Autores
Rafael Rosa Rocha – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) – rafaelrochaagro@outlook.com
Tiago Yukio Inoue – Engenheiro agrônomo e mestrando em Genética e Melhoramento de Plantas – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Fernanda Lourenço Dipple – Zootecnista, engenheira agrônoma, especialista em Perícia e Licenciamento Ambiental, mestre em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola e professora – Unemat
A produção das diversas variedades de tomate está em
crescente expansão no Brasil, sendo a safra de 2020 estimada de 3.939.620
toneladas de tomate fresco, segundo o IBGE. Nesse cenário, está crescendo a
produção e comercialização de cultivares consideradas gourmets. Com a
alta aceitabilidade têm aumentando também os investimentos neste nicho de
mercado, uma vez que este oferece variedade quanto a cores, formatos e sabores,
apresentando produtos diferenciados chamando a atenção de seus consumidores.
Geralmente, a demanda desses tomates ocorre principalmente
em grandes centros urbanos e capitais, onde se concentra a maior parte dos
mercados especializados, com consumidores que buscam inovação em diversificação
de cores e sabores dos alimentos.
Destaque
Dentre as novidades de frutos de tomates gourmets produzidas, o que vem ganhando mais espaço pelos produtores e atratividade pelos consumidores é o tomate híbrido Tigre, ou como chamado em outros países Tomate Green Zebra – Tigre, do segmento coquetel, que possui este nome por conta do aspecto tigrado ou rajado que se apresenta em sua casca no estado verde.
As listras são muito pronunciadas e mudam para uma cor laranja quando maduras, apresentando uma polpa de coloração desde o vermelho intenso, chegando ao marrom, mas também há no mercado coloração amarela e chocolate, que alcançam peso de até 50 g cada.
A planta tem ótima sanidade, os frutos possuem boa
conservação pós-colheita e apresentam uma qualidade que chama atenção. Rico em
licopeno, substância antioxidante muito eficaz no combate aos radicais livres,
e em vitamina C, em torno de 330 mg kg-1.
Possui elevado grau Brix, medida que calcula o teor de
açúcar de frutos, girando em torno de 8,38º Brix. Assim, apresenta uma acidez
equilibrada e é extremante saboroso, com paladar agridoce, o que é perfeito para compor pratos
sofisticados para produção de geleias de tomate, e ideal para aventuras
culinárias, trazendo um toque exótico ao prato. Também é atrativo pela
abrangência de cores e rajado, chamando a atenção do mercado consumidor.
Como se produz
Antes de dar início à produção desse segmento, é preciso
entender que a produção e condução desse material necessita ser realizada principalmente
em estufa ou casa de vegetação, pois em campo aberto não é viável o cultivo.
Outra aposta é a produção desse material em um sistema todo
orgânico. A produção realizada em ambiente protegido visa o uso racional da
água e auxiliar no processo produtivo, por ser o tomate híbrido Tigre (tipo
coquetel) possuir limitações, como nível de resistência a doenças baixo, ou
sensibilidade às oscilações de temperatura, necessitando de maior cuidado no
controle de pragas, doenças e tratos culturais, visando principalmente
qualidade e segurança alimentar deste fruto.
Sendo assim, uma das questões principais é a escolha do
local de produção, sistema de condução, limpeza e manutenção do sistema de
cultivo. Inicialmente, deve-se atentar ao ambiente protegido escolhido, tendo
diversos modelos e níveis de investimento que são adequados e promovem
transformações ambientais ao cultivo do tomateiro, desde que tenham área de
ventilação adequada, construídos em local bem ventilado e não tenham obstáculos
que o sombreiem, principalmente nas primeiras horas da manhã.
É necessário que haja pelo menos 70% de luminosidade durante
todo o dia para que seja possível o crescimento da planta.
As telas funcionam como proteção ambiental e permitem o
controle da produção, desde aspectos como temperatura, umidade e,
principalmente, impedindo ou reduzindo os ataques de pragas e de doenças. A
cultura do tomate é sensível a mudanças climáticas, porém, devido ao cultivo
predominantemente em ambientes controlados, as condições climáticas não
interferem diretamente na produção, possibilitando que se mantenha a produção
durante quase todo o ano.
