Antônio de Pádua Alvarenga
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Fitotecnia e pesquisador cientÃfico da Epamig
padua.alvarenga@gmail.com
A seringueira (heveicultura) pode ser considerada uma das mais importantes alternativas para o Brasil. Em razão de seu grande potencial de atendimento aos critérios de elegibilidade e indicadores de sustentabilidade elaborados pela Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, merece destaque diante das negociações sobre mudanças climáticas globais.
A cultura constitui uma atividade altamente sustentável, enquadrando-se nesses critérios para projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Tratado de Quioto, podendo ser considerada uma forte candidata à geração dos Certificados de Emissões Reduzidas (CERs).
Por se tratar de uma espécie florestal, armazena carbono tirado da atmosfera, sendo que seu produto principal, a borracha natural, também funciona como um armazenador de carbono (o látex possui 90 a 93% de C).
Sustentabilidade
O incentivo ao seu plantio pode levar a uma redução na exploração do petróleo quando da fabricação da borracha sintética (uma tonelada de borracha sintética equivale a 17 toneladas de CO2 na atmosfera), o que é tido no rol de negociações sobre mudanças climáticas como projetos de substituição de uma fonte não-renovável (petróleo) por uma fonte renovável (borracha natural).
De acordo com trabalho realizado, constatou-se que a seringueira é capaz de capturar 0,558 t/árvore de CO2 eq. e que sua contribuição na melhoria das condições de ambiente pode servista sob os seguintes aspectos:
ð Duas árvores de seringueira neutralizam uma tonelada de CO2 emitida na atmosfera num período de contabilização (caso específico deste estudo de 15 anos).
ð O Brasil hoje possui aproximadamente 170.000 ha plantados com a cultura da seringueira, equivalendo a 85.000.000 de árvores. Isso resulta em 47.430.000 toneladas de carbono resgatado ou sequestrado.
ð Considerando a demanda atual do Brasil em borracha natural, seria necessário o plantio aproximado de 510.000 hectares, equivalendo a 255.000.000de árvores, o que resgataria 142.290.000 toneladas de carbono.
Mitigação
No Art. 12 da Lei 12.187 de 29/12/2009, o Brasil, para alcançar os objetivos da PolÃtica Nacional sobre Mudanças Climáticas (PNMC), adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas a reduzir 38,9% suas emissões projetadas até 2020,em relação ao cenário tendencial de crescimento de 3.236 milhões de toneladas de CO2 eq. da seguinte forma:
I ” Mudança de uso da Terra: 1.404 milhões de toneladas CO2 eq.
II ” Energia: 868 milhões de toneladas de CO2 eq.
III ” Agropecuária: 730 milhões de toneladas de CO2 eq.
IV ” Processos industriais e tratamento de resíduos: 234 milhões de toneladas de CO2 eq.
Na Compensação de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), o Art. 6º Decreto nº 7.390 de dezembro 2010, que regulamenta a PolÃtica Nacional sobre Mudanças do Clima estabelece ações a serem implementadas para o compromisso nacional voluntário em reduzir até 1.259 milhões de toneladas de CO2 eq.,aparticipação da cultura da seringueira nesse compromisso é fundamental:
ü Atualmente captura 47 milhões de toneladas de CO2 eq.= 4% do compromisso nacional
üNecessidades atuais 142 milhões de toneladas de CO2 eq. = 11% do compromisso nacional
ü2020 = 700.000 ha = 195 milhões de toneladas de CO2 eq. = 15% do compromisso nacional
ü2030 = 1.020.000 ha = 248 milhões de toneladas de CO2 eq. =21% do compromisso nacional
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No pódio
A seringueira se encontra em primeiro lugar em estudos de estoque de carbono, quando comparada a qualquer outra espécie já estudada.O cultivo da seringueira, se comparado ao da maioria das culturas anuais que faz uso intensivo de mecanização, tanto no preparo de áreas como na colheita, constitui um tipo de aproveitamento do solo extremamente desejável do ponto de vista ecológico.
Trata-se de uma cultura que protege o solo e os mananciais e fornece madeira no final de sua vida útil produtiva. A copa da seringueira fornece um tipo de proteção ao solo, reduzindo o impacto do sol, da chuva e dos ventos, e também lançando raízes em um nível mais profundo que as culturas anuais.
Seu produto final, a borracha natural, possui quantidades Ãnfimas de elementos químicos exportados e, consequentemente, retira quantidade menor de nutrientes por unidade de superfície de solo. E a cultura da seringueira constitui ainda um substituto aceitável da floresta nativa, em termos de meio ambiente, pois é um ecossistema fechado, com ciclos constantes de absorção e devolução de nutrientes ao solo.
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Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Floresta, edição de janeiro/fevereiro 2018. Adquira a sua para leitura completa.