Ácidos húmicos e fúlvicos com trichoderma no sulco de plantio

Ácidos húmicos e fúlvicos com trichoderma no sulco de plantio

Isaías Antonio de Paiva
Consultor e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
paiva.isaiasantonio@gmail.com

As substâncias húmicas (SH) são originadas da decomposição do material orgânico. Diante das características de solubilidade das SH, tem-se conhecimento que os ácidos húmicos e fúlvicos são os mais solúveis e, consequentemente, mais reativos quando estão na solução do solo.

Ação das SH no solo

 As SH podem melhorar a qualidade física do solo, por meio da maior capacidade de retenção de água e consequente aeração e estabilidade física. Assim, torna o solo mais coeso e menos propenso à erosão.

Também interferem nas propriedades químicas do solo, ao agirem diretamente no aumento da capacidade de troca de cátions do perfil.

Quando aplicar

 Os ácidos húmicos e fúlvicos são aplicados no sulco de plantio no momento da semeadura/plantio. A prática pode ser realizada com o popular “micron”, jato dirigido sobre a linha de semeadura, e em alguns casos, como no de plantios de mudas, a utilização pode ocorrer com pulverizadores adaptados para aplicação de jatos localizados.

Como dito anteriormente, os ácidos húmicos e fúlvicos podem melhorar as condições do solo na região em que são utilizados, o que promove maior velocidade de germinação e emergência das plantas.

O Trichoderma

Outro elemento com crescente utilização nas aplicações em sulco de plantio é o fungo Trichoderma. Ele rapidamente coloniza a semente e a região da rizosfera da planta. Dessa forma, o fungo benéfico, junto aos ácidos húmicos e fúlvicos, exercem grandes benefícios à planta.

Ao colonizar a rizosfera rapidamente o Trichoderma protege o sistema radicular da planta do ataque de patógenos e nematoides de solo, principalmente os mais agressivos, como os grupos: Meloidogyne, Heterodera, Pratylenchus e Rotylenchulus.

Além disso, protege dos patógenos que causam podridões de raízes e colo (Rhizoctonia, Pythium sp., Phytophthora, Fusarium sp., Scleriotinia sclerotiorum e Ralstonia), que são um grande problema para as culturas hortícolas.

Com a infestação rápida do Trichoderma, esses outros organismos patogênicos não conseguem acessar a região radicular da planta devido à competição por espaço e substrato.

Relação com o enraizamento

Ao colonizar a rizosfera, o Trichoderma aumenta drasticamente a área superficial específica das raízes, pois agora a absorção passa a ser feita pelas raízes e também pelas hifas do fungo.

Essas hifas são ainda mais finas que as raízes e conseguem acessar regiões que as raízes não alcançam. Dessa forma, a absorção de nutrientes é aumentada.

Um fato interessante é que o Trichoderma, além de aumentar o volume do sistema radicular (semelhante a um aplique de cabelo, “mega hair”), também libera exsudatos, o que acidifica a zona radicular (rizosfera).

Ao acidificar a zona radicular por meio dos exsudatos, o fósforo (P) que estava inerte acaba sendo dissolvido da fração sólida do solo e passa a compor a solução do perfil. Dessa forma, a planta agora conseguirá absorver o fósforo solúvel por meio de seus sistemas radiculares.

Efeito duplo

Os ácidos húmicos e fúlvicos induzem o aumento na taxa de produção de auxina, o que acelera consideravelmente o desenvolvimento do sistema radicular e, como consequência, a velocidade e emergência das plantas.

Além disso, devido à colonização da rizosfera com o Trichoderma, temos um efeito duplo no aumento da velocidade de germinação e emergência.

Nos vegetais, foram verificadas diversas mudanças no comportamento hormonal e metabolismo. Os ácidos húmicos e fúlvicos possuem a capacidade de alterar o metabolismo primário das plantas, especialmente em relação às atividades enzimáticas gligolíticas e ao ciclo dos ácidos tricarboxílicos, acelerando as reações metabólicas das plântulas.

Assim, aumenta a assimilação de C e N, produzindo mais proteínas, aminoácidos, ácidos nucleicos, bem como sintetizando compostos energéticos formados basicamente de C, fazendo com que o crescimento e desenvolvimento das plantas se torne acelerado.

