As florestas plantadas ocupam uma área de 10 milhões de
hectares (IBGE). O Brasil lidera o ranking global de produtividade florestal,
com uma média de 35,7 m³/ha/ ano para os plantios de eucalipto e 30,5 m³/ha/ano
de pinus (Indústria Brasileira de Árvores, 2016).
Esses valores são quase duas vezes maiores do que a
produtividade das florestas em países do hemisfério norte. Apesar de ocupar uma
pequena parcela do território nacional (aproximadamente 1% da área), o setor é
responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País.
Em 2016, último ano do levantamento do IBGE, o valor da produção
primária florestal alcançou R$ 18,5 bilhões, superando em 0,8% o montante
obtido no ano anterior. A silvicultura segue ganhando espaço, respondendo por
76,1% desse total, enquanto o extrativismo vegetal teve uma participação de
23,9% (IBGE). Neste mesmo ano, o setor empregou diretamente 510 mil pessoas.
Demanda
A demanda por produtos florestais do Brasil, de forma geral,
cresceu consistentemente nos últimos 10 anos, embora com diferentes taxas por
segmentos. Aqueles com maior crescimento de demanda de 2006 a 2016 foram:
painéis (7,7% a.a.), celulose (4,3%), papel (3,2%), enquanto madeira serrada
teve crescimento baixo (1,1%), e as cadeias de energia (0,5%) e carvão vegetal
(-5,1%) encolheram. Os fatores que determinam a demanda também variam.
Entretanto, há décadas vem crescendo a possibilidade de uso
dessa madeira para fins mais nobres do ponto de vista do uso direto, em que ela
é valorizada como produto e não como matéria-prima, alcançando remunerações bem
maiores. Isto se torna mais interessante com a redução da oferta e apelo por
manejo sustentável de madeiras nativas e seu consequente encarecimento, o que
naturalmente gera demanda nas florestas plantadas.
Um exemplo é a existência, hoje, de áreas consideráveis de
eucalipto e pinus de várias empresas, com volumes significativos de madeira com
potencial para serraria, que já vem há bastante tempo sendo manejada para esse
fim, por diferentes métodos.
Surge, assim, a oportunidade de explorar adequadamente esses
recursos, criando novas e valiosas opções de mercado, para aumento de receita
ou para conciliar a produção florestal com restrições de uso por motivos
ambientais. Estas novas situações permitem a adoção de novos modelos para as
atividades florestais, direcionando parte dos reflorestamentos à produção de
madeira em ciclos mais longos, o que permite o uso do ambiente florestal com
outras atividades, de forma mais conveniente do que o tradicional corte raso em
áreas extensas.
Conceito
A função de produção (benefício direto) passou a ser
dissociada das funções de proteção e recreação (benefícios indiretos). O
conceito de uso múltiplo da floresta, porém, é o conjunto de todas estas
funções. A produção inclui a extração e utilização de outros produtos da
floresta, além da madeira: folhas, flores, sementes, casca, resinas, galhos,
etc.
Multiprodutos da floresta ou subprodutos da madeira e do
carvão, ou benefícios indiretos da floresta em pé, passam a assumir importância
econômica principalmente em épocas de busca de otimização, eficiência e
harmonia entre produção e conservação do ambiente, conjugando lucro com
benefícios sociais.
A produção de madeira serrada é feita em escala comercial
por muitas empresas do Sudeste e do Sul, principalmente as verticalizadas, que
a utilizam na composição de outros produtos finais, como painéis, portas,
divisórias e forros. Entre as espécies mais utilizadas estão Pinus elliottii e Eucalyptus saligna hibridado, geralmente resultantes de desbastes
sucessivos em ciclos longos (20 a 30 anos). Neste setor têm-se alta interação
do genótipo com a qualidade final da madeira serrada.
A produção de goma resina é realizada em grande escala,
tradicionalmente explorando florestas de Pinus
elliotlii em processo de desbaste e destinadas às serrarias. A destilação
da goma em diversos subprodutos de alto valor permitiu a formação de indústrias
químicas que fornecem breus e resinas indispensáveis às empresas de papel,
tintas e vernizes, cosméticos e alimentos.
Como a maioria das empresas verticalizadas possui áreas de
produção de sementes e pomares clonais para auto abastecimento e
comercialização de sementes de diversas espécies de eucalipto e pinus, o Brasil
acabou tornando-se exportador para países como Indonésia, Venezuela e China.
Este novo mercado vem tomando destaque nos últimos anos e as vendas alcançando
cada vez mais mercados.
Multiplicidade
Dentro do conceito de uso múltiplo, existem ainda benefícios
diretos pouco explorados e que representam benefício social importante,
principalmente a pequenos produtores. É o caso da utilização da madeira para
construção civil, ferramentas, embalagem, transporte, construção naval,
energia.
Deve-se considerar, ainda, a utilização industrial para fins
medicinais, essências, produtos químicos e resinagem. Nesta modalidade, podemos
enquadrar alguns produtos regionais de importância econômica, como erva-mate,
no Sul e castanha-do-Brasil, babaçu, borracha e outros, no Norte do País.
Neste sentido, existe o manejo florestal comunitário que é o
manejo florestal elaborado e realizado por uma comunidade, que acerta os
interesses comuns e divide as tarefas e os ganhos entre todos.
De maneira isolada, fica difícil e custoso para uma família
elaborar e protocolar um plano de manejo florestal sustentável. Unidas, as
famílias têm maior poder para negociar contratos e conseguir assistência
técnica.
