Produção de mudas de HF: critérios no interior do viveiro

Produção de mudas de HF: critérios no interior do viveiro

Letícia Borges da Costa
koborgesleticia@gmail.com
Hemanuele dos Santos Silva
hemanuelessilva@gmail.com
Gilmara da Cruz Rangel
rangel.uenf@gmail.com
Graduandas em Agronomia – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
Cláudia Lopes Prins
Professora de Horticultura/Olericultura – UENF
prins@uenf.br

A utilização de mudas traz inúmeras vantagens para a produção de hortaliças, como maior controle do espaçamento, garantia da população desejada, uniformidade do plantio e melhor condição para controle de plantas invasoras.

Da semeadura até a o ponto de transplantio, a muda passa por várias etapas de desenvolvimento e cada uma possui um período de tempo e condições ambientais (temperatura, luminosidade, disponibilidade hídrica e nutricional) adequadas para que não ocorra perda da qualidade da muda e, consequentemente, na planta adulta.

Não se engane

Sob o ponto de vista fitossanitário, mudas produzidas fora dos padrões de qualidade podem ser fonte de disseminação de doenças e pragas. Mudas vigorosas e bem desenvolvidas garantem melhor tolerância ao choque de transplantio.

Da mesma forma, uma muda mal desenvolvida também resultará em perdas para a produção. Por isso a importância de utilizar sementes de qualidade e adquirir mudas em viveiros que seguem a legislação relativa à produção de mudas (Lei nº 10.711, de 05 de agosto de 2003, que estabelece critérios para o Registro Nacional de Sementes e Mudas – RENASEM).

Proteção

Ainda de acordo com a legislação, a produção de mudas deve ocorrer em ambiente protegido, comumente uma estufa agrícola, que quando destinada à produção de mudas denomina-se viveiro.

As estufas são geralmente de estrutura metálica, com proteção contra a entrada de animais/insetos praga (telas), ventos fortes, chuvas (filmes plásticos) e demais variações que possam prejudicar o desenvolvimento das mudas.

A técnica do cultivo protegido foi desenvolvida a fim de manter o calor no meio para propiciar condições ideais para o crescimento das plantas em regiões de clima frio e temperado.

No entanto, em regiões de clima tropical o microclima no interior das estufas agrícolas pode se tornar desfavorável ao crescimento das plantas, especialmente se forem levados em consideração os períodos de verão.

Temperatura

Segundo Rebouças et al. (2015), a temperatura máxima no interior da estufa pode ser até 9,0ºC superior àquela observada no ambiente externo. Todos os materiais dentro do viveiro podem absorver ou refletir a radiação, contribuindo para o aumento da temperatura do ar.

A maioria das hortaliças requer condições amenas de temperatura, com faixa ideal variando entre 13ºC a 28ºC para culturas como pepino, couve, alface, cenoura, salsinha e alho.  Porém, em diversas regiões do Brasil, temperaturas superiores às ideais são observadas.

Como exemplo, na cidade de Campos dos Goytacazes, região norte do Estado do Rio de Janeiro, as temperaturas registradas durante o verão estão acima de 30ºC (Estação Climatológica do CCG/UFRRJ, 2020). Nessas condições, a temperatura no interior da estufa atinge níveis limitantes para a produção vegetal, resultando no estresse por calor.

O calor pode ser conceituado como uma troca de energia entre corpos com diferentes temperaturas de forma espontânea. Altas temperaturas influenciam de forma sensível no desenvolvimento das plantas, podendo acarretar em problemas em seu desenvolvimento foliar e radicular.

Influência do calor

A temperatura possui grande atuação sobre a fisiologia da planta e é de extrema importância devido a sua capacidade de influenciar diretamente em todas as reações bioquímicas da fotossíntese e diversos outros processos.

Condições de altas temperaturas tendem a aumentar a energia cinética, promovendo uma vibração dos átomos das proteínas, propiciando a quebra das ligações iônicas e de ponte de hidrogênio, fazendo com que haja uma alteração na conformação do sistema.

Assim, há dificuldade no controle do fluxo das substâncias através da membrana, ou seja, uma perda da seletividade. Temperatura elevada, além da faixa ótima das culturas, pode resultar em menor área foliar, restrição do desenvolvimento, redução do vigor das mudas, menor taxa fotossintética, entre outros. Também são relatados casos de suscetibilidade a determinadas doenças, com o aumento de temperatura.

Consequências para as mudas

As plantas “percebem” temperatura por meio de várias estruturas das células, especialmente as membranas, enquanto a sinalização envolve o cálcio. Genes associados são ativados e respostas ao estresse térmico são então iniciadas. A redução do crescimento é uma consequência do estresse térmico e pode levar ao menor vigor das mudas.

Ainda em relação às mudas, há poucos trabalhos sobre os efeitos da temperatura elevada. Além dos efeitos facilmente visíveis sobre a parte aérea, há indicações de que o sistema radicular tem importante função sob tal condição.

Trabalhos indicam que o sistema radicular é a parte mais afetada pelo calor, podendo ocasionar perda direta na qualidade da muda. Diversas alterações morfológicas, bioquímicas e fisiológicas são observadas em mudas sob estresse por calor.

Mudas de tomate, por exemplo, apresentam maior liberação de compostos voláteis sob temperaturas de 39ºC e 42ºC. Isso ocorre porque as plantas utilizam diversas estratégias de proteção e redução da temperatura foliar.

Em mudas de alface, produtos que estabilizam as estruturas dos cloroplastos e membranas celulares reduziram os efeitos negativos de altas temperaturas sobre a taxa fotossintética.

Alternativas

De modo geral, a aplicação de reguladores de crescimento vegetal é bastante estudada e tem apresentado efeitos positivos para algumas hortaliças na fase inicial de crescimento. 

A temperatura do substrato também é importante e deve ser considerada, pois pode resultar em alterações no desenvolvimento e crescimento das raízes, afetando também a constituição bioquímica e estrutural das membranas celulares nesse órgão.

Como consequência, há influência sobre o estado nutricional da muda, cuja absorção de nutrientes será limitada pelos efeitos do estresse por calor. A síntese de hormônios também será afetada e, consequentemente, suas funções relacionadas ao desenvolvimento da parte aérea serão prejudicadas.

A produção de mudas em viveiros localizados em regiões de clima tropical ainda tem muitos desafios quanto aos efeitos negativos das altas temperaturas. No entanto, ações relacionadas ao manejo do microclima nos viveiros podem atenuar o aquecimento.

O uso de filmes adequados, com aditivos específicos para condições de alta luminosidade, telas termorrefletoras, sistemas naturais ou artificiais de resfriamento são práticas recomendadas.

Atentar-se para a manutenção de boa disponibilidade de água para as mudas nos períodos mais quentes e o fornecimento equilibrado de fertilizantes nesse período também é recomendado.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br