Plantas mais fortes

Por apresentarem uma elevada taxa de multiplicação e consequente desenvolvimento radicular, as plantas que estão sob aplicação de ácidos húmicos e fúlvicos com Trichoderma no sulco de plantio ficam menos suscetíveis a veranicos.

Isso porque essas plantas rapidamente desenvolvem um sistema radicular volumoso e profundo (desde que não tenha problemas de compactação ou acidez elevada no solo). Poucos dias após a semeadura, as plantas podem apresentar sistema radicular perto dos 20 cm de profundidade, garantindo o suprimento adequado de água à planta em situações de veranicos.

Resultados de pesquisas

Como demonstrado, os ácidos húmicos e fúlvicos e o Trichoderma podem agregar diversas vantagens quando utilizados no sulco de semeadura/plantio. Os principais benefícios destacados pelas pesquisas são: redução de efeitos negativos do Mn sob estresses hídricos, maior número de folhas, aumento de conteúdo de proteínas totais, maior índice de crescimento e maiores rendimentos, incremento da emergência de raízes laterais, menor severidade de doenças de solo, economia em produtos fitossanitários e manutenção da produtividade em situações adversas.

Cuidados

Entretanto, devemos tomar cuidado com o uso e posicionamento dos produtos comerciais. Na literatura, é encontrada uma gigantesca variabilidade de resultados que, na maioria dos casos, dependem das seguintes variáveis para funcionar:

– Origem dos ácidos húmicos e fúlvicos;

– Espécie que serão aplicados;

– Tipo de solo,

– Condições de aplicação (estufa ou a campo);

– Doses utilizadas e,

– Condições climáticas no momento da aplicação.

Mitos e verdades

É muito comum ouvir relatos sobre a ineficiência de aplicações, porém, na maioria dos casos, quando vemos as condições em que foram realizadas, estão totalmente fora das recomendações técnicas dos fabricantes e também da literatura.

Por exemplo, o Trichoderma é um fungo, por isso, precisa de condições de temperaturas elevadas (25 – 30ºC) e umidade do solo elevada próximo à capacidade de campo.

Quando é feita a anamnese com o produtor ou responsável, percebe-se que a aplicação foi realizada com uma temperatura de 35ºC e houve alguns dias de veranico, ou que no transporte do produto da loja até a fazenda ele foi deixado sob sol a pino na carroceria da pick-up, onde a temperatura chega facilmente a 35 – 40ºC.

Nesses casos, será que sobraram fungos vivos para colonizarem a planta? Provavelmente, bem menos do que o informado pelo fabricante.

Dicas importantes

Para que a aplicação de ácidos húmicos, fúlvicos e também do Trichoderma no sulco de semeadura/plantio seja eficaz, de acordo com a literatura atual, é necessário que sejam adotadas as recomendações dos fabricantes/revendedores dos produtos.

De maneira geral, eles devem ser aplicados no tratamento de semente, ou no popular “sulco de plantio”. Além disso, é importante conhecer a composição (o que mais existe na solução, além dos ácidos), a característica física (líquido ou turfoso) e química (índice salino e pH) das substâncias húmicas, afim de evitar problemas de incompatibilidade com o Trichoderma e a rizosfera da futura plântula.

O caminho

Existe uma grande variabilidade de pesquisas sobre o tema, mostrando que o tipo de solo, cultura, época de aplicação, material de origem e condições edafoclimáticas da aplicação interferem significativamente na eficiência da utilização desses elementos. Portanto, existem dois caminhos.

No primeiro, o produtor ou técnico responsável podem, por conta própria, estudar o assunto afim de obter o posicionamento adequado para a utilização dos produtos. Entretanto, os materiais disponíveis estão, em sua maioria, em inglês e de forma muito segmentada, o que dificulta a formação de opinião.

O segundo caminho, e mais aconselhável, deve seguir as recomendações do profissional que lhe fez a venda. As revendas agrícolas contam com assistentes e consultores agronômicos que auxiliam nas aplicações. Em caso de dúvidas, procurar um profissional de confiança é sempre aconselhável.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br