.
Manejo do solo
Quando bem manejado, o solo garante aos diferentes cultivos
um suporte melhor às adversidades climáticas. Assim, deve-se considerar que os
solos não são renováveis na escala de tempo humana e que o manejo inadequado
resulta em erosão acelerada, com perdas de solo, nutrientes, água e matéria
orgânica, que prejudicam a capacidade produtiva dos solos (Morgan & Nearing,
2011)
É necessário, então, implementar sistemas agrícolas que
possam melhorar a pecuária e alimentar a população de forma sustentável.
Na identificação desses sistemas, é crucial saber que as
atividades de manejo do solo que aumentam a produção agrícola são benéficas ou,
pelo menos, não afetam negativamente a qualidade do solo e do meio ambiente em
áreas agrícolas e/ou de pastagem.
Além disso, esses sistemas também têm um papel vital no
sequestro de CO2 atmosférico, retenção de água no solo, e, portanto,
podem promover a mitigação das mudanças climáticas, uma vez que, geralmente, em
sistemas agropecuários sustentáveis, o solo atua como um sumidouro para
emissões de gases de efeito estufa (Tammeorg et al., 2017)
Conservação do solo
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Para conservar o solo é preciso compreender que não existe
uma forma única para isso, pois cada um tem suas próprias características.
Portanto, deve-se conhecer as particularidades da área a ser conservada, da
vegetação presente, assim como algumas características da região para entender qual
é a melhor técnica a ser aplicar.
Assim, de acordo com o CATI (2014), dentre as principais
estratégias utilizadas para conservação do solo, pode-se considerar as práticas
conservacionistas. De acordo com a Embrapa (2019), esse sistema de conservação
reúne um complexo de tecnologias de caráter sistêmico para preservar e
restaurar ou recuperar os recursos naturais com o manejo integrado do solo, da
água e da biodiversidade compatibilizados com o uso de insumos externos.
Práticas conservacionistas
Entre as principais práticas conservacionistas, podemos
destacar:
ð Plantio direto na palha (PDP): é um sistema
de produção em que se evita a perturbação do solo, mantendo sua superfície
sempre recoberta por resíduos (palha) e/ou vegetação. Considerando as suas
premissas básicas, pode-se afirmar que o PDP é, hoje, a melhor tecnologia
agrícola disponível, aplicável a praticamente todas as culturas comerciais,
inclusive a cana-de-açúcar e culturas perenes.
É, também, a que mais se aproxima das condições em que a
natureza opera. Traz em sua essência a busca pelo equilíbrio do ecossistema,
possibilitando para a agricultura a autossustentação em termos econômicos,
sociais e ambientais. Propicia a melhoria da infiltração e retenção de água, a
oxigenação, a redução da amplitude térmica, a manutenção da umidade, a
reciclagem de nutrientes e a riqueza biológica.
Remete, ainda, à redução dos custos de mecanização e mão de
obra, ao menor consumo de combustíveis fósseis e à maior eficiência no uso da
água e dos insumos CATI (2014).
ð Sistema de Integração entre agricultura, pecuária
e floresta (ILP, ILPS e SAF): são sistemas de cultivos que integram a
produção de grãos, fibras, madeiras, carnes, leite e/ou agroenergia em uma
mesma área. Nesses sistemas, o cultivo de grãos, a exploração de pastagens e a
produção de arbóreas é realizado em consórcio, em rotação ou em sucessão, de
forma planejada, para benefício das interações ecológicas e econômicas
resultantes da diversidade de espécies.
Além da conservação do solo, incluindo o controle da erosão
e a melhoria de suas propriedades, esses sistemas objetivam promover a
sustentabilidade da produção agropecuária, a diversificação de atividades e o
bem-estar animal CATI (2014).
Aos seguir esses preceitos e medidas preconizados pela
agricultura conservacionista, o produtor rural contribui para a estabilidade da
atividade, para a economia do País e o bem-estar das gerações futuras, pois
esses princípios visam à sustentabilidade da atividade agrícola, conservando o
solo, a água, o ar e a biota dos agroecossistemas, além de prevenir a poluição,
a contaminação e a degradação dos ecossistemas e demais sistemas do entorno,
reduzir o uso de combustíveis fósseis e contribuir para amenizar a emissão de
gases de efeito estufa.