Existe uma grande variedade de material para construir os
ambientes protegidos, que pode ser desde madeira, plástico, aço aos
pré-moldados. Vale ressaltar que ambientes simples à base de madeira exigem
menor investimento inicial, mas com o tempo tendem a ter custo maior, quando
comparados às estruturas de aço ou industriais, devido à baixa necessidade de
manutenção da estrutura.
Mudas
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Antes do transplante independente da forma de cultivo que
irá implementar, as mudas de tomate híbrido Tigre podem ser produzidas em
bandejas de isopor ou de plástico com capacidade para 128 ou 200 células.
É preciso cuidar sempre da sanitização das bandejas,
aquisição de substrato e sementes de empresas idôneas. O transplante é
realizado cerca de 25 a 35 dias após a semeadura, dependendo das condições da
muda e do clima da região. As mudas devem ser transplantadas quando
apresentarem de quatro a cinco folhas definitivas.
Vasos
O cultivo em vasos em ambiente protegido vem crescendo
dentre as hortaliças e destaca-se o tomateiro, que proporciona maior proteção
das plantas contra os fatores ambientais indesejáveis, o que diminui os riscos
da produção. Ademais, é possível obter redução no consumo de água pela planta e
de aplicação de defensivos químicos, comparado ao sistema de plantio em solo,
canteiros, covas ou sucos.
A adoção dessa tecnologia é extremamente vantajosa para a
produção por facilitar o manejo da cultura, diminuir o consumo de insumos e
defensivos agrícolas, agregar maior valor comercial aos produtos e, consequentemente,
aumentar a lucratividade, fatores que chamam cada vez mais a atenção do
produtor.
Apesar das vantagens citadas anteriormente, nesse sistema de
cultivo deve-se ter cuidado especial com a escolha do substrato, o qual deve
ter alta capacidade de retenção de água, possibilitar boa aeração, ser inerte,
com baixa salinidade, ausência de patógenos, baixo custo e estar facilmente
disponível no mercado.
O substrato utilizado (quando for plantio em vaso ou slab)
deve ser livre de contaminantes químicos, físicos ou biológicos. Dentre os
substratos mais utilizados podemos citar a areia, fibra de coco e os
comerciais, os quais apresentam proporções de turfa, vermiculita, casca de
arroz, casca de pinus, fibra de coco, etc.
A escolha dos vasos também é um ponto importante para o
sucesso da lavoura. Recipientes pequenos podem limitar o desenvolvimento
radicular, e assim comprometer o crescimento das plantas. Por outro lado,
recipientes grandes podem gerar custos adicionais com substratos, fertilizantes
e água na irrigação.
Dessa forma, a escolha do tamanho é dependente do tempo de
condução das plantas, uma vez que o ambiente protegido possibilita estender o
ciclo vegetal por tempo superior a 12 meses.
Condução
As plantas de tomateiro podem ser conduzidas com uma ou duas
hastes e o tutoramento com arames e fitilhos. O sistema de irrigação mais
indicado para o cultivo desse segmento de tomate é por gotejamento.
De acordo com a literatura, a depender do nível tecnológico
aplicado, o cultivo do tomateiro em vasos em ambiente protegido pode
representar uma produtividade superior a duas vezes o cultivo em ambiente
aberto. Estima-se que, nesse sistema de cultivo, pode-se alcançar produtividade
de 5,0 – 6,0 kg planta-1 (tomate tipo Grape).
Limitações x vantagens
A principal limitação para o cultivo do tomate em vaso em
ambiente protegido está relacionada ao elevado investimento inicial para a
construção das estruturas, bem como à mão de obra especializada.
No entanto, as vantagens da utilização desta técnica, como
maior produção e qualidade do produto, elevando a produtividade e valor
agregado do produto, e redução da sazonalidade na oferta, promovem impactos
positivos na comercialização, o que reflete em maior rentabilidade e
estabilidade financeira ao produtor.
Outra dificuldade encontrada no cultivo em vaso refere-se ao
manejo da adubação, em que muitas vezes o produtor, por não ter assistência
técnica, realiza um diagnóstico nutricional incorreto do substrato e/ou das
plantas. Quando se utiliza a fertirrigação, erros podem ocorrer tanto na
mistura dos fertilizantes quanto no balanço correto dos nutrientes.