O manejo de uso múltiplo propõe que as comunidades possam
usufruir dos benefícios florestais, durante todo o ano, respeitando os períodos
de colheita e descanso da floresta. Este manejo garante também a continuidade
de remuneração às famílias, pois os períodos de safra dos diversos produtos se
alternam.
Organização
A legislação brasileira permite que as pessoas se organizem
de diversas formas. No caso do manejo florestal comunitário, as associações e
cooperativas são as mais apropriadas.
Existem inúmeros produtos indiretos produzidos a partir da
exploração florestal. A produção de mel de abelhas é tradicionalmente feita por
algumas empresas, para consumo dos funcionários, comercialização e como amostra
de cortesia. Outras empresas têm iniciado criadouros restritos de diversas
espécies, incluindo aves.
O arrendamento de áreas reflorestadas para criadores de gado
é tradicional no meio florestal, que obtém os benefícios de reduzir o
sub-bosque e auxiliar no controle de gramíneas invasoras nos aceiros e
bordaduras. Produtos agrícolas (grãos) têm sido gerados na fase de implantação
florestal, em consórcio nas entrelinhas de eucalipto, pinus, araucária e nativas,
prosseguindo os estudos para desenvolver sistemas agroflorestais adaptados a
situações edafoclimáticas e regionais favoráveis.
A produção de água em microbacias reflorestadas é
considerada um importante produto, pouco divulgado, mas que cada vez mais será
valorizado para abastecimento rural e até urbano, conjugado ou não com
piscicultura para lazer e comercial.
A educação ambiental
tem sido praticada por algumas empresas, junto com escolas básicas ou
secundárias, visando uma integração com a comunidade local, ao propiciar o
contato do homem com a floresta e seus integrantes, de maneira prática. As
empresas têm obtido o reconhecimento da sua importância em conservar a natureza
e produzir recursos naturais renováveis.
Os estudantes se sentem estimulados a uma tomada de
consciência geral sobre os problemas ambientais, compreendendo melhor as causas
e consequências que afetam o homem como indivíduo e sociedade, a nível regional
ou internacional.
Também há que se considerar que a valorização do carbono da cadeia
de base florestal pode ser um forte indutor de demanda adicional por florestas
plantadas e meio de implementação de diversas políticas públicas, de modo
economicamente sustentável. Nesse contexto, ganha relevância o aproveitamento
de mecanismos de valorização econômica do carbono em nível internacional e
nacional, por meio de sistema de precificação de carbono.
É importante promover o uso da madeira em diferentes
atividades produtivas, que sirvam como vetores de demanda, economicamente
viáveis, capazes de estimular e sustentar eventuais aumentos de oferta da
produção florestal e os consequentes benefícios climáticos associados.
Gases
de efeito estufa
Em 2009, durante a COP-15 da Convenção do Clima, em
Copenhague, o governo brasileiro anunciou o compromisso voluntário de reduzir
as emissões de gases de efeito estufa (GEE) entre 36,1% a 38,9%, até 2020.
No setor agropecuário, o governo prometeu cortar as emissões
de GEE entre 133 milhões e 166 milhões de toneladas, de 2010 a 2020, por meio
da recuperação de pastagens degradadas, ampliação dos sistemas de Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Sistemas Agroflorestais (SAF), sistema de
plantio direto na palha, da fixação biológica de nitrogênio, da área com
florestas plantadas e do manejo de dejetos animais.
Para o Acordo de Paris (COP-21 da Convenção do Clima), o
Brasil apresentou metas mais ambiciosas que em 2009. Seu compromisso de redução
de emissões de GEE foi ampliado para 37% até 2025 e para 43% até 2030 (nível de
referência, ano de 2005) no documento denominado ‘Contribuição Determinada
Nacional’ (NDC, sigla do inglês National Determined Contribution).
O Brasil apresentou também uma série de ações a serem
adotadas internamente para atingir tais metas. Uma delas é promover a
restauração e o plantio de 12 milhões de hectares de florestas nas próximas
décadas.
Em 2015 a ONU lançou os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável – ODS, como sequência dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
como parte da Agenda Global 2030. São 17 objetivos e 169 metas, que atuam em
todos os segmentos de vida na Terra.
O objetivo mais obviamente conectado com a atividade
florestal é o ODS 15 – Vida Terrestre’, que visa proteger, recuperar e promover
o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e
deter a perda de biodiversidade.
Entre as metas está a 15.2, que visa promover a
implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas, deter o
desmatamento, restaurar florestas degradadas e aumentar o florestamento e o
reflorestamento globalmente até 2020.
São exemplos de ações relacionadas ao segmento florestal e
que contribuem com estas metas: renda doméstica de famílias locais favorecida
pela produção florestal; manejo de plantas medicinais oriundas da floresta;
produção de água a partir da conservação de florestas; produção de energia
limpa; construções ecológicas com madeira; conservação de áreas verdes em
propriedades florestais; contribuição das florestas plantadas para a
estabilização do clima.
Fomento
As florestas plantadas são, portanto, um destacado setor da
economia brasileira, muito competitivo, fundamentado em bases sustentáveis e
com grande potencial de expansão. No entanto, alguns desafios necessitam ser
superados para gerar maior atratividade de investimentos para a atividade como
um todo.
Entre eles, incluem-se maiores fomentos às atividades de
plantio e manejo de florestas plantadas, além de pesquisas relacionadas à
inserção do componente florestal em atividades agrícolas, como a Integração
Lavoura-Pecuária-Pastagem e Agroflorestas.