Abelhas-sem-ferrão ajudam na polinização de hortaliças em estufas

Abelhas-sem-ferrão ajudam na polinização de hortaliças em estufas

Caio Xavier dos Santos
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Sinara de N. Santana Brito
Engenheira agrônoma e mestra em Agronomia/Horticultura – na Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Horticultura – UNESP
harleson.sa.monteiro@unesp.br

A polinização desempenha um papel crucial na produção agrícola, especialmente em ambientes controlados, como estufas, onde as hortaliças são cultivadas. Nesse contexto, as abelhas-sem-ferrão são agentes eficientes desse processo, contribuindo significativamente para o aumento da produtividade e qualidade dos cultivos.

Com características particulares, essas abelhas nativas apresentam comportamento social complexo e adaptabilidade aos ambientes protegidos.

Benefícios

A utilização de abelhas-sem-ferrão na polinização de hortaliças em estufas oferece diversos benefícios significativos. Em primeiro lugar, elas são altamente eficientes na polinização de diversas culturas, o que pode resultar em um aumento significativo na produtividade das culturas.

Sua capacidade de visitar as flores de forma eficiente e realizar a transferência de pólen entre as plantas é fundamental para garantir a fecundação e o desenvolvimento adequado dos frutos.

Proporciona, também, a redução dos custos de produção, em comparação com métodos de polinização manual ou o uso de polinizadores artificiais. Além disso, as abelhas-sem-ferrão são menos defensivas em comparação com outras espécies, o que as torna mais seguras e fáceis de manejar em ambientes de cultivo protegido.

Sua sociabilidade e comportamento menos agressivo também contribuem para um ambiente de trabalho mais seguro para os agricultores e trabalhadores envolvidos na produção de hortaliças em estufas.

Inovações

A pesquisa sobre a polinização por abelhas em cultivos protegidos adaptou as informações para as condições específicas das estufas brasileiras, levando em consideração diversos fatores relevantes para a realidade agrícola do país.

A adequação das informações às condições brasileiras envolveu a consideração de aspectos como a diversidade de culturas, a disponibilidade de polinizadores nativos e as práticas de manejo adotadas pelos produtores.

Outro aspecto relevante foi a disponibilidade de polinizadores nativos. A pesquisa considerou a escassez de agentes polinizadores nativos em vários habitats no Brasil, o que tem levado muitos agricultores a recorrer a técnicas de polinização artificial.

Nesse contexto, a adaptação das informações buscou destacar o potencial das abelhas como alternativa viável para suprir a demanda por polinizadores em estufas brasileiras, enfatizando as vantagens das abelhas-sem-ferrão e outras espécies nativas como polinizadores eficientes e adaptados às condições locais.

Os principais desafios enfrentados na oferta de colônias de abelhas-sem-ferrão em cultivos protegidos, como estufas, apresenta desafios específicos que precisam ser considerados para garantir a eficiência e sustentabilidade dessa prática, como: legislação; logística; distribuição e manejo.

Eficiência

As abelhas-sem-ferrão, pertencentes à família dos meliponíneos, foram identificadas como polinizadores eficazes para diversas culturas, incluindo hortaliças, em ambientes protegidos. A presença dessas abelhas na polinização de hortaliças demonstrou diversos impactos significativos, tais como:

Aumento da produtividade: a eficiência dessas abelhas na transferência de pólen entre as flores contribuiu para uma maior taxa de frutificação e, consequentemente, para um aumento na quantidade de hortaliças produzidas.

Melhoria na qualidade das hortaliças: foi observada melhoria na qualidade do produto final. Isso se deve à eficiência no processo de polinização, que resultou em hortaliças mais uniformes, bem formadas e com melhor desenvolvimento, tornando-as mais atrativas para o mercado e com maior valor comercial, na maioria das hortaliças herbáceas (folhosas), fruto e tuberosas.

– Maior uniformidade na produção: as plantas produziram frutos mais consistentes em termos de tamanho, formato e maturação, o que é altamente desejável para a comercialização e atende às demandas do mercado.

– Redução da dependência de polinização manual: a presença dessas abelhas como polinizadores eficazes oferece uma alternativa mais sustentável e econômica para garantir a polinização adequada das culturas, sem dependência de mão de obra humana.