Mulching
Outra forma de condução das plantas é a utilização de filme
plástico para cobertura do solo, ou mulching, dentro dos ambientes protegidos.
Esta técnica forma uma barreira física na superfície do solo, o que garante
benefícios ao agricultor em diversos aspectos. Entre eles, minimiza a
utilização de defensivos agrícolas, recursos hídricos para a irrigação,
controle da umidade do solo, favorece o maior processo de produção de
fotoassimilados e equilíbrio hídrico. Tudo isso beneficia o crescimento e
desenvolvimento das plantas em ambientes protegido, diminuindo as perdas com
frutos rachados.
Hidroponia
O cultivo desse segmento de tomate é também indicado para
hidroponia. Neste sistema há menor exposição da planta a pragas e doenças,
melhor controle de irrigação, nutrição da planta e de condições do ambiente no
interior da estufa, além de diminuição de pulverizações, aumentando sua maior
eficiência.
A utilização de materiais híbridos com maior potencial
genético contribui para o aumento da produtividade e ganhos efetivos na
qualidade final do produto. Quanto ao cultivo em sistema NFT (Nutrient Film
Technique), as calhas devem estar limpas e higienizadas para receber as mudas.
A solução nutritiva deve ser elaborada de acordo com a
cultivar ou híbrido e a fase do tomateiro, e preparada de acordo com as
recomendações do técnico responsável. O restante referente aos tratos
culturais, também são praticamente os mesmos feitos a campo (condução, podas,
pulverizações, raleio de frutos se a cultivar exigir, colheita e etc.).
Embora os sistemas de cultivo hidropônicos sejam mais caros
e exigentes em manejo e manutenção, se realizados corretamente apresentam
maiores e melhores resultados quando se trata de produtividade e qualidade, em
comparação à forma tradicional de produção, tendo em vista que tem-se total
controle sobre o que está atuando no meio em que as plantas estão inseridas.
Tratos culturais
Os tratos culturais para o híbrido Tigre são similares aos
outros tomates em ambiente protegido, dentre os principais: o tutoramento,
limpeza de ramos (desbaste), desbrota, a limpeza de baixeiro (desfolha) e a
condução das plantas (com vias). Outra questão muito importante sobre o tomate
híbrido Tigre é que as plantas são de crescimento indeterminado. Portanto, é
necessário fazer a produção tutorada, que irá necessitar dos diversos tratos
culturais de condução citados anteriormente.
Outro trato cultural importante é a desfolha para que a
planta possa produzir frutos de melhor qualidade. Algumas pesquisas relatam que
o tomateiro em ambiente protegido possui uma quantidade excessiva de folhas, o
que provoca o autossombreamento e reduz o estabelecimento dos frutos.
A eliminação de folhas velhas favorece a produção de
fotoassimilados pela melhor distribuição e captação de radiação solar. Além
deste fator, tem-se que levar em consideração que o ambiente úmido próximo ao
caule do tomateiro favorece um microclima para o desenvolvimento de
microrganismos e insetos, e isto tende a afetar a produção e a qualidade dos
frutos.
Nossa dica para quem busca maior produtividade é optar por
condução com duas ou mais vias, pois quanto mais vias forem utilizadas, menores
os frutos ficarão e com maior quantidade de cachos por planta. Portanto, este
manejo é indicado somete com objetivo de produção de frutos tipo Grape
(coquetel).
O mercado gourmet tem elevado a procura por tomates
menores, porém, com alta qualidade sensorial e funcional, e o Tomate Tigre
apresenta essas características.
Colheita
A colheita é realizada de forma manual e deve acontecer
preferencialmente em horas mais frescas do dia, apresentando necessidade que o
tomate colhido seja mantido em locais sombreados, para melhor qualidade do
produto. A colheita ocorre aproximadamente dois meses após o transplante,
dependendo da cultivar ou híbrido.
Recomenda-se que o corte dos cachos aconteça quando a
mudança de cor começar de verde para vermelho pálido, pois a firmeza deste
ponto de colheita minimiza os danos mecânicos associados à cadeia de produção.
Produtividade, lucratividade e
custo-benefício
Cada vez mais os melhoristas e pesquisadores estão
investindo em cultivares e híbridos de tomates gourmet que se
diferenciem no mercado, como o Tigre. O apelo do consumidor por alimentos
funcionais é o que fomenta o desenvolvimento de novas variedades, principalmente
por tomates que possuam maiores concentrações de compostos antioxidantes e que
auxiliem na prevenção de doenças causadas pela ação de radicais livres.
