O sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF)
representa uma associação produtiva e diversificada de grãos, fibra, carne,
leite, lã e culturas florestais cultivadas em uma mesma área, em plantio
consorciado, sucessão ou rotação.
Apresenta a principal finalidade de maximizar a utilização
dos ciclos biológicos das plantas, animais e seus respectivos resíduos, assim
como efeitos residuais de corretivos e nutrientes. Além disso, minimiza e
otimiza o emprego de agroquímicos, aumenta a eficiência na utilização de
máquinas, equipamentos e mão de obra. Assim, reduz os impactos ambientais da
atividade agropecuária.
Uso do silício
A utilização do silício (Si) em sistemas agroflorestais
encontra-se em crescente expansão na última década no Brasil. Este nutriente
está diretamente relacionado com a melhoria na resistência e/ou tolerância a
estresses ambientais, além de pragas, doenças, inclusive as causadas por
nematoides.
Prejuízos devido aos nematoides
Os fitonematoides são organismos microscópicos e incolores
que vivem misturados no solo, em que os prejuízos causados podem passar
despercebidos pelo produtor rural. Este fato ocorre pela falta de conhecimento
sobre estes vermes e, principalmente, por ser confundido com deficiência
nutricional e ataque de outros agentes causadores de doenças, a exemplo de
fungos e bactérias.
Regiões que possuem solos predominantemente arenosos e com temperatura
elevada, entre 25 a 30ºC, são mais favoráveis à infecção pelos nematoides,
principalmente em condições de cultivo contínuo, sem rotação de culturas e com
utilização de irrigação.
Prejuízos
Os prejuízos nos vegetais decorrentes do parasitismos dos
fitonematoides ocorrem devido ao fato destes penetrarem nas raízes e obstruírem
os feixes vasculares, o que dificulta a absorção e o transporte de água e
nutrientes pelo sistema radicular, tendo como consequência a redução de tamanho
e peso das plantas.
Além disso, os ferimentos causados durante sua alimentação
predispõem as plantas sobre outras infecções causadas por fungos e bactérias,
além de serem vetores de viroses, a exemplo do nematoide Xiphinema index,
que transmite virose para a videira.
Nematoides mais importantes
Os principais fitonematoides que causam problemas na
agricultura nacional pertencem ao gênero Meloidogyne (causador das
galhas em raízes), Pratylenchus (conhecido como nematoide-das-lesões
radiculares), Ditylenchus (nematoide das hastes e bulbo) e Rotylenchulus.
Destes, os do gênero Meloidogyne são, sem dúvida, o
mais importante, pois ataca o maior número de culturas e o que possui maior
poder destrutivo, com destaque para as espécies M. incognita e M.
javanica, as quais possuem uma distribuição mais ampla no Brasil. Nos
últimos anos a espécie M. enterolobii vem causando grandes prejuízos em
goiabeira e hortaliças.
Alternativas de controle
O uso de cultivares resistentes constitui-se na medida mais
indicada pelos especialistas em nematologia para o manejo de fitonematoides.
Entretanto, esta estratégia acaba sendo limitante devido à disponibilidade de
poucas cultivares comerciais resistentes, ao se considerar o grande número de espécies
agronômicas no Brasil.
Além disso, a presença de várias espécies de nematoides
existentes no ambiente dificulta o emprego e, desta forma, de controle. O
manejo cultural com rotação de culturas é uma alternativa viável, mas nem
sempre essa técnica é vista com interesse por parte do agricultor,
especialmente por ter que cultivar sua terra com culturas que não lhe darão
retornos imediatos.
Nesse sentido, o estudo de nutrição de plantas com relação
ao aumento da resistência e/ou tolerância apresenta grande importância ao
manejo de pragas e doenças, com destaque para o silício (Si), que entre os
elementos minerais tem estimulado o crescimento e a produção vegetal, além de
gerar efeitos positivos no controle de doenças causadas por patógenos de parte
aérea e patógenos de solo, inclusive dos nematoides fitoparasitas que atacam
diversas culturas.
Benefícios do Si nas plantas
Já foi provado cientificamente que plantas nutridas com Si
apresentam níveis mais elevados de Si e de vários nutrientes em seus tecidos,
tais como nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, dentre outros.
Como o silício aumenta a produção de fotoassimilados, devido
ao incremento na taxa fotossintética, há um aumento na incorporação de minerais
que conferem mais resistência à parede celular das plantas, o que torna a
planta mais resistente a situações de estresses. E, ainda, a aplicação de
silício deixa as folhas mais eretas, diminuindo o sombreamento, além de tornar
as plantas mais resistentes a pragas e doenças, inclusive a nematoides.
Uso do silício no controle de
nematoides de solo
Os silicatos são as principais fontes de silício e possuem a
capacidade de neutralizar a acidez do solo por meio da reação dos ânions (SiO32-)
com os prótons de hidrogênio e alumínio (Al3+). Além disso, produzem
o ácido monossilícico, que é a principal forma de silício absorvido pelas
plantas.
O acúmulo e a deposição desse micronutriente nas células da
camada epidérmica via apoplasto, seja na parte aérea ou nas raízes, constituem
uma barreira física que impede o avanço e o crescimento dos patógenos pela
modificação da parede celular, tornando-a mais resistente à degradação causada
pelas enzimas hidrolíticas e à ação de estruturas especiais de infecção dos
patógenos, agindo de modo semelhante à lignina ou suberina de algumas plantas.
A barreira física ou mecânica não é o único mecanismo de
resistência. Estudos recentes de pesquisa revelam que esse micronutriente age
no tecido hospedeiro, afetando os sinais entre o hospedeiro e o patógeno,
resultando em uma ativação mais rápida dos mecanismos de defesa da planta. Isso
é possível porque o silício, na forma solúvel, pode formar complexos com os
compostos fenólicos e elevar a síntese e a mobilidade destes no apoplasto.