Espécies sem ferrão

Dentre as abelhas-sem-ferrão que mostraram melhor eficácia e trouxeram melhores benefícios paras as hortaliças, até então, podemos destacar as seguintes:

Melipona subnitida (jandaíra ou jandaíra do nordeste): tem sido utilizada com sucesso na polinização de pimentão em ambientes fechados. O uso dessas abelhas para a polinização do pimentão em estufas demonstra sua eficácia na transferência de pólen e no aumento da produtividade dessa cultura.

Nannotrigona testaceicornis(iraí): utilizada com sucesso na polinização de morangos (Fragaria x ananassa) em ambiente protegido. Estudos demonstraram que os frutos oriundos de flores polinizadas por Nannotrigona testaceicornis ficaram mais pesados em comparação àqueles produzidos em ambientes sem a presença dessas abelhas. Isso ressalta a importância dessas abelhas na polinização de morangos cultivados em estufas.

Apis mellifera(abelha-europeia): embora as abelhas Apis mellifera sejam mais comumente associadas à polinização em campo aberto, também têm sido utilizadas com sucesso na polinização de hortaliças em estufas. Experimentos realizados em diversos países demonstraram que a presença delas aumentou o peso médio dos frutos de culturas como tomate (Solanum lycopersicum) e melão (Cucumis melo).

Tetragonisca angustula (jataí): esta espécie é, até então, a mais utilizada em estudos nos ambientes protegidos. Estudos realizados no Brasil demonstraram que a presença de colônias de jataí aumentou significativamente a produção de tomates em estufas. Além disso, a presença dessas abelhas também aumentou a qualidade dos frutos, com maior uniformidade de tamanho e formato.

Outro estudo realizado no Brasil avaliou a eficácia da jataí na polinização de pimentão em ambiente protegido. Os resultados mostraram que a presença dessas abelhas aumentou a produção de frutos em 30% em comparação com plantas que não receberam visitas de polinizadores.

E na agricultura periurbana, tem-se instalado caixas para o estabelecimento da espécie, com o intuito de ajudar na polinização das culturas.

Evolução

O primeiro grande passo da implantação é conhecer as espécies de abelhas-sem-ferrão e implementá-las de acordo com a sua cultura desejada. Isso permitirá a seleção das espécies mais adequadas para a polinização das culturas específicas cultivadas nas estufas.

Para dar início ao cultivo, uma boa estratégia é a instalação de ninhos artificiais para atrair e abrigar as abelhas-sem-ferrão nas estufas. Esses ninhos podem ser feitos de materiais naturais, como bambu e madeira perfurada, e posicionados estrategicamente para proporcionar um ambiente propício para a nidificação das abelhas.

Para garantir a disponibilidade de recursos alimentares, como néctar e pólen, é essencial atrair e manter as populações de abelhas-sem-ferrão nas estufas. Os agricultores podem plantar espécies floríferas atrativas ao redor das estufas e dentro delas, criando assim um ambiente favorável para as abelhas.

Os agricultores devem realizar monitoramento regular das populações de abelhas-sem-ferrão nas estufas para avaliar sua abundância e atividade. Isso pode ser feito por meio de observação direta, com armadilhas de captura e registros de visitas às flores das culturas.

Cuidados

Diferentes espécies de abelhas-sem-ferrão podem apresentar preferências por determinados tipos de flores, e a escolha correta das espécies pode maximizar a eficiência da polinização.

Os produtores devem garantir que o ambiente das estufas seja adequado para as abelhas-sem-ferrão, proporcionando condições favoráveis para o estabelecimento e atividade das colônias. Isso pode incluir a disponibilidade de locais de nidificação adequados, acesso a recursos alimentares e a minimização de fatores estressantes que possam afetar a saúde das abelhas.

O manejo adequado das colônias de abelhas-sem-ferrão é essencial para garantir sua saúde e atividade polinizadora. Isso pode envolver práticas como a manutenção de colmeias saudáveis, o controle de pragas e doenças, e a oferta de suplementação alimentar quando necessário, para garantir a disponibilidade de recursos para as abelhas.

Ainda, é necessário que os produtores e trabalhadores envolvidos na operação das estufas recebam capacitação e treinamento adequados sobre a utilização de abelhas-sem-ferrão para a polinização.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br