Então, a procura é por tomates que sejam produtivos,
resistentes, com sabores equilibrados em relação a sua acidez e adocicados,
sendo muito nutritivos. E para os consumidores, quando o assunto é tomate gourmet,
não há obstáculos em pagar mais pela maior qualidade do produto, e isso é um
prato cheio de oportunidades para os produtores.
Quando comparados ao tomate de mesa tradicional, os Grape
(mini tomates), como o Tigre, possuem valor agregado muito maior, devido ao
sabor diferenciado e cotações mais “estáveis”, decorrentes de seu cultivo
anual.
Na média dos últimos anos (2015-19), o preço dos minitomates
esteve em R$ 6,16/kg nas Ceasas nacionais, enquanto o fruto convencional foi
negociado a R$ 2,42/kg no mesmo comparativo, segundo o ProHort.
Além disso, o cultivo protegido e a fertirrigação garantem
redução com custos fitossanitários, uma vez que a sanidade é maior nas estufas.
Também é um mercado que pode se beneficiar da demanda crescente por snacks
saudáveis.
Como já citado, embora o investimento inicial seja alto com
a implantação do sistema de cultivo e insumos, o retorno financeiro é rápido,
pois a demanda por este produto diferenciado é constante. Mas, o produtor deve
desprender parte do lucro dividindo os gastos em despesa fixa (80% do total das
despesas), associado ao uso de mão de obra e depreciação permanente e despesa
variável (20% do total das despesas), associado à preparação do solo,
irrigação, mão de obra, colheita e insumos.
Os custos para implantação do cultivo em hidroponia podem
ser de 40 até 120% superiores em relação ao cultivo em campo aberto, dependendo
do grau de tecnificação do ambiente protegido, dos insumos aplicados, da mão de
obra necessária, entre outros fatores.
O rendimento bruto médio cresce os olhos do produtor,
podendo chegar a altos valores por ciclo, mesmo apresentando elevado
investimento inicial, o cultivo de variedades ou híbridos gourmet de tomates se
tornou um ótimo nicho de mercado.
No campo
Em demonstração de seu potencial, o produtor Abedias Camargo
de Oliveira está apostando no tomate Tigre, uma variedade do grape gourmet. A
colheita começou em julho, quando o tomate ainda apresentava um tom mais verde.
Depois de alguns dias, ao ocupar as prateleiras de mercados
de todo o Brasil, ele vai atingir a tonalidade ideal, que é a marrom. E esse é
o diferencial pelo material possuir um ótimo pós-colheita. Se o tomate salada é
vendido pelo produtor a R$ 3,50, o Tigre sai por R$ 4,50. Abedias está na
segunda safra e animado com o investimento.
Outro exemplo é Alex Tetsushi Watanabe Nakaya, produtor
rural em Capão Bonito (SP), no Sítio Watanabe. Atualmente, ele tem 11.000 m² de
produção de tomates gourmet, sendo sua produtividade de 5,0 kg por
planta de tomate tigre.
A vantagem, contudo, é percebida no mercado, pois dentre as
linhas de tomate gourmet, o benefício em produzir os tomates Tigres grape
também é nítida, pois o preço da bandeja de 300 gramas do tomate Tigre gira em
torno de R$ 8,95 a R$ 9,90.
Apesar de elevados investimentos em instalações,
equipamentos, insumos e mão de obra, a tomaticultura gourmet tecnificada
possibilita alto retorno financeiro, pois o valor pago pelos frutos pode
ultrapassar 500%, comparado aos frutos tradicionais, permitindo rápido retorno
ao capital investido.
– Tomate Green Zebra – Tigre
– Segmento: coquetel
– Características: aspecto tigrado ou rajado que se
apresenta em sua casca no estado verde. As listras são muito pronunciadas e
mudam para uma cor laranja quando maduras, apresentando uma polpa de coloração
desde o vermelho intenso, chegando ao marrom, mas também há no mercado
coloração amarela e chocolate,
– Peso:50 g cada.
– Sabor: atinge 8,38º Brix
–
apresenta uma acidez equilibrada
–
extremante saboroso
–
paladar agridoce