Portanto, a resistência das plantas às doenças pode ser
incrementada pela alteração das respostas à infecção do parasita, aumentando a
síntese de fitoalexinas, que são compostos com propriedades antimicrobianas, e
enzimas importantes para sua defesa que podem agir como substâncias tóxicas,
inibidoras ou repelentes aos patógenos.
E a fertilização com silício é capaz de induzir o mecanismo
de defesa somente em resposta ao ataque do patógeno, evitando perdas na
produção e explicando a não especificidade da resistência induzida pelo
silício, atingindo vários patógenos não relacionados entre si.
Sistema ILPF X nematoides
Na maioria dos casos a alta infestação do solo pelos
nematoides é devido ao manejo inadequado do perfil, de modo que os sistemas
integrados e os conservacionistas darão resultados, quando são executados de
forma contínua.
Ao se retornar ao sistema convencional, a densidade de
nematoides que havia reduzido pode voltar a aumentar novamente. Para o manejo
dos nematoides, tratos culturais são imprescindíveis, dentre os quais
incluem-se a adubação equilibrada e também a aplicação de técnicas alternativas
de controle de pragas e doenças. Atualmente, a adubação com o Si constitui-se
numa técnica que auxilia no melhor desenvolvimento das plantas e na redução da
infestação de fitonematoides no solo.
O sistema ILPF proporciona um melhor ambiente para os
animais e o acúmulo de carbono nas árvores. Este novo modelo de cultivo vai
proporcionar ganhos, inclusive, com redução de área para produção agrícola,
pois ocorre uma compensação de produtividade em função do retorno financeiro da
venda do gado e da madeira.
Portanto, possibilita anular de maneira completa a emissão
de gases da cultura agrícola e pela criação de animais, em alguns casos podendo
haver saldo positivo em sequestro de carbono. Diante deste cenário, a atividade
agropecuária nas regiões tropicais e subtropicais, quando realizada em sistemas
integrados de produção, por meio do componente arbóreo, pode contribuir para a
mitigação de gases de efeito estufa, constituindo assim em uma aliada no
combate às mudanças climáticas global.
Estudo de caso
No Instituto Federal Goiano – campus Morrinhos, o professor
Rodrigo Vieira da Silva coordena um projeto que visa conhecer a fauna
nematológica em uma área experimental que utiliza o sistema ILPF, além de
avaliar a influência deste sistema na dinâmica de nematoides ao longo do tempo
e do tipo de cultura utilizada na sucessão.
O projeto ainda se encontra na fase inicial, mas já foi
possível perceber que neste sistema ocorre um maior equilíbrio das populações
de nematoides das diversas espécies e menor infestação de fitonematoides.
Outro ponto positivo observado foi a presença de diversas
espécies de nematoides de vida livre e em altas populações. Este são benéficos
para o solo, devido a serem efetivos na decomposição da matéria orgânica do
solo e para o equilíbrio populacional da microfauna do solo.
Quando se inicia a sucessão com espécies de gramíneas
(família Poaceae), a exemplo do milho e braquiárias, há tendência dos
fitonematoides reduzirem as suas populações, com exceção do gênero Pratylenchus.
Manejo do Si no solo
Pesquisas demonstram que as plantas das famílias das Poaceae
(arroz, milho, cana, braquiárias, etc.) são mais responsivas à adubação com Si,
por serem plantas acumuladoras e terem a capacidade de acumular até 10% de Si
em seus tecidos. Plantas de soja e girassol, mesmo não sendo acumuladoras de Si,
também têm apresentado resultados positivos com a adição do Si na sua adubação.
A forma mais eficiente de fornecer o silício ao solo é por
meio dos silicatos. Existem algumas características ideais para uma boa fonte
de silício, entre as quais pode-se citar a alta concentração de Si-solúvel,
boas propriedades físicas, facilidade para aplicação mecanizada na área, pronta
disponibilidade para as plantas, boa relação e quantidades de cálcio e
magnésio, baixa concentração de metais pesados e baixo custo para o produtor
rural.
Os silicatos, ao serem aplicados, proporcionam vários
benefícios, como efeito corretivo no solo, por meio do aumento do pH, menores
teores tóxicos de alumínio, ferro e manganês, disponibilidade de cálcio,
fósforo, magnésio e micronutrientes, aumento de Si-solúvel no solo, maior
saturação por bases e, consequentemente, baixa saturação de bases por alumínio.
Os métodos de aplicação dos silicatos são via sólida (pó ou
granulado) ou líquida (via solo ou via foliar). O emprego dos silicatos em pó se
dá via incorporação em área total, enquanto os granulados são aplicados nas
linhas de plantio, normalmente acompanhados de outros adubos, como o NPK.
A aplicação de silicato granulado, juntamente com o NPK,
proporciona o silício mais próximo ao sistema radicular das plantas,
favorecendo, assim, a absorção pelas plantas. As doses de silício a serem
aplicadas no solo dependem da fonte utilizada, do teor de Si no solo e da
cultura a ser considerada.
Com base na literatura especializada, as doses recomendadas
para o material fino (pó), a lanço, variam de 1,5 a 2,0 toneladas por hectare
de silicato de cálcio. Em solos que já se encontram corrigidos, a dose não deve
ultrapassar 800 kg/ha. Outros estudos com o material granulado têm demonstrado
que doses de silicato variando de 500 a 800 kg/ha são suficientes no sulco de
plantio, pois a combinação de do silicato com material fertilizante (NPK) é uma
ótima alternativa.