Cultivo de morango em substrato ou em “semi-hidroponia”

Cultivo de morango em substrato ou em “semi-hidroponia”

Heitor A. Pagnan
Engenheiro agrônomo – Maxxi Mudas

Nos últimos 20 anos a cultura do morango obteve vários avanços, principalmente em cultivares, técnicas de manejo e de produção. Esses avanços possibilitaram que a cultura se expandisse em muitas regiões do país que não tinham tradição no seu cultivo.

Destacamos como principal fator a introdução de novas cultivares, que através de suas características fisiológicas e genéticas, possibilitaram seu cultivo e adaptabilidade em regiões desde próximo ao nível do mar, como Feliz (RS), até altitudes de 1.600 metros, como no Sul de Minas Gerais e Santa Catarina.

Associadas a tecnologias como irrigação por gotejamento, fertirrigação e cobertura plástica (micro túneis), houve um avanço grande na produtividade, qualidade e oferta do produto no mercado durante o ano todo.

Tecnologias

A busca por novas tecnologias e sistemas de produção de morangos tem sido uma constante entre os produtores, a fim de facilitar e melhorar suas vidas. E aí entra a produção de morangos cultivados em substrato, ou o que comumente se chama de “cultivo semi-hidropônico”.

Desde o ano de 2000, produtores da serra gaúcha iniciaram plantios de morango em substrato com casca de arroz queimada ou tostada em bancadas em forma de pirâmide colocando cinco prateleiras.

Todavia, observou-se que as plantas da parte inferior, que recebiam menos luminosidade, produziam bem menos. O sistema foi sendo adaptado de tal forma que hoje se utilizam bancadas com duas linhas de “slabs”, ou travesseiros, a uma altura de aproximadamente um metro do solo.

Essas duas linhas estão migrando para uma só. Agora, nota-se um avanço do sistema de calhas, ou seja, as plantas ficam todas no mesmo nível. Dessa forma, as plantas recebem luz uniformemente, melhor ventilação, facilitando o manejo e a colheita.

Como exemplo, numa estufa com 5,0 m de largura e 50 m de comprimento pode-se colocar quatro bancadas com duas linhas de “slabs” ou calhas, cada uma, num total, em média, de 2.400 plantas, ou seja, em torno de seis plantas por metro linear (se considerada a cultivar San Andréas).

Se forem sete mudas por metro, atingem-se 2.800 mudas. Dessa forma, pode-se colocar de 2 a 2,5 vezes mais plantas por hectare se comparado ao plantio no solo.

Entenda melhor

Alguns motivos que fizeram os produtores migrarem para esse sistema de bancadas:

– O uso sucessivo do solo sem a devida rotação de culturas e manejo inadequado tem aumentado a quantidade de fungos e nematoides danosos à cultura do morango;

– Adubações e calagens pesadas tornaram o solo desequilibrado;

– Dificuldade na obtenção de mão de obra para trabalhar nessa cultura;

– Na bancada, a pessoa trabalha de forma ereta;

– O sistema de bancadas facilita os tratos culturais, limpeza da planta e colheita;

– O sistema proporciona uma melhor ventilação na planta, diminuindo a temperatura e a incidência de doenças e pragas;

– Após a montagem desse tipo de estrutura, ela pode durar vários anos, tendo assim seu custo diluído.

Limites

É importante salientar que estamos tentando imitar o solo. E, nessa tentativa, pode-se cometer muitos enganos.

Por isso, nossa recomendação é que se comece aos poucos, não migrando totalmente do plantio no solo para as bancadas.

Um dos principais erros está relacionado ao substrato e adubações utilizadas. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, usa-se a casca de arroz carbonizada, por ser uma fonte disponível e barata.

Essa casca, após ser queimada, possui uma EC (condutividade elétrica) muito alta, podendo chegar a 6,0 mS/cm. O ideal, no plantio do morango, é que essa medida fique no máximo em 1,0 mS/cm.

Com 6,0 mS/cm A MORTE DA PLANTA É CERTA. O pH, nessa casca queimada, pode se situar entre 8,0 a 9,0 o que também pode levar a muda de morango à morte. O ideal é que o pH fique em torno de 6,0.

Caso esses dois parâmetros não estejam adequados, isso ocasiona a queima das radicelas novas, o desgaste prematuro das reservas da muda de morango pela não absorção de todos os nutrientes, bem como sintomas de fitotoxicidade com a queima das bordas das folhas, definhamento e até mesmo a morte da planta.

Próximo passo

Sendo observado isso e depois de um parecer de um agrônomo ou técnico, normalmente lava-se esse substrato até que os padrões ideais sejam atingidos. Isso pode levar alguns dias. O produtor só deve começar esse sistema se possuir o aparelho chamado condutivímetro e um peagâmetro.

Se o produtor optar por construir seu próprio “slab” ou encher a calha, a casca de arroz e outros produtos que forem misturados, que servirão de substrato, devem ser adquiridos com bastante antecedência, devendo os mesmos permanecerem amontoados a céu aberto para que a água da chuva promova sua lavagem e estabilização.

Muitos produtores têm preparado o substrato em momento anterior à chegada das mudas, ocasionando seríssimos problemas de mortandade de mudas.

O substrato tem que reter umidade, porém, não pode encharcar. Em função das adubações via água serem frequentes, com o decorrer do tempo poderá haver acúmulo de sais e aumento da EC (condutividade elétrica). Por isso, o substrato deve ser suficientemente poroso para que esse excesso de sais seja expulso pela lavagem do material.

Nunca se esqueça

Não faça isso sozinho sem ter algum conhecimento e os equipamentos para medição. Atualmente, muitas empresas estão colocando no mercado substratos prontos, já ensacados em “slabs” ou para fornecimento a granel, com misturas mais padronizadas e prontas para plantio. Atualmente, observam-se excelentes produtos à disposição do produtor de morango.

A nutrição deve ser feita com adubos que se aproximem da solubilidade máxima em água, disponibilizando todos os macros e micronutrientes necessários para planta. Não existe uma “receita de bolo” pronta para ser usada. Portanto, deve procurar orientação técnica.O excesso ou falta de alguns nutrientes vai desequilibrar ou causar fitotoxicidade na planta. Portanto, deve procurar orientação técnica.

A qualidade da água é um dos fatores de maior importância nesse tipo de cultivo. Águas paradas de açudes com pouca oxigenação ou mesmo de córregos podem ser um meio de contaminação de pragas e doenças.

É importante uma análise da água antes de se iniciar esse tipo de cultivo. Em alguns casos, observou-se excesso de sódio, que é um sal que pode matar a muda de morango.

Muda de morango: essencial para o sucesso da lavoura

De nada adiantará toda uma estrutura instalada se o essencial não for feito: muda de morango de boa qualidade.

Nesse sentido, a Maxxi Mudas tem participado deste processo de melhoramento e evolução, ofertando aos produtores de todo Brasil, mudas de qualidade produzidas na Patagônia Argentina e Segóvia-Espanha, bem como a introdução de novos materiais desenvolvidos por programas de melhoramento genético.

Com mudas sadias e de boa procedência, essas plantas irão produzir mais tempo, com maior produtividade e qualidade, aproveitando todo o potencial produtivo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br